Existe um certo preconceito com o cinema comercial nacional, e parte dele se deve às muitas comédias de quinta categoria lançadas em circuito. São “pérolas” como O Candidato Honesto 2, Crô em Família e, agora no mês de novembro, Tudo Acaba em Festa, com direção assinada por André Pellenz (Gosto Se Discute) e estrelado por Marcos Veras. É um alívio constatar que nosso cinema comercial não se limite apenas a esse tipo de produção – O Doutrinador, afinal, acaba de provar que há espaço para outros filmes de gênero -, mas o filme de Pellenz consegue provar que o buraco é sempre mais embaixo.
Tudo Acaba em Festa tem sua partida com uma chave oitentista. Somos apresentados ao protagonista Vlad (Marcos Veras), um funcionário de RH em uma empresa de cosméticos de dia, baladeiro irremediável de noite. Através de um voice over do personagem que remete a Curtindo a Vida Adoidado, sabemos como Vlad conheceu sua então namorada Aline (Rosanne Mulholland), que também ocupa um cargo na mesma empresa. Tudo ia bem, até a moça perceber que o namorado, que deixa a farra entrar no caminho de sua vida profissional, não tem muita consideração pelo futuro, portanto dá um pé na bunda.
Neste momento, o filme faz uma transição para outro tipo de comédia, focada no espaço de trabalho. Após sua empresa Embelex ser elencada como a penúltima melhor companhia onde se trabalhar por uma grande revista de negócios, o excêntrico chefe de Vlad, o Senhor Takai (Nelson Freitas), demite sua diretora de RH e oferece o cargo a quem tiver a melhor ideia para tirar a empresa da lama. O protagonista, então, vê uma chance de ganhar uma promoção e talvez reconquistar sua ex, mas dá um passo maior que a perna: marca uma luxuosa festa da firma para todos os funcionários, porém não contava com um orçamento apertado.
Assim, depois de longos minutos, Tudo Acaba em Festa finalmente chega à sua premissa central de ser uma comédia besteirol à moda de clássicos como Apertem os Cintos que o Piloto Sumiu, apresentando um vasto elenco de personagens propositalmente estereotipados que protagonizam situações cômicas em paralelo. A diferença entre este e o clássico dirigido por David Zucker: não há a mínima graça para as piadas e nem uma condução criativa o suficiente para complementar o texto fraco. Nem mesmo o elenco, que conta com bons nomes do humor brasileiro contemporâneo, como Diogo Vilela e Maria Clara Gueiros, tem muito o que fazer aqui.
O roteiro escrito a oito mãos é péssimo, na falta de outra palavra que traduza sua falta de qualidade. O material chega a ser tão pobre que algumas das piadas parecem inventadas na hora, como quando dois personagens tem um diálogo completamente aleatório – e sem graça – sobre a decoração das luminárias da festa. Já os diversos elementos que caracterizam os personagens são incorporados sem qualquer novidade, e como sátiras não convencem. Claro, não dá pra esperar comentários muito observacionais neste tipo de comédia, mas uma boa sátira precisa de um mínimo de observação dos roteiristas para funcionar – aqui, tudo parece feito com a pretensa de ser mais um job.
O arco de Vlad também é construído de forma malfeita, até para os baixos padrões esperados. Os roteiristas plantam uma série de elementos no início do longa, como sua mania por farras e a presença de um irmão gêmeo mais bem-sucedido, mas são detalhes que são diluídos. Fora o plano inicial que mostra Vlad literalmente virando a noite em uma festa, o rapaz não parece ter o mesmo espírito baladeiro no restante do longa, enquanto o irmão, que poderia ser usado em alguma situação posterior, dá as caras uma ou outra vez apenas, sem propósito. É tudo tão inconsequente que fica difícil ver a produção como um filme, mas como uma série de esquetes nível Zorra.
O mesmo vale para as peculiaridades dos coadjuvantes, que são muito mal aproveitados – uma semana após tomar os holofotes com Chacrinha: O Velho Guerreiro, Stepan Nercessian é relegado ao escanteio. O filme ainda soa datado por diversos motivos, apelando até mesmo para piadas com Village People – Crô manda lembranças -, o que reforça a noção de que existe um distanciamento entre os roteiristas e o público atual ou que, justamente, preferiram ficar com a mesmas velhas piadas por medo de arriscar com algo novo. Ou melhor: que uma inteligência artificial assistiu a uma série de comédias oitentistas e tentou fazer a sua, sem a mínima ideia do que funciona nos dias de hoje.