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Crítica | Rambo: Até o Fim

Quase quarenta anos após a estreia de Rambo: Programado para Matar, a franquia chega a uma suposta conclusão com Rambo: Até o Fim. Prometendo diferenciar-se, em parte, das três sequências anteriores, repletas de tiroteios explosivos, era de se esperar uma volta às origens, espelhando aspectos do original de Ted Kotcheff. No entanto, aqui isso se confunde como uma ida ao genérico, apostando num imaginário limitado que não dá conta de explorar os conflitos e traumas que o personagem carrega consigo e, por conta disso, tornando-o apenas em mais um brucutu vingativo qualquer interpretado por Sylvester Stallone.

Assim como o quarto capítulo, Rambo: Até o Fim busca exaltar o heroísmo de seu protagonista através de efeito de comparação com cenas de violência exploratórias, aqui sofridas por sua protegida Gabriela (Yvette Monreal) nas mãos dos vilões que a sequestram. Na pior tradição de um cinema de vingança, com cenas repetitivas de violência física e abuso sexual direcionados às mulheres, o roteiro do próprio Stallone com Matthew Cirulnick mais parece emular um capítulo perdido da série Desejo de Matar, em que a catarse final da retribuição é associada ao volume de violência sofrida pelos entes queridos.

Se Busca Implacável aliviava tais aspectos equivocados com um ritmo acelerado e distribuindo melhor suas lutas, este ainda mostra que quer brincar no mesmo playground de Logan e Gran Torino, mas sem a mesma sensibilidade e boas atuações para sustentar o drama. Muito tempo é passado com seu protagonista em posição passiva enquanto Gabriela é reduzida a alvo de inúmeras violências. Além disso, o desfile de estereótipos, principalmente dos mexicanos, sugere quão duvidosas são as intenções da “fita”, termo coerente já que poderia ser facilmente lançada no mercado home-video décadas atrás. Só boas cenas de ação podem salvar.

Infelizmente, com exceção de uma luta com martelos, toda pancadaria que se faça notar está reservada aos últimos minutos de Rambo: Até o Fim, como um gozo rápido, e não aquele alongado que se espera. Porém nem o breve clímax no rancho armado de Rambo atinge seu potencial sob a fraca direção de Adrian Grunberg (do muito superior Plano de Fuga), que utiliza de uma decupagem frenética e picotada de planos, certas vezes remetendo ao infame Olivier Megaton, que em Busca Implacável 3 teve sua graça alcançada ao costurar uma dezena de planos de Liam Neeson pulando uma única cerca. Dito isso, Grunberg consegue encontrar a intensidade certa no gore das últimas mortes.

Fica a dúvida: por quê não fazer deste um filme de uma locação só? Se três quartos da trama são conduzidos em linhas tão genéricas, com heróis, vilões e vítimas simplórios, nada de seu miolo é necessário para vender as motivações de John Rambo em sua vingança contra o cartel. Deixando de aprender com a simplicidade de John Wick, e obviamente sem a mesma capacidade de sustentar longos cenários de ação, Stallone e Cirulnick não veem que seus atos inicial e final eram tudo que Até o Fim necessitava para engrenar. A exemplo de Duro de Matar ou mesmo Esqueceram de Mim, o rancho poderia sediar um jogo ainda sangrento, mas muito mais tenso e metódico de gato e rato.

Resta a impressão de que o personagem não foi o único que se perdeu neste ensopado de convenções. Rambo: Até o Fim é um caro exemplo da importância de saber o seu lugar. Os três longas anteriores, apesar de um tanto grosseiros, abraçavam a violência sem cérebro sem tentar legitimá-la a todo momento. Na tentativa de tornar-se sério no retrato desta violência, sem sacrificar o gore exagerado no final, o filme cria um paradoxo consigo mesmo e só acentua seu retrocesso. Ou seja, seus últimos instantes devem soar deslocados aos espectadores, isso se já não estiverem completamente entediados pela escassez de ação que os precede.

Ao que parece, Stallone quer tanto conquistar o título de último herói de ação, como se atestasse que “não se fazem mais filmes como este”, que deixa de notar que esta espécie de fita apenas evoluiu, com uma variedade de cineastas e protagonistas talentosos que hoje são mais contemplados pelo mercado home-video do que nas telonas. Se Rambo: Até o Fim almejava ser um canto de cisne para este tipo de herói de ação nos cinemas, poderia pelo menos ter olhado para a frente e reprogramá-lo para os novos tempos. Infelizmente, o que poderia ser o triunfo final de John Rambo é apenas seu último e entediante lamento.

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