Cenas de nudez podem variar de uma representação sensível e relevante para a história até uma exploração desnecessária que pode prejudicar a qualidade do filme. Quando mal executadas ou inseridas de forma inadequada, essas cenas podem, de fato, deixar um gosto amargo na boca do espectador e até mesmo comprometer a experiência cinematográfica como um todo.
É importante que os cineastas considerem cuidadosamente a inclusão de cenas de nudez, garantindo que elas sejam fundamentais para o enredo ou o desenvolvimento dos personagens. Quando as cenas de nudez são inseridas apenas por choque ou apelo sensacionalista, elas podem parecer fora de contexto e até mesmo ofensivas para o público.
Confira alguns casos:
Anticristo
Entendemos que nem todas as cenas de sexo em Anticristo, de Lars von Trier, são horríveis. Na verdade, a cena de abertura é tão bem filmada e emocionalmente intensa que alguns a consideram uma das melhores cenas de sexo do cinema.
Perto do final da trama, a personagem sem nome interpretada por Charlotte Gainsbourg passa por uma transformação chocante. Ela deixa de ser apenas uma mãe de luto por seu filho perdido para se tornar algo quase animal. No entanto, permanece ambíguo se essa mudança é resultado de sua dor (e da falta de empatia de seu marido) a empurrando para o limite, ou se ela foi corrompida por algum tipo de mal antigo e poderoso.
Durante uma cena de sexo com seu marido (Willem Dafoe), a personagem de Gainsbourg subitamente entra em um estado histérico, acusando-o de não amá-la mais. Em seguida, ela o golpeia na virilha com um pedaço de lenha, castrando-o instantaneamente. Posteriormente, ela parece horrorizada com suas próprias ações, mas em um momento seguinte, está acariciando o pênis dele novamente. Evitaremos detalhes perturbadores, mas a partir desse ponto, a cena se torna ainda mais sangrenta.
Esta cena marca o momento em que o terror do pavor existencial se transforma em um horror revoltante e repugnante. Considerando que os maiores méritos deste filme de terror residem em sua capacidade de provocar desconforto sem recorrer a sustos repentinos ou mortes sangrentas, essa cena de sexo violento é onde o filme parece desmoronar. O filme está no Prime Video.
O Último Tango em Paris
A cena nua de O Último Tango em Paris é chocante não apenas pelo seu conteúdo, mas também pelos eventos que ocorreram nos bastidores. Na cena notória, Paul (Marlon Brando) usa um palito de manteiga como lubrificante enquanto agride sexualmente Jeanne (Maria Schneider).
Schneider estava ciente de que iria filmar uma cena em que sua personagem seria agredida, porém o diretor Bernardo Bertolucci omitiu um detalhe: o fato de que Marlon Brando espalharia manteiga por todo o corpo. Bertolucci optou por não informar Schneider sobre isso, buscando capturar uma reação genuína da atriz durante as filmagens. “Eles só me contaram sobre isso antes de termos que filmar a cena e eu estava com tanta raiva”, disse Schneider ao The Daily Mail.
Embora a cena tenha sido concebida para ser perturbadora e não sensual, isso não justifica a escolha do diretor de humilhar sua atriz na vida real apenas para obter uma performance convincente.
Para piorar a situação, Bertolucci afirmou ao The Guardian que sentia que Schneider “era uma garota de 19 anos que … nunca havia atuado antes”, acrescentando que “eu não disse a ela o que estava acontecendo porque sabia que sua atuação seria melhor”. Essas declarações sugerem uma falta de confiança nas habilidades de atuação da protagonista e uma disposição do diretor em manipulá-la para alcançar o resultado desejado. Disponível no Prime Video.
A Força em Alerta
Nenhum filme de ação de Steven Seagal parece estar completo sem a presença de uma mulher deslumbrante, e A Força em Alerta nos apresenta Jordan Tate (Erika Eleniak), uma stripper que literalmente explode de dentro de um bolo no meio de um navio de guerra, sem ter ideia de que a embarcação foi tomada como refém.
Como muitos dos personagens do filme, Jordan estava esperando uma festa, não um confronto armado, e é intrigante acompanhar uma stripper e um cozinheiro (Seagal) enfrentando dezenas de bandidos. No entanto, será que o filme realmente precisava focar nas nádegas de Jordan?
Jordan está completamente alheia ao que está acontecendo porque havia tomado muitos comprimidos para enjoo durante o voo de helicóptero e acabou adormecendo dentro do bolo. Quando finalmente desperta, toma a decisão questionável de iniciar sua rotina de strip-tease.
