Quando Peter Jackson trouxe a monumental trilogia de O Senhor dos Anéis para as telonas, muitos ficaram maravilhados com a grandiosidade da adaptação. No entanto, algumas escolhas criativas geraram discussão entre os fãs mais atentos. Entre elas, as alterações na representação de dois personagens principais, Denethor II (John Noble) e Pippin Took (Billy Boyd). Mas por que essas escolhas foram feitas? Vem entender.
Denethor II no livro: um líder complexo, mas honrado
Nos livros de J.R.R. Tolkien, Denethor II é descrito como um homem digno, embora profundamente marcado pelas pressões de liderar Gondor e pelas perdas pessoais. Ele é severo e distante, especialmente em relação ao filho Faramir, mas nunca chega a ser um tirano ou abusivo como o retratado no cinema.
Sua complexidade como personagem está nas suas fraquezas humanas: o orgulho, o medo de Sauron e a dor de perder Boromir, seu filho favorito. Essa representação faz com que o ato de Pippin jurar lealdade a ele seja visto de forma completamente diferente. No livro, essa decisão reflete a boa percepção de Pippin sobre o caráter de Denethor II. Apesar de suas falhas, ele é um líder que luta pelo bem de Gondor e se preocupa com o destino de seu povo.
Denethor II no filme: uma figura decadente e tirânica
Na adaptação cinematográfica, Denethor II é apresentado como um homem consumido pela loucura, incapaz de lidar com a perda de Boromir e cego para as qualidades de Faramir. Ele é constantemente retratado em cenas que destacam sua crueldade e decadência, como na já icônica sequência em que ele come grotescamente enquanto Faramir é enviado a uma missão suicida.
Essa mudança no personagem teve consequências importantes para a narrativa dos filmes. Ao retratar Denethor II como um vilão em potencial, Jackson conseguiu criar um contraste mais forte entre ele e Aragorn, reforçando a liderança heróica deste último. Contudo, isso também diminuiu a importância de Denethor II como uma figura trágica e humana, um dos aspectos que tornavam sua história tão rica nos livros.
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Pippin: de herói sensível a personagem subestimado
A escolha de Peter Jackson em transformar Denethor II em um tirano também teve impacto direto na percepção de Pippin. No filme, sua decisão de servir Denethor II parece inocente, quase tola, reforçando a ideia de que ele é um personagem bondoso, mas sem grande discernimento. Gandalf, inclusive, demonstra certa irritação com essa decisão, contribuindo para essa visão.
Nos livros, no entanto, o juramento de Pippin é visto como um ato de coragem e lealdade. Ele reconhece em Denethor II um líder digno, mesmo que imperfeito, e sua ação reflete um crescimento significativo de seu personagem. Esse contraste entre as duas versões demonstra como as escolhas de adaptação podem alterar completamente o impacto emocional de uma história.
Por que essas mudanças foram feitas?
A adaptação de O Senhor dos Anéis para o cinema exigiu uma grande quantidade de material, o que exigiu decisões drásticas. Ao simplificar o arco de Denethor II, Jackson conseguiu criar um vilão, instantaneamente compreensível para o público. Isso também tornou Faramir mais simpático, o que foi necessário, já que outras alterações no filme o fizeram parecer mais fraco do que nos livros.
Essas mudanças, apesar de polêmicas, também resultaram em momentos cinematográficos poderosos. A sequência em que Pippin canta The Edge of Night enquanto Denethor II devora sua refeição grotesca e Faramir cavalga rumo a um destino mortal é uma das cenas mais impactantes da trilogia. Ela captura a essência da mensagem de Tolkien sobre o desperdício e a frivolidade da guerra, mesmo que à custa da fidelidade ao material original.
A trilogia de O Senhor dos Anéis está disponível no Prime Video.
