Séries como The Vampire Diaries e filmes como Crepúsculo apresentaram os vampiros de outra forma na TV e em Hollywood. De seres assustadores, eles passaram a ser galãs apreciados por um público mais jovem.
No entanto, essa versão dos vampiros, representada principalmente pelo Edward Cullen de Crepúsculo, sempre gerou uma certa polêmica. Com o anúncio de um novo livro da saga, o tema voltou ao foco – mas de maneira bem inesperada.
O Doutor Leslie Kay Jones, professor assistente de sociologia da Universidade de Rutgers, escreveu um artigo para NBC sobre essa representação dos vampiros. Para o professor, na verdade, os personagens como Edward ou Damon e Stefan, de The Vampire Diaries, são “predadores sexuais”.
O professor coloca a trama de Crepúsculo de outra forma. Como se sabe, Sol da Meia-Noite, o novo livro da franquia, conta os eventos da saga sob a perspectiva de Edward.
“Mas, alguém em 2020 ainda precisa de um conto mais detalhado de como um homem de 100 anos finge ser um estudante de ensino médio para perseguir uma garota de 17 anos por que o sangue dela ‘tem cheiro doce’?”, questiona o professor.
O pesquisador ainda continua, filme e séries como de Buffy, a Caça-Vampiros e The Vampire Diaries fazem o público acreditar que romances entre jovens garotas e vampiros centenários “simplesmente acontecem”.
“Se você não cresceu em uma dieta rigorosa de ficção sobre vampiros, você deve estar alegremente inconsciente sobre a obsessão do gênero”, avisa Jones.
Vampiros não se apaixonam
O primeiro exemplo citado pelo professor é o de Buffy. Na série, no 14° episódio da 2ª temporada, Angel, o namorado de 240 anos da protagonista, perde a alma depois de fazer sexo com a adolescente de 17 anos.
Jones chama atenção para o fato de que Buffy tinha feito 17 anos alguns episódios antes. “Em muitos estados é a idade do consentimento sexual e a idade mágica de Hollywood em que parece deixar de ser estranho uma garota do ensino médio ter relações com alguém que tem 14 vezes a idade dela”, aponta o pesquisador.
A idade também é crucial em Crepúsculo e The Vampire Diaries. Bella e Elena, as protagonistas das produções, começam a ser perseguidas pelos vampiros quando completam 17 anos.
Jones aponta que Buffy parece “não ter um tema problemático” em comparação com as histórias de Anne Rice, de Entrevista com o Vampiro, em que os pares sexuais violam as regras de consentimento.
“Mas o quanto mais você vê e pensa sobre isso, essa tropa de vampiros muito mais velhos e garotas menores de idade revelam uma crença nojenta, mas persuasiva sobre homens, crianças, poder e sexo”, observa ainda o pesquisador.
“As histórias de vampiros de ensino médio” estariam sugerindo que como cultura, as pessoas aceitem que é “romântico” ter homens mais velhos perseguindo garotas menores de idade, “desde que usem sua sabedoria (de séculos) para mostrar outra visão do mundo para elas, enquanto as protegem dos perigos que eles representam e podem antecipar”.
Jones ainda afirma que essas histórias normalizam “a lógica que abusadores usam para cuidar das vítimas na vida real”. Essa lógica seria de que um homem mais velho é impotente “para renunciar aos afetos de uma adolescente impossivelmente única e obstinada, que só é digna dos afetos dele”.
O pesquisador acha que essas produções como Crepúsculo não levam em conta o verdadeiro consentimento. De um lado há um vampiro de centenas de anos com poderes sobrenaturais, enquanto do outro há uma adolescente.
Outro problema seria a representação dos pretendentes adolescentes dessas garotas. “São desenhados como infantis e incompetentes para a corajosa protagonista”, aponta Jones. Enquanto os vampiros são “uma figura quase-paterna autoritária” que podem controlar as parceiras, no lugar de ser um igual para elas.
Para o professor, Crepúsculo só consegue criar a tensão entre Edward e Bella quando a garota está em perigo – com ele criando uma conexão ao sequestrá-la. O que também é problemático é o vampiro “brigar com outro adolescente de 17 anos pela virgindade dela”.
O pesquisador, então, questiona qual é o ponto de voltar com Crepúsculo em 2020. Por um lado, para ele, parece ser valorizar a história de Edward e “o objetivo da vida fantasiosa” de casar com uma garota de 18 anos depois de namorá-la por dois anos.
Jones lembra também que a capa de Crepúsculo tem uma maçã como referência ao fruto proibido do conto bíblico do Jardim do Éden – o que foi revelado pela autora Stephenie Meyer. Críticos, assim, teriam afirmado que a saga tem uma reflexão sobre casamento e sexo, já que Bella casa com Edward após ter perdido a virgindade com ele.
Porém, o professor aponta o grande problema nisso: “É sobre poder e consentimento, sobre caracterizar a relação sexual de um homem mais velho e uma garota que ele se aproximou pelo propósito de ser o ‘fruto proibido'”.
Com essa conclusão, Jones elogia as séries Shadowhunters e Legacies, derivada de The Vampire Diaries, que buscam relações entre jovens – sem ter uma figura paterna sobrenatural como par romântico.
Os produtores das séries e filmes citados ainda não responderam ao artigo.
Sol da Meia-Noite, novo livro de Crepúsculo, chega em 4 de agosto.