A morte de um papa é sempre um marco para a Igreja Católica. Quem não se lembra, por exemplo, da repercussão em torno da escolha do Papa Francisco em 2013? A expectativa e as especulações sobre quem ocuparia o cargo máximo da Igreja Católica dominaram as manchetes dos jornais e as conversas ao redor do mundo naquele ano e, só após dois dias de conclave e cinco votações, o cardeal argentino foi eleito pontífice.
Em Conclave, esse acontecimento desencadeia uma série de eventos que expõem as tensões políticas e morais dentro do Vaticano. No filme de Edward Berger, somos imersos em um ambiente de intensa pressão e intriga, onde cardeais de diferentes partes do mundo se reúnem para eleger o novo papa.
No centro da história está o cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), que enfrenta uma crise de fé enquanto tenta navegar pelas águas turbulentas do vaticano. Sua jornada é marcada por dilemas morais e desafios que o forçam a confrontar suas próprias convicções e responsabilidades.
Durante o conclave para eleger um novo papa, Lawrence se encontra diante de candidatos que personificam os desafios modernos da Igreja. Escândalos, conspirações e a luta entre conservadorismo e progressismo são colocados como pano de fundo enquanto os cardeais disputam o poder. Embora ele deseje manter-se distante da posição de autoridade, sua responsabilidade e a crise de fé o colocam em uma posição vulnerável.
No entanto, no meio da tensão, surge o cardeal Vincent Benitez, um nome pouco conhecido e praticamente ignorado durante boa parte do processo. Benitez, um mexicano de origem humilde e com uma trajetória discreta como cardeal em Kabul, desperta atenção após um incidente traumático dentro da Capela Sistina.
O papel de Benitez no desfecho do conclave
Durante o conclave, Benitez conquista a confiança de Lawrence e de outros cardeais por sua integridade e resiliência. O cardeal é eleito papa, adotando o nome de Papa Innocente. Para Lawrence, a eleição de Benitez traz alívio, já que ele não queria assumir o cargo, ao tempo em que temia que o papado caísse nas mãos de um dos candidatos corruptos.
A celebração, no entanto, é breve. Após o anúncio de Benitez como papa, Lawrence descobre um segredo sobre o novo líder da Igreja. Benitez revela ser uma pessoa intersexo, carregando tanto características masculinas quanto femininas desde o nascimento. Este fato, guardado como um segredo profundo, vai de encontro com as rígidas normas de gênero que historicamente definiram a estrutura clerical.
A confissão de Benitez foi acompanhada de um relato pessoal sobre anos de angústia e reconciliação com sua própria identidade. Embora tenha enfrentado pressão para se submeter a uma cirurgia que “corrigisse” seu corpo, ele escolheu permanecer como foi criado, acreditando que sua existência era uma obra divina.
Benitez também atribui sua força ao sermão de Lawrence, que exaltava a importância da incerteza na fé. Para ele, essa mensagem refletia sua vivência como alguém que transita entre dois mundos, oferecendo-lhe uma perspectiva única sobre inclusão e aceitação dentro da Igreja. Para Lawrence, a revelação é um choque, mas também uma oportunidade de reconsiderar sua própria fé e os rumos da Igreja.
Conclave está em cartaz nos cinemas.