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Mostra SP | Crítica: Operação Overlord

Anteriormente especulado como parte da franquia Cloverfield, que decepcionou este ano com The Cloverfield Paradox, o filme Operação Overlord chega à Mostra SP algumas semanas antes de estrear no circuito brasileiro. Produzido por J.J. Abrams e dirigido pelo australiano Julius Avery, é um projeto que prometia bastante por aliar o sobrenatural à 2ª Guerra Mundial, uma combinação que já rendeu ótimos resultados no mundo dos games com Wolfenstein e Call of Duty. A opção por uma censura alta, por sua vez, possibilitava grandes cenas de gore para satisfazer os aficionados por terror violento.

No início de Operação Overlord, vemos um grupo de soldados americanos saltarem de seu avião em chamas e caírem em território inimigo. Quando encontram uma jovem francesa, são guiados para um vilarejo localizado ao lado de um forte nazista, sob o qual se encontra um laboratório. Descobrem também que os habitantes da vila são frequentemente selecionados e levados por soldados até o local subterrâneo, servindo de cobaias para um misterioso experimento encomendado pelo próprio Führer. Os heróis então elaboram um plano para descobrir o que os nazistas escondem e salvar o vilarejo de suas intenções cruéis.

O roteiro escrito por Billy Ray e Mark L. Smith toma algum tempo antes estabelecer seu mistério central, apresentando suas personagens através de arquétipos de filmes de guerra. Temos o soldado mais idealista e correto, o tenente mais experiente e acostumado ao horror da guerra, o tagarela com sotaque ítalo-americano e assim em diante, nunca transcendendo esses aspectos. Portanto, quando chegam ao vilarejo e passam bom tempo escondidos em uma casa, não são figuras interessantes de se acompanhar, e logo o filme passa a causar certo tédio antes de chegar ao ponto que se quer ver a princípio: a ação.

Por gastar tanto tempo com os heróis fora da ação, Operação Overlord tem seu ritmo prejudicado, o que ao menos poderia ser aliviado com uma construção mais eficiente da atmosfera. No entanto, elementos que poderiam ser sinistros nesta primeira parte – como a tia doente da francesa ou os vilões nazistas – são apresentados de forma pouco inspirada, servindo nada ao clima de terror. Falta também uma sensação convincente de perigo, já que personagens são dificilmente avistados pelos soldados inimigos, escassos mesmo para um vilarejo tão enxuto. Assim, contamos os segundos para que os famigerados momentos de choque cheguem e agitem o longa.

Estranhamente, essa sensação de espera continua a persistir mesmo quando já se viu um dos heróis se contorcer de forma inumana e o rosto de um nazista explodir. Talvez minhas expectativas estivessem muito elevadas depois de ver tanta violência gráfica no cinema – A Casa que Jack Construiu, mais recentemente -, mas sente-se que Operação Overlord fica muito aquém nesse departamento. Embora um ou outro momento apresente efeitos de gore caprichados – tanto práticos quanto digitais -, boa parte das mortes é apresentada com timidez, como se tratasse de um filme com censura 13 anos pontuado por algumas cenas mais escabrosas.

Porém Operação Overlord ainda poderia funcionar como mistério saído diretamente da caixinha de J.J. Abrams, afinal Rua Cloverfield 10, com censura baixa e escopo mais limitado, era capaz de angustiar pela forma imprevisível com que sua narrativa era construída. No caso de Overlord, o clima de mistério se dissipa rapidamente, com revelações não muito inventivas – e nem inesperadas, já que seu trailer entrega demais – e uma falta de interesse em aprofundar e distinguir suas ideias. Aqui, a caixa de mistérios está quase vazia, restando um filme de terror e guerra que não se destaca como nenhum dos dois.

Quando Operação Overlord chega ao seu “grande” final, com uma luta corpo a corpo esquecível entre mocinho e vilão, fica claro que criatividade não é bem seu ponto forte. A história de heróis que combatem nazistas maléficos, à moda de uma matinê, pode satisfazer parte do público como escapismo leve, mas é uma pena que seus elementos sobrenaturais e o terror gore sejam tão pouco aproveitados aqui. Falta ritmo, atmosfera e surpresas para um filme que poderia desabrochar seu lado mais pulp, além da diversão de ver mais tripas e sangue de nazistas espalhados pelo cenário. Ainda conto com o surgimento de um filme dos sonhos de Wolfenstein – mas este dia ainda não chegou.

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