Podemos afirmar que desde o inigualável O Exorcista (1973) de William Friedkin, foi estabelecido dentro do gênero terror uma subcategoria que apela diretamente no íntimo dos fãs de tudo aquilo que é considerado oculto e macabro.
Os contos de exorcismo viraram um fetiche saudável entre o público, que vez ou outra, ganhou alguns longas-metragens dignos a respeito da temática que trata sobre demônios ou o próprio anjo caído dominador do submundo (inferno) conhecido como Lúcifer, o Diabo.
Não muito depois do sucesso estrondoso da obra de Friedkin – considerada por muitos como o filme de terror mais assustador de todos os tempos – testemunhamos Hollywood explorar essa temática um tanto mais.
Em 1976, vimos outro clássico do gênero, A Profecia de Richard Donner (1930 – 2021), encantar os espectadores que mantiveram suas antenas ligadas às coisas relacionadas ao mal reencarnado na Terra; mesmo neste século, podemos exaltar algumas obras que marcaram de modo notável entre os cinéfilos, como O Exorcismo de Emily Rose (2005) de Scott Derrickson, ou Invocação do Mal (2013) de James Wan, que virou uma franquia sinônimo de sucesso comercial, tendo arrecadado 2,1 bilhões de dólares combinados contra um orçamento combinado de 178 milhões de dólares, tornando-se a segunda franquia de terror de maior bilheteria na história do cinema.
O ‘tinhoso’ inclusive virou figurinha marcada da cultura pop através de John Constantine, um exorcista cínico com a capacidade de perceber e se comunicar com meio-anjos e meio-demônios em sua verdadeira forma; assim como Lucifer Morningstar, personagem retirado da série de quadrinhos Sandman de Neil Gaiman, que ganhou uma série de televisão intitulada Lucifer (que depois migrou para a plataforma Netflix) sobre a personificação do mal, que abandonou o inferno para viver em Los Angeles, onde dirige sua própria boate chamada Lux, além de trabalhar como consultor do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD).
Agora, temos mais uma entrada na subcategoria, Exorcismo Sagrado do venezuelano Alejandro Hidalgo, que conta a história do Padre Peter Williams (Will Beinbrink), sacerdote americano que vive no México, onde foi possuído por um demônio enquanto tentava expulsar tal espírito maligno de uma jovem local. Porém, no processo do exorcismo acabou cometendo o mais terrível dos sacrilégios. Dezoito anos depois, testemunhamos as consequências de seu pecado voltarem para lhe assombrar, assim também para os habitantes da pequena cidade mexicana.
O Exorcista (versão cômica)
Por acaso, lembram-se do pôster de O Exorcista? O padre com maleta na mão e chapéu na cabeça, sendo iluminado por uma grande faixa de luz que vem da casa onde irá executar um exorcismo, bem ao lado de um poste de luz na rua?
Então, em poucos minutos observaremos o longa-metragem de Alejandro Hidalgo repetir a mesma cena do clássico filme de 1973. Só aí já nos tocamos de algo que será muito relevante caso quisermos tirar algum proveito de Exorcismo Sagrado, presente nas salas de cinema pelo país.
Hidalgo quer nossa risada em Exorcismo Sagrado!
Sim, a narrativa praticada por ele, apela diretamente à graça. Não aquela de espírito divino, mas do espírito cômico mesmo!
Já no primeiro exorcismo feito pelo Padre Peter Williams teremos uma abertura para perceber a comédia voluntária que brota da encenação, diretamente para o público nas poltronas. Não acreditem que terão um filme de terror aqui. Muito pelo contrário, passarão bem longe disso!
A adição do ator Joseph Marcell, mundialmente reconhecido pelo seu papel como o irônico mordomo Geoffrey da popular série humorística Um Maluco no Pedaço, deixa muito claro quais as intenções propostas por Hildalgo. E acreditem que irão rir naturalmente, praticamente em todas as cenas que o ator e comediante britânico estiver frente às câmeras. Saiu o uniforme preto do mordomo e entrou o preto da batina.
Conclusão
No centro de todo ‘hahaha’ de Exorcismo Sagrado, encontramos uma denúncia objetiva às práticas do Vaticano, que por muito tempo mantiveram alguns casos de exorcismo escondidos por de baixo do pano. Em alguns desses casos tivemos mortes, que terminaram soterradas nos porões selados da Igreja Católica, que como já sabemos costuma acobertar seus segredos da opinião pública, especialmente àqueles que podem prejudicar sua imagem.
Contudo, tal crítica à Igreja e seus representantes teve pouco ou quase nenhum efeito após o fim da sessão. O que realmente ficou na mente do espectador, depois de assistir Exorcismo Sagrado foi à jocosidade de testemunhar – pela primeira vez – uma sessão de exorcismo reverso!
Palavras divinas de um lado contra palavras demonizadas do outro. Boa comédia!