Normalmente, a maioria das pessoas que acordam em um lugar desconhecido não iria imediatamente começar a se despir. Imagine se Thomas (Dylan O’Brien) de Maze Runner: Correr ou Morrer acordasse em um elevador misterioso sem memória alguma e instantaneamente arrancasse sua camisa para exibir seu abdômen. Ou se Adam (Leigh Whannell) e Lawrence (Cary Elwes) de Saw acordassem em uma situação similar e só conservassem seus boxers. Isso simplesmente não faria sentido. Filme disponível no Star+.
Piranha 3D
Piranha 3D é um remake que talvez não fosse necessário. O filme se assemelha muito a “Jaws” – mas com um toque adicional de choque, como um peixe comedor de homens mastigando um membro masculino, apenas para cuspir momentos depois. A quantidade excessiva de nudez em Piranha 3D é tão abundante que os espectadores podem se sentir entorpecidos por ela. No entanto, há um momento que destaca o exagero deste filme.
Em uma cena, duas mulheres vestindo apenas nadadeiras são mostradas se acariciando debaixo d’água em uma sequência prolongada. Enquanto isso, na superfície, o pornógrafo Derrick (Jerry O’Connell) as filma, comentando sobre como vê-las deslizando pela água como sereias quase o faz querer ter relações sexuais com peixes. Esta descrição é, sem dúvida, demasiadamente detalhada. As estrelas pornôs Danni (Kelly Brook) e Crystal (Riley Steele) não recebem muito desenvolvimento de personagens antes de encontrarem seus fins sangrentos (além de uma dinâmica genérica de boa/má garota), o que frustrou muitos fãs. Se podemos permitir um trocadilho relacionado a peixes, os dois personagens existem apenas como isca.
Embora compreendamos que o sexo e a violência do filme sejam intencionalmente exagerados, essa cena de nudez subaquática parece ir longe demais. Se os cineastas desejavam adotar essa abordagem, por que não simplesmente fazer um filme pornô softcore em vez de gastar um orçamento de US$ 24 milhões em piranhas CGI de qualidade duvidosa? Você encontra no Prime Video.
Penetras Bons de Bico
Em Penetras Bons de Bico, Isla Fisher entrega uma performance vibrante como Gloria, uma personagem sexualmente fervorosa. Embora haja muitas cenas picantes entre Gloria e seu namorado Jeremy (Vince Vaughn), essas situações são principalmente destinadas a arrancar risadas, sem apresentar nudez real até a metade do filme.
Numa cena memorável, Jeremy acorda no meio da noite com um par de mamilos em seu rosto. Ele descobre que Gloria o amarrou à cama e se colocou sobre ele, temendo que Jeremy perca o interesse se ela não se mostrar mais “excitante e aventureira”. Quando Jeremy tenta expressar suas preocupações sobre a situação, Gloria interpreta sua hesitação como medo. O diálogo entre eles é hilário, mas a nudez parece ser desnecessária.
LEIA TAMBÉM
Essa opinião é compartilhada por Isla Fisher, que expressou aos produtores sua preocupação com a ideia de mostrar sua personagem nua. Fisher argumentou que, ao expor demais a personagem, o público poderia passar a vê-la apenas como um objeto de desejo, em vez de um alívio cômico.
Infelizmente, Fisher não conseguiu impedir a inclusão da cena de nudez no corte final do filme. Para compensar a sexualização de sua personagem, ela decidiu elevar ainda mais o tom de sua atuação. “Eu pensei que, para contrabalançar o fato de que veríamos os seios dela, eu teria que torná-la ainda mais extrema para mantermos o aspecto cômico”, explicou ela à Entertainment Weekly. Você pode assistir na Apple TV+.
Madrugada Muito Louca
Não se espera que os filmes Madrugada Muito Louca sejam obras-primas do cinema. No entanto, é justo dizer que muitos fãs esperavam que Harold & Kumar Escape From Guantanamo Bay oferecesse algum tipo de comentário social perspicaz.
Com um título como esse, é compreensível imaginar que o filme exploraria a política pós-11 de setembro da América. No entanto, o filme dedica apenas cerca de 10 minutos à prisão titular. Após algumas piadas, Harold (John Cho) e Kumar (Kal Penn) escapam, deixando para trás grande parte do potencial satírico do filme. O resto da narrativa se transforma em uma comédia despretensiosa que falha em oferecer reflexões inteligentes sobre raça, política ou o sistema de justiça.
O ponto mais baixo do filme ocorre durante uma cena em que Harold e Kumar participam de uma festa sem limites. Cansado das festas com mulheres seminuas, seu amigo Raza interpretado por Amir Talai decide organizar uma rave, acreditando que é uma ideia revolucionária – com um código de vestimenta que exige que todos os participantes estejam nus da cintura para baixo. A cena resulta em uma exibição excessiva de nudez.
