Não é de hoje que Hollywood investe pesado em remakes ou reboots. Nem todos, contudo, são necessários ou bem-sucedidos. Esse pode ser o caso de O Salário do Medo, que ganha nova versão na Netflix.
“Quando uma explosão em um poço de petróleo ameaça centenas de vidas, uma equipe de salvamento é chamada para cruzar o deserto com um carregamento de nitroglicerina”, diz a sinopse oficial.
Caracterizar o filme original, de Henri-Georges Clouzot, como uma das experiências cinematográficas mais tensas seria um eufemismo. Isso não quer dizer, no entanto, que o suspense que permeia a adaptação de Clouzot do romance de Georges Arnaud seja totalmente um produto das apostas letais em jogo à medida que o impulso narrativo acelera.
Em vez de mergulhar o público diretamente na companhia dos personagens principais do filme enquanto fazem a nervosa viagem de 480 quilômetros por um território latino-americano formidável, O Salário do Medo passa sua primeira hora apresentando seus personagens desamparados um a um, desenvolvendo suas personalidades distintas e permitindo que os espectadores reconheçam e entendam suas respectivas circunstâncias.
Quando os homens são contratados para realizar uma missão quase certamente fatal, a natureza desesperadora da tarefa que os espera, e as possibilidades aparentemente infinitas de como as coisas podem rapidamente se tornar mortais, são claramente definidas e relacionáveis através da ênfase de Clouzot na exposição baseada em personagens.
Assim que a ação começa, o filme se transforma em um crescendo implacável de um momento de ansiedade após o outro. Dada a volatilidade instável da nitroglicerina sendo transportada, e o conhecimento certo de que dirigir rápido demais, bater no lugar errado na estrada ou o menor erro de direção poderiam levar a uma colisão, a constante ameaça de morte instantânea nunca sai da mente dos personagens e dos espectadores.
Como se estivessem atravessando o curso de obstáculos mais sensível imaginável, os quatro homens encontram uma série de situações extremamente perigosas, incluindo uma plataforma de penhasco de madeira prestes a desabar, uma pedra gigante bloqueando o caminho que precisa ser explodida e uma profunda poça de óleo que quase deixa um dos caminhões preso enquanto se aproxima do fim de sua jornada.
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Explorando cada longa e estendida sequência de suspense ao máximo, o uso habilidoso de Clouzot no cenário, som, edição e ritmo contribui efetivamente para um senso quase insuportável de imprevisibilidade, e sua habilidade como cineasta transforma as ansiedades dos espectadores contra eles de uma maneira que poucos cineastas já conseguiram.
O Salário do Medo já foi adaptado outras vezes
O filme de 1953 pode ser a primeira, e talvez a melhor, adaptação cinematográfica inspirada no romance de Georges Arnaud, mas não é a única. Cinco anos após a estreia do filme de Clouzot, foi refilmado como Violent Road, um filme americano que substitui ameaça de nitroglicerina por combustível de foguete mortal que precisa ser transportado de um ambiente caótico e através de terrenos montanhosos.
Quase duas décadas depois, enquanto estava no auge de sua carreira cinematográfica após o sucesso consecutivo de Operação França e O Exorcista, William Friedkin adaptou o romance de Arnaud com O Comboio do Medo de 1977. Tenso, sombrio e refletindo o sentido de crise existencial de seu antecessor, Esse filme foi famoso por sua produção complicada e desempenho aquém do esperado nas bilheterias, mas tem sido objeto de reapreciações positivas nos últimos anos e foi um favorito pessoal de Friedkin.
Agora, a Netflix lançou uma nova adaptação dirigida pelo cineasta francês Julien Leclercq e estrelada por Franck Gastambide, Alban Lenoir, Ana Giradot e Sofiane Zermani.
Acontece que algumas histórias são atemporais e universais o suficiente para transcender gerações, culturas e contextos sociopolíticos, e o conto de Arnaud sobre quatro indivíduos desesperados se colocando diretamente em perigo por uma chance de uma vida melhor não é exceção.
O Salário do Medo está disponível na Netlix.
