O Menino e a Garça, novo filme do diretor Hayao Miyazaki (A Viagem de Chihiro), chegou aos cinemas. Esse longa-metragem do Studio Ghibli trouxe o renomado diretor de volta da aposentadoria – vamos ver por quê.
O Menino e a Garça ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA deste ano de Melhor filme animado e concorre ao Oscar 2024 na mesma categoria.
Primeiro trabalho de Hayao Miyazaki nos últimos 10 anos e divulgado como o último de sua carreira, o longa também é o primeiro lançado do Studio Ghibli em nove anos.
“Depois de perder a mãe durante a guerra, o jovem Mahito muda-se para a propriedade de sua família no campo. Lá, uma série de eventos misteriosos o levam a uma torre antiga e isolada, lar de uma travessa garça cinzenta”, começa a sinopse oficial do filme.
“Quando a nova madrasta de Mahito desaparece, ele segue a garça cinzenta até a torre e entra num mundo fantástico partilhado pelos vivos e pelos mortos. Ao embarcar em uma jornada épica com a garça como guia, Mahito deve descobrir os segredos deste mundo e a verdade sobre si mesmo”, conclui a sinopse.
O roteiro, inspirado nas vivências de Miyazaki durante sua infância, transmite mensagens poderosas, incluindo a busca pela paz entre as nações em um mundo dilacerado por conflitos.
Confira, abaixo, por que O Menino e a Garça fez Miyazaki sair da aposentadoria.
Miyazaki queria contar a história da sua vida
O produtor de Hayao Miyazaki há décadas, Toshio Suzuki – também cofundador e presidente do Studio Ghibli – admitiu que até ele ficou surpreso quando Miyazaki, hoje com 83 anos, entrou em contato com ele em 2016 para dizer que queria fazer outro filme.
“Foi apenas três anos depois que ele anunciou sua aposentadoria e, naquela época, eu acreditava sinceramente que não faríamos mais nenhum filme juntos”, disse Suzuki, que conversou com o The Hollywood Reporter. “Miyazaki disse que, porque achou ‘muito embaraçoso voltar depois de anunciar que estava me aposentando, não vou me mostrar em público’. ”
Meses depois, Suzuki recebeu storyboards representando cerca de 20 minutos do que viria a ser O Menino e a Garça e passou um fim de semana pensando em como responder.
“Eu sabia que ele realmente queria fazer esse filme, então tive que decidir se deveria deixá-lo fazer ou não. Finalmente, analisei os storyboards no domingo à noite, e estava muito bom. Era muito interessante e cativante”, disse ele, acrescentando: “Estava muito claro o que ele queria fazer. E o que ele queria fazer era basicamente contar a história de sua vida. Pude perceber que seria algo muito epicamente pessimista.”
Na manhã seguinte, ele foi de carro até o estúdio para se encontrar com Miyazaki.
“Eu havia decidido que diria não ao projeto”, admite Suzuki, devido à aposentadoria muito pública de Miyazaki. “E quando cheguei ao estúdio, o que ele fez foi muito raro. Ele abriu a porta para mim e depois perguntou se eu queria tomar um café. Isso mostrou o quanto ele realmente queria fazer esse projeto. Só de ver isso, todas as minhas objeções desapareceram. Foi nesse momento que decidi que deveríamos seguir com esse projeto.”
Suzuki disse que Miyazaki, quem ele conhece há 45 anos, “não passou a infância sendo esse cara feliz e sortudo, [ao contrário, ele era] muito introspectivo, muito sombrio consigo mesmo”.
Ele acrescenta que a mãe do diretor foi uma pessoa muito importante em sua vida e superou uma doença quando Miyazaki era criança.
“A história é basicamente introspectiva”, diz ele. “Mas [Miyazaki] é muito bom em criar equilíbrio. Assim, quando a história começa a ficar muito sombria, ele sabia que tinha que trazer algo mais brilhante, positivo, para o filme também.”
O Menino e a Garça está em exibição nos cinemas.