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Crítica | Predadores Assassinos

Não que faça uma tremenda diferença quando se está entre a vida e a morte, mas curioso notar que Predadores Assassinos trata-se de um dos poucos filmes de terror de sobrevivência estrelados por jacarés, e não crocodilos. Independente desta distinção, o longa de Alexandre Aja, cineasta francês que cresceu como realizador nos últimos anos, é um dos melhores exemplares em anos a focar nos gigantes répteis assassinos por manter-se simples em suas intenções.

Apesar de intenções modestas como “filme de monstro”, há muito talento em exibição e que sustente a trama básica e previsível. Na realidade, o fio que liga cada uma das cenas de ação não necessitava ser mais do que é, já que faz um bom trabalho de estabelecer a relação que a protagonista Haley (Kaya Scodelario) tem com a água, o espaço de sua antiga casa e a existência de um tornado de categoria 5 que irá despedaçar o lugar em questão de minutos.

Como não há muito tempo a perder enquanto a garota tenta salvar seu pai Dave (Barry Pepper) e seu cachorro do cataclisma, tudo assume um ritmo mais objetivo, que pode até ser confundido com falta de sofisticação. Por mais que diversos projetos usem da falta de pretensão como uma muleta para justificar suas limitações, este não é um deles. Assim que os jacarés entram em cena, Aja usa da objetividade para colocar sua máquina em pleno funcionamento, o tempo todo.

A eficiência da protagonista é alcançada pela proficiência assassina dos bichos, e vice-versa, o que acentua a tensão durante a tentativa de fuga do local agora inundado pelas tempestades. Apesar da tentativa cafona de transformar esta em uma mensagem de empoderamento – “sou a porra de uma megapredadora”, é isso que se vê plenamente na tela, com uma pobre humana que dá o seu melhor neste jogo de gato e jacaré ininterrupto através de dois ou três cômodos da mesma casa.

O espaço cênico limitado seria uma grande armadilha caso Aja não contasse com um set tão dinâmico, que embora não seja nenhuma sala megalomaníaca de Escape Room, sempre se transforma conforme a tempestade atinge maior intensidade. Desde sustos inesperados – como a árvore que invade uma cena sem aviso – até a mudança completa na navegação dos espaços, do rastejamento ao nado à tentativa de chegar em solo alto, a mesa sempre vira em uma frequência entusiasmada.

Alguns até devem ver alegorias mais cotidianas em meio a esta solução ininterrupta de problemas que os personagens realizam, como em um irônico momento no qual, após quase cumprirem seu objetivo maior, voltam ao exato mesmo lugar onde estavam por conta da tempestade. Como a protagonista e seu pai encontram tempo de tratar das questões pessoais em meio à fuga dos répteis, fica a sugestão um tanto cômica de que este é só mais um dia estressante em suas vidas no estado da Flórida.

A falta de uma presença antagonista grotesca é outro fator que teria talvez removido um certo impulso dianteiro do longa, mas ao transformar os oponentes no que eles são, animais, existe um quê refrescante nesta aventura que surge completamente descarregada de maiores exageros. O dano infligido pelos animais já choca por si só, mas nem mesmo as mutilações e mordidas são retratadas com exagero ou mesmo sadismo, o que é uma surpresa considerando o início de Aja no horror gore extremo.

O que de fato impede Predadores Assassinos de tornar-se um grande filme de sobrevivência é a sensação latente de que tudo seguirá um caminho pré-estabelecido na cartilha de outros longas da mesma espécie. Apesar da natureza gráfica da violência, este longa tem um coração de cinema pipoca crowdpleaser, e logo se percebe onde cada ponto da simples trama irá se conectar para fornecer algumas gratificações momentâneas e aquela definitiva que virá ao final da obra.

Mas tão redundante quanto o título Predadores Assassinos é qualquer tentativa de desmerecê-lo por seu comprometimento com este tipo de cinema. Assim como certas pessoas não vão aos parques de diversão para sobrecarregar seus psicológicos e embaralhar seus sentidos, e sim para desfrutar de uma emoção mais efêmera, poucos irão a Predadores Assassinos à procura de um exemplar mais rústico como aqueles que se fazem na Austrália. No entanto, estes bichos ainda mordem.

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