Nos últimos anos, antigos sucessos do cinema têm voltado aos holofotes, seja pela retomada de histórias clássicas ou pelo lançamento de produções inéditas inspiradas em seus universos. Grandes franquias buscam renovar o interesse do público, trazendo personagens antigos para novos contextos e apresentando tramas que conciliam nostalgia e inovação.
No entanto, a tentativa de resgatar elementos originais nem sempre acerta em cheio. Às vezes, ao mirar na continuidade, alguns projetos deixam de lado figuras que contribuíram para a popularidade inicial. Essa situação surge como um alerta para quem acompanha o universo de Karatê Kid, em especial após o sucesso de Cobra Kai, que reverteu equívocos cometidos pelos filmes da década de 1980.
A nova produção, Karatê Kid: Legends, pretende iniciar um ciclo inédito na franquia. Embora traga de volta Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e apresente a participação de Jackie Chan como Sr. Han, há indícios de que a ausência de um personagem-chave, tão relevante quanto Daniel no passado, pode repetir um antigo erro. Trata-se da exclusão precoce de Johnny Lawrence (William Zabka), que no período clássico foi deixado de lado sem aprofundar sua trajetória.
A lacuna deixada por Johnny Lawrence no passado
Em Karatê Kid II, Johnny Lawrence teve apenas uma aparição breve, sem desenvolvimento. Isso diminuiu o potencial do personagem, que anteriormente era um rival formidável e figura central no primeiro longa. Décadas depois, Cobra Kai demonstrou que Johnny era tão importante quanto Daniel, recuperando seu protagonismo e mostrando um equilíbrio entre essas duas forças da narrativa.
Apesar desse resgate bem-sucedido, o novo filme parece retomar a estratégia dos anos 1980, ignorando Johnny. O longa tem um elenco focado em Daniel e no Sr. Han, além de um novo protagonista, deixando pouco espaço para antigos rivais. É compreensível a necessidade de apresentar tramas frescas, mas essa escolha desperdiça o aprendizado adquirido após o sucesso da série em streaming.
A justificativa pode estar no formato do projeto. Ao contrário da série, um filme dispõe de menos tempo para explorar múltiplos personagens. Essa limitação de duração explica a opção de não abarrotar a história com muitos nomes do passado, mesmo que isso signifique sacrificar alguém tão marcante.
Sem Johnny, a dinâmica entre mestre e aluno permanece, mas perde a tensão construída ao longo dos anos. Ao retirar do tabuleiro um personagem que antes simbolizava a antítese de Daniel, o enredo se afasta da complexidade que tornou a série um fenômeno. Isso pode transmitir a impressão de um retrocesso, quase como se a franquia ignorasse a lição aprendida ao longo das últimas temporadas.
Caso Cobra Kai realmente encerre o ciclo de Johnny de forma satisfatória, pode-se argumentar que ele não faz mais falta. Porém, ao pensar no legado da franquia, é difícil negar o impacto que esse antagonismo trouxe ao público por décadas. Enquanto Legends se propõe a surpreender ao reunir elementos de diferentes fases, deixa no ar a sensação de déjà vu ao repetir a falta de aproveitamento de um personagem tão importante.
Se a intenção de Legends é destacar novos caminhos para o universo de Karatê Kid, talvez essa decisão seja estratégica. Ainda assim, para muitos fãs, a ausência de Johnny Lawrence pode fazer falta. Agora, resta aguardar para ver se a franquia entenderá o valor de todos os seus pilares ou se repetirá enganos do passado.
As produções do universo de Karatê Kid estão disponíveis na Netflix.