O universo cinematográfico da Sony baseado em vilões do Homem-Aranha parecia uma aposta promissora quando iniciado, há quase uma década. Com histórias focadas em personagens como Venom e Morbius, a ideia era criar tramas independentes que expandissem o universo do herói sem depender diretamente dele.
No entanto, a execução dessa proposta encontrou inúmeros obstáculos, com críticas constantes, roteiros inconsistentes, personagens mal desenvolvidos e um tom que muitas vezes não agradou ao público. Apesar do sucesso relativo de alguns filmes como Venom, outros não conseguiram entregar a experiência esperada pelos fãs.
O esforço do estúdio para criar um universo coeso, independente do Homem-Aranha em si, tem gerado tanto curiosidade quanto críticas, e Kraven: O Caçador, apesar de não ter sido tão bem recebido, surgiu com a promessa de trazer algo novo — e de corrigir erros do passado.
Uma das maiores reclamações dos fãs em adaptações anteriores sempre foi a maneira como certos personagens icônicos foram retratados. Entre eles, o vilão Rhino, apresentado pela primeira vez em live-action em O Espetacular Homem-Aranha 2 (2014). A versão interpretada por Paul Giamatti não agradou, afastando-se da essência do personagem nos quadrinhos. Agora, Kraven: O Caçador traz uma reimaginação do Rhino, buscando mais fidelidade à origem do vilão e, ao mesmo tempo, dando-lhe um papel mais significativo na trama.
Em sua versão mais recente, o Rhino, agora interpretado por Alessandro Nivola, é apresentado como Aleksei Systevich, um mafioso russo que entra em conflito com a família Kravinoff. Diferente do passado, em que o personagem dependia de um traje mecânico, o filme opta por uma transformação biológica, fiel às raízes dos quadrinhos. Aleksei passa por experimentos conduzidos por um cientista misterioso, adquirindo uma pele semelhante à de um rinoceronte, mas à custa de grande sofrimento físico e psicológico.
Essa mudança corrige um dos maiores problemas da versão de 2014 sobre a falta de fidelidade em relação ao personagem original. Na trama de Kraven, o vilão ganha destaque ao enfrentar o protagonista em um embate, finalmente dando ao Rhino um momento digno de sua fama nos quadrinhos.
O legado problemático do Rhino nas telonas
A primeira aparição do Rhino em O Espetacular Homem-Aranha 2 deixou os fãs frustrados por vários motivos. O personagem foi tratado de forma superficial, com pouco tempo de tela e um design que não agradou. O uso de uma armadura mecânica foi visto como uma solução preguiçosa, além de criar um tom destoante em relação ao restante do filme. Mesmo em sua curta aparição, Rhino foi reduzido a um antagonista cômico, incapaz de representar uma ameaça séria. A decepção foi tão grande que até Andrew Garfield, intérprete do Homem-Aranha, zombou do vilão.
A tentativa frustrada de explorar o Rhino reflete um problema recorrente da Sony ao tentar desenvolver vilões complexos sem depender da presença direta do Homem-Aranha. O estúdio frequentemente investe em conceitos promissores, mas acaba esbarrando em roteiros que não conseguem aprofundar adequadamente os personagens ou explorar seu potencial. Com Kraven: O Caçador, há um esforço claro para reverter essa tendência, mesmo que o estúdio ainda não consiga ser bem suscedido.
Apesar de trazer melhorias significativas, a nova versão do Rhino ainda está longe de ser perfeita. Seu design, embora mais próximo do material original, recebeu críticas quanto à execução final. Muitos fãs esperavam um vilão fisicamente imponente, com traços mais marcantes que refletissem sua monstruosidade. Embora a transformação biológica seja uma escolha acertada, elementos como a aparência do rosto e o porte físico poderiam ter sido melhor trabalhados para adaptar o personagem.
Uma encerramento para o universo Sony
Enquanto Kraven: O Caçador acerta ao trazer uma versão mais fiel do Rhino, ele não é suficiente para salvar o universo da Sony. O filme tenta corrigir erros do passado, mas não escapa das críticas de roteiro e execução que têm perseguido o estúdio. A tentativa de criar um universo expandido fracassou em estabelecer uma identidade sólida, deixando as produções presas em um ciclo de erros repetitivos.
A decisão de encerrar o universo, divulgada recentemente, reflete não apenas a fraca recepção dos filmes, mas também o reconhecimento de que a abordagem atual não funciona. Kraven pode até ser visto como uma despedida, mas está longe de oferecer o impacto necessário para revitalizar a franquia. Para muitos, o fim do universo Sony é um alívio, dando espaço para que futuros projetos explorem esses personagens de forma mais respeitosa e criativa.
O encerramento desse universo deixa um legado negstivo. Enquanto Venom conseguiu algum sucesso comercial e estabeleceu uma base de fãs, outros filmes apenas reforçaram a percepção de que o estúdio não sabia o que fazer com esses personagens.
Mesmo com o fim anunciado, os fãs ainda podem sonhar com versões mais bem executadas desses vilões no futuro. O encerramento do universo da Sony não significa que os personagens desaparecerão para sempre, abrindo, inclusive, espaço para que novas abordagens surjam, quem sabe, dentro do bem-sucedido universo Marvel junto ao Homem-Aranha.
Kraven: O Caçador está em cartaz nos cinemas.