Em tempos onde a Pixar vem sendo questionada, não pelos predicados notáveis de suas produções, mas pelo fato de que boa parte de suas animações focam demais em temas complexos que dificilmente atingem a consciência de uma criança. Assistir uma obra como Ron Bugado é praticamente uma oportunidade de bem-estar.
A animação é o primeiro filme da Locksmith Animation, distribuído pela 20th Century Studios, servindo como o primeiro filme de animação da empresa a ser lançado desde o fechamento da Blue Sky Studios no começo de 2021.
Ron Bugado é a história de Barney, um estudante socialmente desajeitado do ginásio e Ron, seu novo robozinho B-bot que anda, fala e se conecta digitalmente, que supostamente deveria ser seu ‘melhor amigo fora da caixa’. Os hilariantes maus funcionamentos de Ron colocados contra o pano de fundo da era da mídia social, lançam-nos em uma jornada cheia de ação em que menino e robô devem chegar a um acordo nesta confusão maravilhosa do que significa uma verdadeira amizade.
Tecnologia que não aproxima, mas isola
Existe uma denúncia clara nesta animação dirigida pela dupla Jean-Philippe Vine e Sarah Smith, que comenta as “facilidades” da tecnologia em tempos modernos.
Na era da web 2.0, que permite aos usuários interagir e colaborar uns com os outros por meio do diálogo nas mídias sociais como criadores de conteúdo gerado pelo usuário em uma comunidade virtual, tudo parece uma possibilidade. A questão é: o quanto conseguimos absorver dessa infinitude virtual para nossas vidas reais?
Hoje em dia, todas as gerações (sem exceções) estão conectadas 24/7 à chamada World Wide Web. E, existem duas vias de consumismo explícitas que puderam ser observadas na animação Ron Bugado.
Pela primeira, somos os consumidores. Envolvidos em uma realidade de aparências que estimulam essa prática para que continuemos consumindo, acreditando que certas materializações trarão o status desejado que o sistema de mercado estipulou para cada um de nós, de acordo com as “nossas preferências”.
Já na outra, somos consumidos. Mergulhados na tecnologia, ausentes da realidade. Dependentes de um sistema que aproxima através de interações pré-aprovadas pelos algoritmos, porém isolados em grupos de interesse. Que em alguns casos não possibilitam a interação social presencial.
Através da animação percebemos que as tais facilitações que a tecnologia dispõe, na verdade anulam as chances de uma comunicação que poderia diminuir esta distância que todos somos capazes de identificar nesta era que vivemos. A modernização e as redes sociais expandiram a teia, contudo, ainda encontramos muitas dificuldades de tirar algo mais produtivo deste sistema universal.
Uma amizade contagiante
O garoto Barney não teve muita sorte.
Depois de esperar algum tempo para ganhar o seu próprio B-bot, enquanto todos (!) os seus coleguinhas já tinham suas versões robóticas, percebeu que o seu modelo veio com alguns defeitos de atualização automática, ou seja, ele deveria ensinar ao seu robozinho Ron tudo a respeito dele próprio.
Aqui, a maior lição que Ron Bugado deixa, tanto para crianças quanto adultos: desenvolver e trabalhar por uma amizade exige que nos esforcemos para que o outro compreenda quem realmente somos.
Ninguém dúvida da empreitada que é tentar educar um outro ser, porém quantos de nós se dispõem às tarefas que visam formar um elo de entendimento?
Por essas e outras razões, que a animação que se encontra disponível ao público nas salas de cinema, consegue agradar tanto. Já que diverte com as aventuras de Barney e Ron, enquanto incita o espectador para que saia da sua zona de conforto e, dedique-se à ideia de dialogar para chegar onde almeja.
Na realidade, Barney teve muita sorte, sim!