Os últimos anos foram marcados por uma onda de retomadas e adaptações, em que sagas antigas encontram novas vozes e direções. Nesse cenário, produções que já pareciam concluídas retornam com vigor inesperado, mesclando nostalgias do público veterano e curiosidade dos recém-chegados.
Dentro desse movimento, algumas franquias se destacam ao atualizar conceitos, retornar a personagens clássicos e criar tramas que conectam várias fases temporais. É nesse contexto de revisões e junções improváveis que o novo filme do Karatê Kid, intitulado Karatê Kid: Legends, se apresenta ao público, prometendo unir diferentes linhas narrativas e incorporar elementos que antes pareciam incompatíveis.
Essa junção de lendas, quando divulgada, causou grande estranhamento no público pela ausência de Johnny Lawrence (William Zabka) no próximo longa. Esse personagem, que começou como antagonista no clássico de 1984, ganhou importância ao longo de Cobra Kai, tornando-se peça essencial na expansão do universo do karatê. No entanto, embora o novo filme misture peças do passado e do remake de 2010, Johnny não integra o elenco principal desta vez.
A decisão surpreende porque, após a série da Netflix, Johnny deixou de ser apenas o rival de Daniel LaRusso (Ralph Macchio). Ele evoluiu, revelou camadas desconhecidas e conquistou um lugar único no coração dos espectadores. Sua jornada foi tão cativante que esperava-se que o personagem continuasse sendo um dos pilares em qualquer projeto que levasse o nome Karatê Kid adiante, principalmente quando há a promessa em torno da reunião de lendas da franquia.
Conexões que priorizam outro eixo narrativo
Apesar do apelo que Johnny representa, a ausência dele não é um acaso. O novo filme, ao unir Daniel LaRusso e Mr. Han — personagem vivido por Jackie Chan no longa de 2010 —, concentra-se em um diálogo diferente, mais ligado à herança do Sr. Miyagi e à relação entre tradições distintas. Johnny, embora importante, não teria no enredo a mesma função que Daniel, cuja conexão com Miyagi foi o núcleo dos primeiros filmes.
A própria natureza da trama em Karatê Kid: Legends parece se voltar a questões que envolvem o passado de Miyagi, a influência deixada para LaRusso e a ligação com o conhecimento de Mr. Han. O foco recai sobre a compreensão dessas raízes, e a presença de Johnny poderia diluir essa dinâmica, deslocando o centro da narrativa.
Há também o fator temporal. Cobra Kai está chegando ao fim de sua sexta temporada, e seu desfecho provavelmente oferecerá ao público uma conclusão coerente para o arco de Johnny. É possível que a série o encaminhe para um destino no qual sua participação no novo filme se tornaria desnecessária ou até incoerente. Se Johnny alcançar uma resolução pessoal, dedicando-se à família e a novos caminhos, talvez não haja razão para envolver-se nessa nova história.
Além disso, Karatê Kid: Legends tem a missão de justificar sua existência em meio a tantas produções. Se cada personagem da saga retornasse sempre, o filme correria o risco de soar repetitivo, sem espaço para abordagens inéditas. A ausência de Johnny, embora sentida, pode abrir margem para que outros aspectos ganhem destaque.
Karatê Kid: Legends aposta em um outro tipo de reencontro, mais centrado na figura de Daniel e no mestre de outro contexto, Mr. Han. Johnny Lawrence, agora ausente, deixa claro que o universo do karatê pode seguir por caminhos diferentes, não apenas repetindo o que funcionou antes, mas explorando novos tons e significados.
Se a decisão de manter Johnny longe do centro das atenções é positiva ou não, o público descobrirá com o final de Cobra Kai e com o lançamento do novo longa. Enquanto isso, resta apenas a curiosidade sobre o que o destino reserva para esse personagem tão querido e qual será o próximo passo de um universo que, claramente, não se intimida ao se expandir exponencialmente.
Karate Kid: Legends tem estréia prevista para maio de 2025 na Netflix.