No longíquo verão americano de 2017, Guy Ritchie dirigiu um dos maiores fracassos do ano com Rei Arthur: A Lenda da Espada. Foi um dos grandes desastres da carreira do cineasta britânico, e mais uma das inúmeras franquias que a Warner Bros planejava iniciar, mas que acabou não rendendo o esperado.
Em seu final de semana de estreia, a reinvenção do Rei Arthur rendeu apenas US$14 milhões nas 3.000 salas pela América do Norte, com mais US$43.8 milhões em mercados internacionais; totalizando US$43.8 milhões mundialmente. É um péssimo resultado para um filme que teve US$175 milhões de orçamento. No total, o filme rendeu US$148 milhões, não sendo capaz nem de cobrir seu custo total em seu período de exibição. É a definição de um grande fracasso, que ainda teve uma aprovação de 27% no agregador do Rotten Tomatoes.
O que provocou o fracasso?
Sejamos bem sinceros aqui: precisávamos mesmo de mais uma adaptação de Rei Arthur? É uma história imortal e que já rendeu diversas releituras interessantes, mas nunca foram necessariamente um fenômeno de bilheteria. O recente O Menino que Queria Ser Rei, que também oferece uma releitura da clássica lenda, foi um dos primeiros fracassos de bilheteria de 2019. Por incrível que pareça, e isso é apenas uma coincidência curiosa, até Transformers: O Último Cavaleiro e o reboot de Hellboy foram mal de bilheteria – e, pasme, ambos trazem o Rei Arthur como elementos centrais da narrativa.
Isso demonstra que talvez o público não tenha mais interesse nessa história. E é bizarro pensar que a Warner Bros cogitava não um, mas cerca de 12 filmes para o que seria um universo compartilhado iniciado por A Lenda da Espada. O plano do estúdio era fazer um filme centrado em cada Cavaleiro da Távola Redonda, que já eram parcialmente introduzidos no filme de 2017. O plano, nem precisamos dizer, foi completamente abandonado pelo estúdio.
Não ajudou também que a Warner tivesse escolhido uma data de estreia pouco estratégica. A Lenda da Espada chegou aos cinemas em maio, algumas semanas depois do lançamento de Guardiões da Galáxia Vol. 2, que se tornou uma das sensações daquele verão americano, que ainda contava com o sucesso bilionário de Velozes e Furiosos 8.
Outro fator que pode ter influenciado no resultado é o da grande estrela. Guy Ritchie fez sucesso com seus dois filmes de Sherlock Holmes, mas eles contavam com ninguém menos do que Robert Downey Jr., o grande astro do Universo Cinematográfico da Marvel Studios e um dos atores mais bem pagos de Hollywood. Rei Arthur: A Lenda da Espada conta com Charlie Hunnam, um ator de cacife bem menor, e ainda que talentoso, conhecido apenas por aqueles que assistiam a Sons of Anarchy. Não é exatamente um nome que atraia dinheiro, como comprovam também os resultados medianos de filmes como Círculo de Fogo e Z – A Cidade Perdida.
Mas talvez o grande motivo seja ainda mais simples: A Lenda da Espada não é um filme particularmente bom. É longe de ser ruim, como diriam as críticas mais exageradas, mas definitivamente é um pouco acima do mediano. Há um desequilíbrio entre o tom mais realista e brutal, que vemos no trabalho mais icônico de Ritchie (como Snatch: Porcos e Diamantes e RockNRolla), e o aspecto mais fantasioso que definitivamente não é a especialidade do diretor – e lembro-me bem das sequências de ação com CGI parecerem um videogame ruim.
Ao menos o fracasso de Rei Arthur: A Lenda da Espada não queimou Guy Ritchie. Ainda em 2019, ele recuperou o gás ao comandar o remake live-action de Aladdin, que já passou da casa dos US$810 milhões (literalmente mais do que as bilheterias de A Lenda da Espada e O Agente da UNCLE, seu filme anterior, combinadas), e o diretor deve voltar às origens com o filme de ação The Gentlemen.
Rei Arthur: A Lenda da Espada foi um grande fracasso, e deveria ter ensinado ao cinema – que insiste em apostar no erro – que o público simplesmente não tem mais interesse em lendas clássicas.