Já em exibição nos cinemas brasileiros, Som da Liberdade se tornou um dos hits de 2023, mas está envolto em inúmeras controvérsias, sendo vinculado a grupos de teorias da conspiração de direita.
Dirigido e coescrito por Alejandro Monteverde, o filme é um thriller de ação de baixo orçamento sobre um agente federal dos EUA que se torna um renegado em uma missão para resgatar crianças na América Latina do tráfico sexual.
Desde o seu lançamento em 4 de julho, arrecadou mais de US$ 180 milhões na bilheteria doméstica, superando grandes produções como Missão: Impossível 7 e Indiana Jones e a Relíquia do Destino, tornando-se o filme independente de maior bilheteria desde Parasita em 2019.
Promovido como uma história sobre Tim Ballard, uma figura real que foi agente especial do Departamento de Segurança Interna e fundador do grupo de combate ao tráfico humano Operation Underground Railroad (O.U.R.), Som da Liberdade tem sido alvo de controvérsias devido a críticas de que apresenta representações enganosas da exploração infantil e alimenta teorias da conspiração de extrema-direita associadas ao movimento QAnon.
Essas associações foram promovidas tanto por Ballard quanto pelo ator Jim Caviezel, que é um apoiador proeminente do QAnon há anos. Continue lendo para entender mais dessa controvérsia.
A polêmica em torno de Som da Liberdade
Muita da controvérsia em torno de Som da Liberdade está ligada a Caviezel e Ballard, que apoiam abertamente o QAnon.
Caviezel, mais conhecido por interpretar Jesus em A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, fez discursos e entrevistas promovendo a teoria da conspiração infundada de que um obscuro grupo internacional de políticos democratas de alto escalão e elites liberais famosas sequestra crianças, as força a entrar no tráfico sexual e colhe adrenocromo de seu sangue para consumi-lo como um elixir da juventude.
A teoria da conspiração, que tem raízes antissemitas, foi desmentida inúmeras vezes por veículos de mídia e pela comunidade científica.
Enquanto isso, Ballard está envolvido em sua própria controvérsia. Além de expressar apoio a falsas alegações associadas ao QAnon, o trabalho de Ballard como ativista contra o tráfico também tem sido alvo de escrutínio.
Dias após o lançamento de Som da Liberdade, a Vice publicou uma extensa investigação sobre como Ballard tem uma história de mitificação de suas ações e exagero de suas proezas, enquanto a O.U.R. “passou anos fazendo grandes alegações, muitas vezes não comprováveis, sobre suas missões paramilitares e seu papel no resgate de crianças traficadas”.
“Várias alegações da O.U.R. sobre seu trabalho são dramaticamente exageradas ou sem evidências documentais claras”, dizia a reportagem. “Pessoas que trabalharam como voluntários para a O.U.R. levantaram preocupações de que a organização poderia, na verdade, estar criando demanda por vítimas de tráfico, indo a países estrangeiros em ‘missões’ disfarçadas que, por vezes, pareciam consistir em percorrer bares e clubes noturnos em busca de meninas menores de idade.”
Mais tarde, naquele mês, a Vice noticiou que Ballard havia se afastado silenciosamente da O.U.R. antes da estreia de Som da Liberdade. As circunstâncias em torno da saída de Ballard não estavam claras.
“Tim Ballard se afastou da Operation Underground Railroad antes do lançamento do filme”, disse a O.U.R. em um comunicado fornecido à TIME. “As operações, táticas e metodologias retratadas em Som da Liberdade ocorreram nos primeiros dias de nossa organização, quase nove anos atrás, e desde então evoluíram dramaticamente. O filme representa apenas uma pequena fração das operações, treinamentos e apoio pós-resgate que oferecemos nos EUA e ao redor do mundo hoje.”
Som da Liberdade também foi criticado por especialistas em combate ao tráfico de pessoas por proporcionar uma “percepção falsa” do tráfico de crianças e promover táticas de “resgate” que podem, na verdade, colocar vítimas reais em perigo.
O filme está em exibição nos cinemas brasileiros.