Não é de hoje que vemos telenovelas de muito sucesso, embora de qualidade algo questionável, renderem excelentes enredos quando transformadas em séries nos Estados Unidos. Dois belos exemplos dessa tendências são a extinta “Ugly Betty” e a atual “Jane, the Virgin” – inspiradas respectivamente no folhetim colombiano “Yo Soy Betty, la Fea” e no venezuelano “Juana, la Virgen”.
Agora, será que o contrário também pode dar certo? Experiências recentes realizadas em países como México e Colômbia provaram que sim – um seriado semanal da TV americana pode se adaptar muito bem ao formato de uma novela diária.
Abaixo, listamos alguns exemplos bem-sucedidos – ou nem tanto – de atrações da terra do Tio Sam que acabaram rendendo ótimos melodramas mundo afora. Confira!
“Revenge”
Quem acompanhou a saga de Emily Thorne (Emily VanCamp) desde a primeira temporada notou certo potencial “folhetinesco” no argumento da série – houve, inclusive, comparações com a trama global “Avenida Brasil”.
Apostando nisso, o showrunner turco Ay Yapim resolveu produzir sua própria versão da história, a qual levou o título de “Íntikam” (Vingança, no idioma turco) e fez muito sucesso na TV local entre 2013 e 2014, com apenas 90 episódios.
A heroína de “Íntikam” teve seu nome trocado para o impronunciável Yagmur Özden e foi designada à atriz Beren Saat, conhecida no Brasil e em vários países da América Latina por ter vivido a protagonista de outra novela famosa, “Fatmagül – A Força do Amor”, transmitida por aqui pela Band.
Já no ano passado, foi a vez de a Colômbia produzir “Venganza”, dramalhão de 125 capítulos que congrega os motes das quatro temporadas de “Revenge”. A estrutura do roteiro foi toda alterada para garantir uma linguagem mais linear à narrativa. Os flashbacks que entremeavam a ação dos episódios iniciais, por exemplo, foram trocados por uma “primeira fase” (artifício comum ao universo das telenovelas) que explicava a origem de Emily Thorne – ou melhor, de Emilia Rivera (Margarita Muñoz).
“Grey’s Anatomy”
O seriado médico que já dura 14 temporadas de absoluto sucesso na TV americana rendeu ainda duas novelas latinas de grande sucesso. Uma produzida na Colômbia, outra no México, mas ambas com o mesmo título: “A Corazón Abierto” (De Coração Aberto).
Os acontecimentos originais foram em sua maioria preservadores, mas alguns personagens tiveram de ser rebatizados para adequar a trama à realidade latina. Meredith Grey (Ellen Pompeo), por exemplo, virou María Alejandra Rivas (Verónica Orozco, na Colômbia / Iliana Fox, no México), enquanto o sedutor Derek Shepherd (Patrick Dempsey) passou a se chamar Andrés Guerra (Rafael Novoa / Sergio Basañez).
“The O.C.”
O drama adolescente que virou hit na década de 2000 teve parte de seu sucesso ressuscitado na Turquia, através do remake batizado de “Medcezir” (Maré, em turco).
A atração adaptou os acontecimentos das duas primeiras temporadas de “The O.C.” em uma novela de 163 episódios, incrementando-os com diversos plots inéditos, o que fez com que “Medcezir” fugisse bastante aos rumos da obra original.
Ainda assim, a versão turca leva uma inegável vantagem: o casal protagonista Yaman (Çagatay Ulusoy) e Mira (Serenay Sarikaya) têm um final feliz, diferente de Ryan (Ben McKenzie) e Marissa (Mischa Barton) no seriado de Josh Schwartz.
“E.R.” / “Plantão Médico”
Com o sucesso dos remakes latinos de “Grey’s Anatomy”, o canal colombiano RCN decidiu apostar em outra adaptação de um drama médico estadunidense. Assim nasceu “Sala de Urgencias”, adaptação do seriado “E.R.”, que na Globo ficou conhecido como “Plantão Médico”.
O projeto fez sucesso ao longo de duas temporadas, totalizando 145 capítulos – duração bem mais enxuta que a da obra original, que contou com 331 episódios divididos em 15 temporadas – e inclusive chegou a ser exibido no Brasil, pelo canal pago Fox Life, sob o título de “Emergências Médicas”.
“Dallas”
Referência de “cafonice” na TV da década de 80, não é de se estranhar que “Dallas” tenha rendido uma autêntica novela mexicana, ainda que meio tardiamente – mais precisamente em 2012, quando o canal local TV Azteca produziu e exibiu “Los Rey”.
Embora o escritor Luis Felipe Ybarra nunca tenha admitido oficialmente a inspiração no programa criado por David Jacobs, ela é evidente no perfil dos personagens e nos acontecimentos do folhetim. O vilão Vado Rey (Leonardo García, à direita), por exemplo, é uma clara recriação do icônico antagonista J.R. Ewing (Larry Hagman, à esquerda).
“Brothers and Sisters”
Desta vez, a adaptação foi oficial. Um acordo firmada entre a Sony Entertainment e a TV Azteca possibilitou a produção no México da telenovela “Secretos de Familia”, que reproduzia, com bastante fidelidade, os dramas narrados ao longo das cinco temporadas da aclamada série “Brothers and Sisters”.
A matriarca Nora Walker, brilhantemente interpretada por Sally Field, teve até seu nome preservado no remake latino, virando Nora Ventura (Ofelia Medina). Mas não adiantou: “Secretos de Familia” foi um grande fracasso de público.
“Grande Hotel”
Não são só os formatos dos EUA que chamam a atenção das emissoras estrangeiras de TV na hora de fazer a transposição série-novela. Considerado a versão espanhola de “Downton Abbey”, o elogiado drama “Grande Hotel” (à direita) – que no Brasil foi ao ar pelo canal Mais Globosat – foi a inspiração da Televisa para produzir, em 2016, a trama mexicana “El Hotel de los Secretos” (O Hotel dos Segredos; à esquerda).
Ambientada no início do século XX (20), a obra levou a assinatura do visionário produtor Roberto Gómez Fernández – filho do icônico Roberto Bolaños, o “Chaves” – e chamou a atenção da imprensa de vários países pelo acabamento técnico e artístico, da qualidade da fotografia à esmerada reconstituição de época.
Mesmo assim, “El Hotel de los Secretos” não conseguiu repetir o sucesso de “Grande Hotel” nem mesmo em seu país natal, onde foi ao ar no horário nobre – com baixíssima audiência.