Imagine acordar em um porão escuro, sem janelas e sem saída, com apenas um telefone desconectado ao seu alcance. Esse é o pesadelo de Finney Shaw, protagonista de O Telefone Preto, longa que chega ao catálogo da Netflix nesta terça-feira (3). O filme, dirigido por Scott Derrickson é um mergulho profundo em um mundo de medo, resistência e mistérios sobrenaturais.
A trama se desenrola na cidade de Denver, em 1978, onde uma onda de sequestros assombra as famílias locais. O responsável pelos crimes é o enigmático “Sequestrador”, interpretado por Ethan Hawke, cuja máscara sinistra esconde não só seu rosto, mas também as intenções sombrias que o movem.
Finney, a mais recente vítima, se encontra trancado em um cativeiro peculiar, onde um telefone preto, aparentemente inútil, se torna sua única conexão com o improvável: as vozes das vítimas anteriores.
Uma atmosfera que prende o fôlego
O enredo transcende o clichê do terror tradicional ao explorar os medos e as vulnerabilidades da juventude para além do sobrenatural. Enquanto tenta escapar, Finney precisa lidar com a presença ameaçadora do Sequestrador e as constantes falhas de seus planos de fuga. Cada toque do telefone traz uma nova esperança, ao mesmo tempo que aumenta o desespero, já que os conselhos das vítimas anteriores o colocam diante de dilemas que testam sua coragem.
Paralelamente, Gwen, a irmã de Finney, tem sonhos perturbadores que parecem revelar pistas sobre o paradeiro do garoto. Contudo, suas tentativas de ajudar, mesmo com o reforço da polícia, esbarram na urgência da situação e no ceticismo dos adultos ao seu redor.
Diferente de outros filmes do gênero, O Telefone Preto se recusa a romantizar o cenário nostálgico dos anos 1970. Aqui, a época é retratada de forma crua e realista, capturando as limitações da tecnologia e o isolamento que permeava as comunidades da época. O subúrbio de Denver é pintado como um local hostil, marcado por violência e pelo desaparecimento de crianças, onde o perigo pode estar em qualquer lugar.
Ethan Hawke entrega uma atuação impecável, trazendo complexidade ao Sequestrador, um vilão que aterroriza com sua presença quase espectral. As máscaras que ele usa, desenhadas por Tom Savini, mudam de acordo com seu estado emocional, uma escolha inteligênte da direção de arte que acrescenta uma camada visual ao desconforto que o personagem provoca. Já Mason Thames, no papel de Finney, é o coração do filme, com uma atuação que transmite tanto a fragilidade quanto a determinação do personagem.
Além da tensão e dos momentos sobrenaturais, o longa apresenta um estudo profundo sobre os desafios e as dores do amadurecimento. A sobrevivência de Finney representa também sua luta para superar medos internos e traumas do passado. A relação com o pai abusivo, interpretado por Jeremy Davies, adiciona outra dimensão ao filme, mostrando que o terror pode estar presente em diversas formas.
O Telefone Preto está disponível na Netflix.