Filmes

Mostra SP | Crítica: A Favorita

É fato que o jovem cineasta grego Yorgos Lanthimos se qualificou ao nível dos autores mais relevantes dos tempos atuais. Isso ocorre, devido a consistência em seus trabalhos de quase dez anos para cá, como a obra grega Dente Canino, e seus primeiros projetos na língua inglesa com atores hollywoodianos, o esquisito e hipnotizante O Lagosta, além do excepcional O Sacrifício do Cervo Sagrado, longa que adaptou a tragédia grega de Ifigénia em Áulide do dramaturgo Eurípides.

Assim, é com muita ansiedade que se esperava um novo filme seu, e em pouco tempo chega à Mostra SP, A Favorita, estrelado pelo trio de atrizes Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz.

A mais recente obra de Yorgos Lanthimos nos leva para a Inglaterra do século 18, onde Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough governa o país fazendo o papel de confidente e conselheira da frágil Rainha Anne. Em meio a guerra com a França, chega à corte Abigail Masham, uma nova e ambiciosa serva que se aproxima da monarca, e esta nova amizade que cresce entre as duas desperta a ira da duquesa. A partir daí, começa uma batalha entre as duas pela posição de favorita da rainha.

São muitos os fatores que impressionam em A Favorita, de lobby elevado para a grande temporada de prêmios que se inicia ainda no final deste ano, incluindo a cerimônia da Academia, no começo do próximo ano. E, não poderia ser diferente, pois dos aspectos técnicos, seja fotografia e edição à uma produção de arte ostensiva, com vistosos figurinos e maquilagens exageradas, típicas à época, até o enredo e a transmissão via atrizes desta história sobre conquista de espaço e poder.

Logo de cara, houveram duas mudanças na equipe que costumava trabalhar nos filmes de Lanthimos. Saiu Thimios Bakatakis que esteve em todos os projetos da filmografia do diretor, e entrou Robbie Ryan, colaborador frequente dos cineastas Andrea Arnold e Ken Loach. E, essa mudança realmente trouxe ventos de ar fresco ao trabalho narrativo do autor grego. A câmera de Ryan se movimenta muito, principalmente quando precisa apresentar a suntuosidade do palácio real, isso inclui um uso curioso e cirúrgico da lente ‘fisheye’, no traduzido olho de peixe, muito usada em vídeo clipes no final dos anos 80 e começo dos 90. Esta lente se mostrou uma escolha interessante, porque ao mesmo que foca o caminhar das personagens pelos inúmeros corredores do palácio, cria uma sensação ilusória de longitude destes espaços, dando a impressão que não possuem fim, e exaltando grandiosidade.

Já, a outra mudança, se deu no campo do texto. Yorgos Lanthimos sempre co-escreveu seus roteiros junto de Efthymis Filippou, mas agora pela primeira vez, não escreve um de seus filmes, e deixou o trabalho a cargo de Deborah Davis e Tony McNamara, que também executaram um bom trabalho, mesmo com uma menor fluência no começo da trama. A Favorita, sendo exibido na Mostra SP é dividido em capítulos, cada um com título específico. Até o capítulo três, por mais impressionante que seja, visual e personagens, a narrativa parece um pouco desajeitada, não no sentido peculiar próprio do autor, apenas sem impulso e andamento saliente. Mas, quando chegamos ao episódio quatro, o fio narrativo encontra seu eixo, sobe à bordo de um foguete em direção as altitudes. Certamente, um roteiro mais enxugado deixaria o longa de Lanthimos ainda mais redondo.

Por final, o triângulo mais para odioso que amoroso composto pelas estrelas de Hollywood. Todas as três atrizes se saem bem em A Favorita. É, na interlocução entre estas que a roda gira com fluidez, denotando as personalidades abjetas de cada uma delas. Rachel Weisz é quem causa a melhor impressão logo de cara, pelo cinismo e ironia, sendo a personagem com mais habilidades para oferecer algum riso nesse drama real trágico. Enquanto Emma Stone, com muita competência entrega uma personagem que começa em um lugar, passa por transformações, e ao final, encontra-se plenamente oposta.

Interessante que desde a primeira aparição em A Favorita, Olivia Colman parece estar abaixo de suas colegas de profissão. Que engano! Mal sabemos que a atriz inglesa, assim como o roteiro, irá ascender brilhantemente. Nos capítulos finais, tudo o que parecia infantilidade e desleixo ao ponto da ignorância, similar a alguns dos líderes mundias da atualidade, se revelará ganhando notas monstruosas, vide a esplêndida cena final do filme de Yorgos Lanthimos. O que parecia engraçado, tornou-se opressão.

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