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Crítica | Vingadores: Ultimato (sem spoilers)

Em um estalar de dedos, Vingadores: Guerra Infinita encerrou-se com o impensável. Quando metade do universo foi levada às cinzas e Thanos (Josh Brolin) desapareceu com as Joias do Infinito, pouco se imaginava sobre aonde o Universo Cinematográfico Marvel iria em seguida, a não ser pelo fato de que seus heróis buscariam o que seu título indica: vingança. Fora a busca por retribuição, os acontecimentos de Vingadores: Ultimato continuaram guardados a sete chaves, gerando uma espécie de ansiedade que já parecia conferi-lo um status mítico dentro do cinema de super-heróis. O que ocorre, afinal, depois do impensável?

Apesar de servir como sequência direta para Guerra Infinita, Vingadores: Ultimato traça uma linha clara entre o antes e o depois do MCU, reapresentando seu elenco de personagens em meio a um mundo transformado e traumatizado. Tendo início com uma cena bastante trágica, o tom mórbido abraçado no decorrer do longa anterior logo se faz presente para esclarecer que atravessamos um limiar que pode não ser cruzado de volta. Enquanto Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans) e os outros vingadores restantes planejam a revanche contra Thanos, lidam também com suas perdas pessoais como qualquer outro humano nessa terra desolada.

Embora seja modesto quanto à ação, com apenas um trecho expressivo em Tóquio, todo o primeiro ato de Vingadores: Ultimato funciona bem como a calmaria depois de uma tempestade e antes de outra provavelmente maior, com uma manutenção exemplar deste tom sombrio dando espaço para pequenos instantes de tom mais humorado. Vemos também os reflexos das ações de Thanos sobre o restante da humanidade, e não só nossos heróis, o que torna tudo um tanto mais urgente e palpável. Acrescentando à tensão, certos personagens agora encontram-se em novos estágios de suas vidas e devem considerar novos riscos pessoais de sua missão contra o titã louco.

No entanto, assim que os Vingadores partem em sua missão, os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, assim como os diretores Joe e Anthony Russo, levam Ultimato a um segundo ato mais aventuresco e bem-humorado do que se pode esperar, certas vezes mergulhando completamente na comédia escrachada ao explorar as possibilidades de fan-service, principalmente quando os protagonistas se apossam de uma tecnologia inovadora que permitirá o sucesso de sua missão. É seguro dizer que quase nada do que foi visto nos filmes anteriores passou batido pelos roteiristas, que resgatam pontos passados de novas e inventivas perspectivas.

Ainda que seja garantida a diversão do público, em especial dos fãs, durante esse longo segundo ato – talvez o mais longo do filme -, seu humor nem sempre é acertado e pode em certos momentos colidir de frente com os elementos narrativos mais sérios, anulando o impacto de uma ou outra cena por conta do escracho exagerado. Por exemplo, Thor, que havia recebido um arco dramático bem dosado em Guerra Infinita, volta aqui a ser o sujeito atrapalhado e caricato que vimos em Ragnarok, capítulo da MCU que praticamente ignorou a identidade anterior do herói em prol da comédia fácil, e serve de início para gerar piadas visuais que soam fora de lugar em meio a tudo.

Mas no geral, mesmo no humor, as possibilidades são bem aproveitadas, e levam a acontecimentos que podem soar inacreditáveis para um desavisado, mas que são bem justificados dentro da proposta, não soando apenas como fan-service gratuito. É interessante, inclusive, como até parte do universo televisivo Marvel é resgatado aqui, pelo menos visualmente, deixando um sentimento de satisfação aos que se deram ao trabalho de acompanhar pelo menos uma de suas séries. O resultado desse acúmulo de referências e callbacks poderia ser um caos total, mas o carinho de Markus e McFeely, dedicados desde Capitão América: O Primeiro Vingador a moldar narrativas maiores dentro do MCU, pelo universo compartilhado faz de Ultimato uma viagem sentimental.

Se, então, há emoções mais singelas que se acumulam pelos primeiros atos do longa, seus últimos instantes praticamente transbordam delas, com uma batalha de escala maior do que já se viu na franquia ainda. Tanto a Disney quanto a Marvel, inclusive, merecem crédito por não cair em tentação e entregar seu jogo na divulgação, e acredite: é melhor ver com os próprios olhos. Apesar da clara limitação dos Russo como diretores de ação, ao menos quando há muito CGI em tela – às vezes tornando-se um borrão só -, as situações são todas costuradas de forma fluida e coerente, repetindo a dinâmica da ótima luta em Titã de Guerra Infinita – embora o número maior de combatentes aqui permita menos tempo de destaque para cada um dos heróis.

Ao fim, apesar de algumas fragilidades na ação e no humor, Vingadores: Ultimato alcança algo que nenhum outro longa do MCU foi capaz de evocar com tanto impacto: a sensação de finalidade. São dadas conclusões merecidas a alguns dos mais respeitados – e bem interpretados – personagens desse cânone, em construção por tanto tempo. Foram onze longos anos de produções episódicas, algumas delas sólidas e outras irregulares, mas sente-se que tudo levou a um destino honesto, suado e batalhado como tudo pelo que seus heróis lutaram e continuarão lutando. Com emoções inchadas, a Marvel Studios encerra este duradouro ciclo com êxito, provando também ser capaz de seu próprio feito impensável, na contracorrente de Thanos: dar vida a um universo todo.

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