Por que a Oráculo disse a Neo que ele não é “o Escolhido” no clássico de ficção científica de 1999, Matrix? Recém-acordado para a verdadeira natureza da realidade fora da ilusão da Matrix, Neo (Keanu Reeves) é instado por Morpheus (Lawrence Fishburne) a se encontrar com a Oráculo, um programa com extraordinária percepção e intuição.
A Oráculo desempenha um papel seminal na estrutura narrativa de Matrix. Criada inicialmente para interpretar as nuances da psique humana para que as Máquinas manipulassem ainda mais a realidade simulada, a Oráculo posteriormente se afirmou como uma entidade autônoma que auxiliou a Resistência durante a Guerra das Máquinas.
A principal razão pela qual Morpheus fala tão bem da Oráculo pode ser atribuída ao fato de que ela ofereceu uma visão regular aos operativos de Zion, guiando-os em direção à liberdade por meio de conselhos e clarividência.
Mantendo esses fatos em mente, é difícil considerar a Oráculo dizendo a Neo que ele não é “o Escolhido” como uma mera coincidência ou casualidade – a Oráculo pode ter tido suas próprias motivações quando disse isso. Aqui está um mergulho profundo em uma teoria sobre quais eram suas motivações em relação a Neo.
Confusa profecia
A Oráculo não afirma abertamente que Neo não é especial, pois lhe diz que possui os dons necessários para ser o salvador da humanidade. Ela também continua dizendo que seu caminho para cumprir este papel é dificultado pelo fato de que ele está esperando por algo, o que implica que ainda não está pronto para assumir a responsabilidade, conforme o proverbial monomito, ou Jornada do Herói, que narra.
Na trajetória da figura do herói, o herói em questão precisa superar certos obstáculos e chegar a uma compreensão inata da tarefa que lhe é proposta, a fim de ser capaz de crescer naturalmente nesse papel.
Embora a profecia da Oráculo tenha seus opositores dentro do mundo de Matrix, a maioria dos personagens, incluindo o traiçoeiro Cypher, parece acreditar na veracidade da própria profecia, mas tem dúvidas se Neo é aquele que pode cumpri-la.
O mesmo pode ser dito de Neo, que só acredita que não está apto para o papel, o que significa que espera que tudo seja cumprido quando alguém digno aparecer. Isso faz sentido do ponto de vista prático, pois antes do despertar de Neo, ele levava uma existência quase apática e, mesmo depois de aprender sobre a natureza da realidade, ele não exibe automaticamente sinais de conhecimento sobrenatural.
Como Neo ainda não está pronto, ele mesmo insinua à Oráculo que não pode ser o Escolhido, conforme exemplificado na seguinte conversa:
Oráculo: “Certo, agora devo dizer: ‘Hmm, isso é interessante, mas…’ Então você diz…”
Neo: “Mas o quê?”
Oráculo: “Mas… você já sabe o que vou lhe dizer.”
Neo: “Eu não sou o Escolhido.”
Isso deixa claro que é Neo quem chega à conclusão de que ele não é o suposto herói da humanidade, o que permite que a Oráculo o cutuque gentilmente no caminho certo. O que Neo parece estar “esperando” é a inabalável autoconfiança de que ele, de fato, é o Escolhido, que só transparece muito mais tarde, durante sua luta com o Agente Smith (Hugo Weaving).
Este senso de crença e propósito é crucial para qualquer narrativa que lide com a jornada do herói, em que a mudança só vem por meio da ação – o que significa que Neo teve que agir primeiro e depois se tornar quem estava destinado a ser.
No Brasil, os filmes de Matrix, com Keanu Reeves, estão agora disponíveis na Netflix.