O pior aspecto é a falta de equilíbrio de gênero na nudez apresentada. Os espectadores são expostos a dezenas de nádegas femininas nuas e até mesmo a vislumbres de pelos pubianos, enquanto apenas um homem nu é mostrado, o que é usado para fins cômicos. Pode ser encontrado no Prime Video.
Howard, o Super-Herói
Se alguém pensasse que Howard, o Super-Herói não poderia conter cenas de nudez por ser estrelado por um fantoche de pato antropomórfico, estaria enganado.
Logo nos primeiros 10 minutos do filme, somos apresentados não a um, mas a dois patos nus. Primeiramente, Howard (Chip Zien) está relaxando em sua poltrona, folheando uma cópia da revista Playduck Magazine, que traz o título As Garotas do Lago Superior – uma piada com aves que o filme não consegue resistir a fazer.
Nas páginas da revista mostra uma pata seminua posando de lingerie, oferecendo ao público algo que provavelmente não precisava ver. Em seguida, enquanto Howard e sua poltrona são sugados por um buraco de minhoca, ele passa por outro pato relaxando na banheira, com seus seios emplumados claramente visíveis. Surpreendentemente, a câmera mantém o foco nesse personagem de fundo nu, mesmo depois que Howard segue seu caminho.
Adicione a isso um comercial sobre coceira na virilha e a namorada de Howard ligando para contar sobre um sonho molhado (porque aparentemente isso é importante), e a sequência de abertura se torna estranhamente carregada de conotações sexuais. Este não era o tipo de conteúdo que os fãs (ou a maioria deles, pelo menos) esperavam encontrar em uma adaptação de uma história em quadrinhos sobre um pato falante. Somente quando James Gunn deu a esse obscuro personagem da Marvel uma participação especial no final de Guardiões da Galáxia é que os espectadores conseguiram desviar suas mentes desse momento bizarro. Está disponível no Prime Video.
The Room
É verdadeiramente impressionante quando uma cena de sexo é tão pouco sexy que faz toda a plateia rir, e isso é exatamente o que acontece em The Room de Tommy Wiseau, que eleva o termo “hilariamente involuntário” a um novo patamar.
O filme segue Johnny (Tommy Wiseau, que parece ter as mãos ocupadas como diretor, produtor e roteirista) enquanto sua namorada Lisa (Juliette Danielle) se entedia dele e decide dormir com sua melhor amiga.
Como Wiseau retrata o amor de Johnny por Lisa? Ao submeter os espectadores a uma das cenas de sexo mais embaraçosas já vistas no cinema. A sequência é excessivamente longa e filmada mais como um filme softcore do que uma cena legítima de cinema.
O sexo dura exatamente o mesmo tempo que a música de fundo, como se Wiseau não tivesse pensado em cortar ou encurtar a música. (Ou talvez ele estivesse esperando que a cena estivesse pronta para a MTV.) Observadores atentos notaram que Wiseau parece ter reutilizado filmagens de uma cena de sexo anterior para usar em uma cena posterior, aparentemente sem se importar em gravar novamente.
Para piorar, quando Johnny acorda na manhã seguinte, ele sente um forte cheiro de rosa convenientemente colocada ao lado de sua cama. Podemos garantir que absolutamente ninguém age dessa forma após o sexo.
É seguro dizer que essa cena de nudez estraga o filme menos de 10 minutos após o início. Veja no Prime Video.
Uma Secretária de Futuro
Em Uma Secretária de Futuro, Tess (Melanie Griffith), uma secretária, assume o papel de sua chefe ausente (Sigourney Weaver), e rapidamente ascende na hierarquia de um ambiente de trabalho predominantemente masculino.
Na cena próxima ao final do filme, ela é mostrada aspirando sua casa vestindo apenas calcinha e saltos altos. Embora este momento possa ter sido destinado a transmitir a sensação de invencibilidade de Tess e sua indiferença às opiniões alheias, há muitas outras maneiras de mostrar isso sem recorrer à nudez.
É importante notar que ninguém realiza tarefas domésticas nu, como muitos espectadores apontaram. Empurrar um aspirador de pó com os seios expostos não parece nem um pouco confortável. Além disso, a cena levanta questões interessantes, como por que Tess estava com tanta pressa para se vestir completamente naquele dia, mas ainda assim encontrou tempo para colocar um par de saltos altos.
Num filme com inclinações feministas, essa cena de nudez se destaca como uma escolha questionável. Alguns argumentariam que uma cena nua, que parece ceder ao olhar masculino, contradiz o propósito do filme. É importante observar que foi Melanie Griffith quem sugeriu a ideia ao diretor, não o contrário. No entanto, é provável que alguns homens na plateia não estivessem pensando no empoderamento feminino enquanto assistiam a essa cena; mais provavelmente, estavam apenas admirando o corpo de Griffith. Disponível no Star+.
