Cenas de sexo seguras são agora uma parte essencial da produção cinematográfica pós-MeToo. A coordenadora Elle McAlpine falou sobre os desafios de trabalhar em Pobres Criaturas, drama de fantasia de Yorgos Lanthimos estrelado por Emma Stone.
Há três anos, pouco antes do amanhecer, Elle McAlpine pegava o trem para casa, tendo acabado de orquestrar uma orgia. Ela havia saído do set de Pobres Criaturas, dirigido por Yorgos Lanthimos e indicado ao Oscar: uma filmagem noturna onde mais de 100 dançarinos se entregam à festa sexual.
McAlpine riu ao lembrar sua viagem para casa, sentada no metrô ao lado dos demais passageiros, ainda processando a cena que acabara de supervisionar. “Eu pensava, ‘Se as pessoas soubessem o que eu acabei de fazer…”
“Para todos os efeitos, parecia real também: todos esses dançarinos incríveis, apenas se movendo no chão.”
O visual extravagante e de outro mundo de Pobres Criaturas tem sido amplamente elogiado, mais recentemente com uma indicação ao Oscar de melhor direção de fotografia. No entanto, o conteúdo – que apresenta Emma Stone interpretando uma mulher adulta com o cérebro de um bebê, embarcando em uma jornada de autodescoberta sexual ao redor do mundo – está se mostrando polarizador.
Como coordenadora de intimidade de Pobres Criaturas, McAlpine trabalhou na interseção de ambos. Contratada para o projeto em uma fase tardia, depois que Lanthimos e Stone já haviam estabelecido seus parâmetros, McAlpine foi encarregada de como trazê-los à vida da maneira mais confortável possível.
Ambos o diretor e a estrela elogiaram a contribuição de McAlpine em entrevistas – embora Stone tenha admitido ter sido inicialmente “estupidamente” cética.
Naquele ponto, eles já haviam tido meses de ensaios, diz McAlpine: “Eles construíram uma linguagem juntos. Mas – como McAlpine disse a Stone em sua conversa inicial – ela não era a única pessoa que poderia se beneficiar de uma coordenadora de intimidade: são necessários dois para dançar o tango.
No caso da orgia, foram necessárias 120 pessoas. Deniriy dois dias para ser filmada, lembra McAlpine: “de repente todos se despiram, caíram no chão e começaram a fazer sexo”.
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Apenas para essa cena, McAlpine trabalhou ao lado de outras três coordenadoras de intimidade, cada uma responsável por um grupo de cerca de 30 dançarinos; além de um coreógrafo para supervisionar o efeito geral.
McAlpine é experiente como coordenadora de intimidade
Uma atriz ela mesma, McAlpine estava envolvida diretamente, demonstrando “como você penetra” na tela: “Se você puder mover seu cóccix, apenas arqueie ligeiramente as costas, fica fantástico”, diz ela alegremente. “Aquelas cenas de orgia foram incríveis.”
Quando ela se formou na escola de teatro, em setembro de 2017, McAlpine já havia feito “algumas cenas de beijo” e simulações de sexo em um curta-metragem (não penetrante, ela acrescenta). Em seguida, participou de uma oficina liderada por Ita O’Brien, aclamada como uma das precursoras da “profissão de intimidade”.
O sexo em Pobres Criaturas foi intensamente questionado. Lanthimos disse que “nunca entendeu o puritanismo” sobre o sexo no cinema, especialmente dada a atitude rem relação às representações de violência, mesmo para públicos mais jovens.
McAlpine disse: “Estamos muito mais dispostos a assistir a um estupro do que a uma cena sexual totalmente consensual, um pouco fora do convencional. O que isso diz?”
De certa forma, Pobres desafia essa narrativa. A descoberta do sexo por Bella – sozinha e com parceiros – é fundamental para seu desenvolvimento; um prazer comparado à comida, música e dança.
A curiosidade infantil da personagem e a busca alegre por seus impulsos básicos são “tão bonitos”, diz McAlpine. “Acho que há uma separação entre a cabeça e o corpo, em geral, em nossa sociedade – somos tão cerebrais.”
Pobres Criaturas está em exibição nos cinemas.
