Em O Homem dos Sonhos, acompanhamos o gentil professor Paul Matthews (Nicolas Cage), que desfruta de uma vida familiar relativamente comum ao lado de sua esposa Janet (Julianne Nicholson) e suas duas filhas pequenas, Hannah (Jessica Clement) e Sophie (Lily Bird).
Embora Paul seja apreciado por seus alunos, sua carreira acadêmica não alcançou grandes feitos, especialmente após suas tentativas fracassadas de conduzir estudos de pesquisa crítica durante sua passagem pela faculdade. A principal qualidade de Paul é sua natureza irresistível; apesar disso, ele parece não ter deixado um impacto significativo na vida de seus alunos nem ter feito uma marca profunda em seus colegas.
A vida de Paul dá uma guinada inesperada quando Sophie confessa a ele ter tido um sonho apocalíptico, no qual ele aparecia em uma situação de perigo. Sophie descreve a sensação de flutuar no sonho e observar seu pai, que, estranhamente, parecia não se abalar com a situação e continuava com sua rotina normal de cuidar do quintal. Perturbado pela revelação e pelo fato de não conseguir se preocupar com a gravidade do sonho de Sophie, Paul começa a questionar a natureza dos eventos oníricos.
Contudo, a perturbação de Paul se intensifica quando ele descobre que não é apenas Sophie quem teve sonhos envolvendo-o.
Do dia para a noite indivíduos ao redor do mundo começam a relatar que Paul está aparecendo em seus sonhos. Na maioria dessas situações, ele é retratado como completamente inofensivo; apenas uma figura secundária enquanto eventos estranhos ou perigosos se desenrolam.
Enquanto Janet fica chocada com a súbita e surpreendente atenção que seu marido está recebendo, Paul percebe que há muitos interessados em se aproveitar de seu novo status de celebridade.
Após uma entrevista televisiva que o destaca ainda mais, Paul é abordado por uma empresa de marketing interessada em explorar sua fama emergente, propondo que ele faça parte dos sonhos de personalidades notáveis como Barack Obama.
A reunião de Paul com os funcionários da empresa, composta por Trent (Michael Cera), Mary (Kate Berlant) e Molly (Dylan Gelula), não corre como esperado. Paul logo percebe que eles não têm nenhum interesse genuíno nele como pessoa. Ele havia esperado que sua fama repentina lhe desse a oportunidade de compartilhar suas pesquisas e discutir tópicos de seu interesse. No entanto, fica evidente que a empresa está interessada apenas em usar a celebridade de Paul para promover seus próprios objetivos.
Infelizmente, a decepcionante reunião não é o único problema enfrentado por Paul. Molly admite que ele também tem aparecido em seus sonhos, revelando que teve fantasias sexuais intensas envolvendo-o.
O que acontece com Paul?
Embora Paul inicialmente descubra que Molly está disposta a ouvir suas queixas sobre a empresa, ela começa a fazer avanços sexuais em relação a ele.
Coincidentemente, as indiscrições pessoais de Paul começam a afetar a forma como ele aparece nos sonhos de todos. Inicialmente, Paul estaria apenas no fundo de um sonho; agora, ele se tornou o assunto dos pesadelos de todos. Os alunos de Paul, que uma vez o admiraram, começam a relatar suas ansiedades sobre estar perto dele. Um Paul enfurecido ataca o reitor de sua escola, Tim Meadows, quando lhe dizem para deixar a universidade porque os alunos simplesmente têm medo dele.
Relatos de Paul sendo um vilão do estilo de Freddy Krueger nos sonhos das pessoas começam a aparecer, e sua vida é virada de cabeça para baixo. Paul se separa da mulher, suas filhas passam menos tempo com ele, e ele nem consegue almoçar sozinho sem ser instruído a sair de um restaurante.
Notícias relatam os detalhes do “vilão” de Paul, tornando ainda mais difícil para ele viver uma vida normal. Paul fica furioso com a ideia de que ele se tornou “demonizado” da noite para o dia; ele não tem controle sobre como aparece nos sonhos de outras pessoas e começa a atacar todos que fizeram suposições sobre ele. A raiva de Paul se intensifica quando lhe dizem que não pode assistir a uma peça em que Sophie está aparecendo em sua escola.
Embora Janet inicialmente concorde que Paul deveria ficar em casa para permitir que Sophie tenha seu momento, ele não está disposto a ouvi-la. Paul entra na apresentação da escola e acidentalmente fere um voluntário ao entrar pela porta.
Isso essencialmente confirma para todos na audiência que ele é, de fato, o vilão que eles imaginaram que ele seria. Paul e Janet se separam quando ele decide se afastar dos holofotes públicos. Embora Paul tente cortejar a simpatia do público alegando que também teve pesadelos sobre uma versão de si mesmo, seus novos comentários simplesmente caem em ouvidos surdos.
Apesar da tempestade de fogo da mídia que inicialmente cercou Paul, ele é, em grande parte, esquecido por aqueles que ficaram indignados com ele. Com o tempo, Paul não aparece mais nos sonhos de ninguém, e o mundo essencialmente segue em frente.
Uma nova forma de tecnologia que permite que os anunciantes entrem nos sonhos das pessoas acaba se tornando mais popular do que Paul jamais foi, mas sua vida ainda está essencialmente arruinada. Jan seguiu em frente e se casou novamente, e as tentativas de Paul de comercializar sua autobiografia no exterior não tiveram sucesso.
O filme oferece um breve vislumbre de esperança em seus momentos finais, quando Paul aparece no sonho de Jan, usando uma fantasia de David Byrne em Stop Making Sense, algo que ela sempre fantasiava que ele usasse. Isso provoca uma pergunta interessante: Paul sempre foi o homem que ela queria, e como o escândalo dos sonhos afetou isso?
Embora O Homem dos Sonhos possa parecer estar satirizando o conceito de “cultura de cancelamento”, seus temas são um pouco mais complicados do que isso. Paul experimenta todos os benefícios e consequências de ser uma celebridade.
Ser instantaneamente reconhecível significa que todos estão dispostos a ouvi-lo, mas que ninguém realmente sabe quem ele é. Todo mundo parece conhecer o rosto de Paul, mas não podem se preocupar em aprender nada sobre ele. Ser uma celebridade também significa que todas as suas falhas estão expostas para o mundo ver. É um comentário atencioso sobre uma história de fantasia muito estranha e muitas vezes bastante sombria.
As várias faces de Nicolas Cage
O tipo de desempenho que Nicolas Cage entrega nas produções nunca está completamente transparente.
Cage já foi considerado um dos atores mais cativantes da indústria nos anos 90, mas acabou estrelando inúmeros filmes de qualidade duvidosa lançados diretamente em plataformas de streaming. Apesar de ter se tornado uma espécie de meme devido aos seus papéis excêntricos, Cage experimentou um renascimento tardio em sua carreira graças à sua interpretação dramática em PIG – A Vingança (2021) e à sua atuação auto-referencial em O Peso do Talento (2022). Com os críticos novamente ao seu lado, Cage está demonstrando o tipo de performance singular que só ele é capaz de entregar.
Em sua mais recente empreitada, Cage se destaca na nova e ousada comédia sombria de Kristoffer Borgli, O Homem dos Sonhos. O filme mescla comédia, terror e uma dose generosa de ‘Cage-isms’, enquanto satiriza a cultura das celebridades. É o tipo de produção que depende inteiramente de um ator como Cage no papel principal, especialmente dada a natureza peculiar de seu desfecho.
O Homem dos Sonhos já está em exibição nos cinemas do Brasil.