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Mano Brown foi a primeira escolha de Wagner Moura como Marighella

Seu Jorge ficou com papel e diretor destacou como ator muda padrão de décadas do audiovisual brasileiro

Marighella, o primeiro filme de Wagner Moura como diretor, quase teve Mano Brown como protagonista. O rapper do Racionais MC’s, porém, deixou o projeto, o que fez Seu Jorge assumir o papel principal.

Na coletiva de imprensa do lançamento de Marighella para imprensa em São Paulo, o Observatório do Cinema ouviu o diretor sobre a produção e sobre como foi a escolha do protagonista.

“Minha primeira opção para Marighella tinha sido Mano Brown. Que eu via que o Brown simbolicamente representava muito para mim o que Marighella era. Um poeta, lutador, sabe, um homem que não fazia concessões, enfim. Falando de tom de pele, Brown e Marighella tinham o mesmo tom de pele”, explicou Wagner Moura.

No programa Entrevista com Bial, da Rede Globo, Moura tinha explicado que Mano Brown teve que deixar o projeto pela agenda com o Racionais MC’s, que na época de gravações fazia diversos shows.

O diretor, então, contou como decidiu escolher o substituto. Seu Jorge logo foi convidado e assumiu o desafio de se tornar Marighella. Wagner Moura foi questionado se pensou sobre o tom de pele dos atores em comparação com o personagem histórico que seria abordado.

“Quando Brown saiu do projeto, eu te confesso que eu não… Eu só pensava que eu precisava ter outro ator negro, porque Marighella era negro. Marighella era um homem negro. A mãe de Marighella nasceu em 1888, no ano da abolição da escravidão. Os avós de Marighella eram escravos sudaneses, malês.

Que foi a galera que deu mais trabalho para os senhores de engenho do Brasil, que eram pretos muçulmanos, que onde estavam nos seus países de origem, estavam muito acostumados a revoltas e a insurreições populares. E eram muito bem educados, sabiam ler, tinham noção de matemática, coisas que os seus próprios senhores de engenho aqui não tinham”, começou contando Wagner Moura.

Pensando na origem do protagonista, Wagner Moura tinha em mente como gostaria de representá-lo.

“Desconectar essa herança de Marighella, da luta desse cara que cresceu na Baixa dos Sapateiros, região pobre e cheia de pretos em Salvador, desconectar essa herança de insubordinação a figura de Marighella me pareceu um desserviço. Então, eu sempre quis buscar… Na época eu pensava, ‘Eu quero um ator negro’. Eu não vou repetir o embranquecimento clássico. Eu pensava assim, ou tem que ser alguém da cor de pele de Brown, ou alguém mais escuro. Pra mim, Brown, Jorge e Marighella são três homens negros”, completou o diretor.

Com o lançamento de Marighella, Seu Jorge sofreu ataques racistas. Após os crimes, Wagner Moura disse ter notado como acertou nessa escolha e como o filme muda um padrão visto por décadas no audiovisual.

“Eu não pensei bem, não aprofundei essa reflexão. Para mim era muito simples. Quando vieram os ataques racistas à cor de pele de Jorge, quando lancei o filme, que eu comecei a aprofundar o meu pensamento sobre isso, eu falei, ‘Cara, eu acho que eu acertei’.

Mesmo que não tivesse tanta consciência na época, acho que acertei quando eu ‘empreteci’ Marighella, e reafirmei a negritude de Marighella. Eu fiz o caminho oposto da história toda do audiovisual brasileiro, que é o de embranquecimento dos personagens. Essa síndrome de Escrava Isaura que o Brasil tem. Então terminei acertando meio que sem querer”, finalizou Wagner Moura, com aplausos do elenco do filme.

Marighella está em cartaz nos cinemas do Brasil

O filme de Wagner Moura é baseado no livro de Mário Magalhães, que tem o título Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo. A obra foi adaptada pelo diretor e também por Felipe Braga, de Sintonia e Samantha!.

O longa acompanha a história de Marighella nos anos 1960, quando a ditadura começa no Brasil. Escritor e político, Carlos Marighella se tornou um dos principais guerrilheiros brasileiros, liderando um dos maiores movimentos de resistência contra o regime, a ALN (Ação Libertadora Nacional).

“Comandando um grupo de jovens guerrilheiros, Marighella (Seu Jorge) tenta divulgar sua luta contra a ditadura para o povo brasileiro, mas a censura descredita a revolução. Seu principal opositor é Lucio (Bruno Gagliasso), policial que o rotula de inimigo público nº 1. Quando o cerco se fecha, o próprio Marighella é emboscado e morto – mas seus ideais sobrevivem nas ações dos jovens guerrilheiros, que persistem na revolução”, diz a descrição do filme.

O elenco é liderado pelo cantor e ator Seu Jorge. Além disso, conta com nomes conhecidos como Adriana Esteves como Clara; Ana Paula Bouzas sendo Maria; Bruno Gagliasso interpretando Lúcio; Bella Camero vivendo Bella; Herson Capri como Jorge Salles; Humberto Carrão no papel de Humberto; Jorge Paz como Jorge; e Luiz Carlos Vasconcelos sendo Branco.

O filme ganha ainda uma participação especial. Maria Marighella, neta do guerrilheiro, aparece durante o longa como a própria avó, Elza.

Marighella está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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