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Mostra SP | Crítica: Vida Selvagem

Ainda sem previsão de estreia no circuito brasileiro, mas tendo passado pela Mostra SP recentemente, o longa Vida Selvagem que debuta o ator Paul Dano no cargo de diretor, surpreende em alguns pontos, mas não consegue fugir do trivial em outros. Da mesma maneira, mês passado, se deu outra estreia, no caso Nasce Uma Estrela com Bradley Cooper e Lady Gaga, sendo que o astro também atuou na direção do filme pela primeira vez na carreira. Sem dúvida, Bradley Cooper saiu-se um pouquinho melhor na nova função, apesar de um exagero aqui e acolá, tendo como inspiração Clint Eastwood, e especialmente David O. Russell, ambos cineastas com quem trabalhou. Já, Paul Dano peca por deixar seu par de atores muito soltos, principalmente, a sempre competente Carey Mulligan.

Vida Selvagem retrata a vida de Joe, que aos 14 anos de idade, percebe que o casamento de seus pais, Jeanette e Jerry, está desmoronando. Seu pai, perdeu o emprego no campo de golfe, e pena para conseguir arrumar outro trabalho, enquanto sua mãe, descontente, recusa-se a ficar de braços cruzados, e arranja um emprego como instrutora de natação, ganhando sua autonomia. Tudo piora quando Jerry consegue um trabalho muito perigoso fora da cidade, como um tipo de bombeiro-temporário, especializado em apagar queimadas nas montanhas. Já, com alguns meses fora de casa, Jeanette decide tocar a vida, enquanto Joe espera pelo regresso do pai, para que tudo volte a ser como era antes.

O filme de Paul Dano, adaptado do livro homônimo de Richard Ford, certamente é um filme que já tenha visto antes, ao menos quando aborda-se o tema: a separação dos pais e os efeitos colaterais que ocorrem a todos os envolvidos nesta situação. Se, há um cineasta que fez de boa parcela de sua filmografia, obras focadas ou que tratam tal temática, este é Steven Spielberg. Assim, procurar novidades no longa escrito e dirigido por Paul Dano, só desviará notar algumas das boas qualidades que o jovem ator fez em Vida Selvagem, particularmente com a câmera.

Dano, e o cinematógrafo Diego García, usando de uma câmera parcimoniosa, conseguiram retratar com vivacidade a dureza advinda da separação de um casal, ainda mais quando a câmera recai sobre mãe e filho, respectivamente, Carey Mulligan e Ed Oxenbould. Manter a câmera fixada usando de mínimos movimentos, ao invés da liberdade de usá-la na mão, contribui muito para o espectador perceber com maior facilidade, as nuances nos rostos dos atores, pois atuar é muito mais do que o olhar. Quantas são as atrizes, também atores que conseguem, por vezes, transformar toda a face em um receptáculo de emoções variadas e contraditórias? Seja quantos forem, é certo que Carey Mulligan, a atriz inglesa é uma destas.

Se, a atriz quase sempre hipnotiza e encanta o público na poltrona, o mesmo não se pode dizer do jovem ator Ed Oxenbould. Não, o garoto não se saiu mau em Vida Selvagem, porém, a narrativa é jogada em boa parte do filme em suas costas, algo que pesou demais em certos momentos, e talvez, a inexperiência fez alguma diferença em uma parte ou outra. Todavia, nada que não possa ser melhorado daqui para frente, pois o ator adolescente mostrou sensibilidade ao retratar a melancolia de um filho que observa os pais se afastando, pouco a pouco.

Mas, não dá para deixar toda essa carga para Oxenbould carregar, pois as repetições que acabam saturando, realmente dificultam o trabalho do elenco que precisa sempre encontrar novos elementos para manter a narrativa fluindo. O roteiro, escrito em parceria com a atriz Zoe Kazan, neta do renomado cineasta Elia Kazan, e casada com Paul Dano, se perde em repetições que pouco somam para elevar a dramaticidade vivida pelas personagens, tanto que os atores parecem um pouco soltos demais no meio da trama, puxando o fio narrativo em seus talentos naturais.

Mesmo Jake Gyllenhaal, um dos atores tecnicamente superlativos da indústria, conta mais com seu instinto natural em Vida Selvagem do que bom tratamento de texto, e subsequentemente seguem as direções de Paul Dano.

Ainda assim, sempre é bem-vindo, alguém disposto a trabalhar novas ideias, com roupagens diferentes dentro da indústria hollywoodiana. Na primeira tentativa, Dano não se saiu tão bem, mas apresentou o suficiente para acreditarmos nele.

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