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Chernobyl: O que é real e o que é mentira na série da HBO

Todo mundo sabe o que foi o acidente nuclear de Chernobyl, mas poucas pessoas conhecem os detalhes da tragédia. É isso que a nova série da HBO pretende contar.

Chernobyl está sendo aclamada pela crítica especializada por seu cuidado com detalhes históricos e representação objetiva da tragédia.

Mesmo com grande fidelidade histórica, alguns aspectos da realidade tiveram que ser mudados por propósitos narrativos.

Confira abaixo o que é verdadeiro e o que é falso nos 3 episódios de Chernobyl já lançados!

Episódio 1 – “1:23:45”

O primeiro episódio de Chernobyl foi intitulado com o momento exato em que o reator 4 da usina nuclear explodiu. O alarme de incêndio, no entanto, só foi acionado minutos depois, o que prejudicou os esforços de contenção.

A série começa com a introdução do cientista Valery Legasov (Jared Harris), o vice-diretor do Instituto Kurchatov de Energia Atômica. Em sua primeira cena, o físico aparece gravando fitas que revelam um grande esquema de abafamento da União Soviética. Após gravar o que realmente aconteceu em Chernobyl, Legasov comete suicídio.

Tudo isso é verdade. Legasov morreu exatamente 2 anos após o desastre de Chernobyl. 8 anos após seu falecimento, o físico ganhou o título de Herói da Federação russa, pelo então presidente Boris Yeltsin.

Logo após a morte de Legasov, a série retorna para o exato momento da tragédia. Todas as pessoas mostradas na sala de controle são reais, e todos os funcionários que tentaram conter a explosão morreram dias depois.

Nos primeiros momentos, Chernobyl se mantém perfeitamente fiel aos acontecimentos históricos, chegando a usar excertos do dialogo real, tirados do livro “Vozes de Chernobyl”, de Svetlana Alexievich.

Praticamente todas as personagens que estavam presentes durante a explosão, os funcionários aos diretores, são inspirados em pessoas reais. Infelizmente, algumas histórias não puderam ser aproveitadas pela produção.

Segundo o podcast The Chernobyl Podcast, um funcionário percebeu que o reator explodiu, voltou para a casa, tirou uma soneca e voltou a trabalhar sabendo que morreria em breve.

Grande parte do primeiro episódio de Chernobyl foca na luta para entender o que realmente estava acontecendo. A maioria dos envolvidos acreditava que o núcleo do reator 4 ainda estava intacto, e alguns deles foram responsáveis por controlar a situação: Viktor Bryukhanov e Nikolai Fomin. Vistos como responsáveis pela demora na análise real do que havia acontecido no desastre, os dois foram condenados a 10 anos de prisão, um ano após o acidente. Fomin chegou a tentar suicídio antes de ser preso, mas falhou.

Vasily Ignatenko, o bombeiro que responde aos primeiros alarmes, foi incluído na série para representar todos os primeiros socorristas que foram afetados pela explosão.

Episódio 2: “Please Remain Calm”

Muitas pessoas acreditam que a cidade de Pripyat foi imediatamente evacuada após a explosão em Chernobyl. A série da HBO acerta em cheio ao mostrar que esse não foi o caso: a cidade só começou a ser evacuada 36 horas após o desastre. Na época, os cidadãos ucranianos acreditavam que a evacuação seria apenas temporária, e que eles poderiam retornar para suas casas em breve.

Emily Watson faz sua estreia como a física nuclear Ulana Khomyuk. A personagem é uma das poucas da série que não é baseada em uma pessoa real. Khomyuk é, no entanto, um amálgama de vários físicos e cientistas que trabalharam para conter os efeitos do desastre de Chernobyl.

Legasov menciona que se a “lava” formada pela explosão derretesse o solo do reator e contaminasse os corpos fluviais, o desastre seria inimaginável para grande parte da Europa Oriental.

Para impedir essa tragédia, 3 voluntários: Alexei Ananeko, Valeri Bezpalov e Boris Baranov entraram no porão de Chernobyl e esvaziaram manualmente os perigosos resíduos. A operação foi vista por muito tempo como suicida, mas relatos apontam que Baranov sobreviveu até 2005.

O segundo episódio também mostra como o governo soviético lidou com os primeiros dias do desastre. Mikhail Gorbachev é interpretado por David Dencik, em um ótimo trabalho de maquiagem. Não se sabe o que realmente aconteceu por trás de portas fechadas, mas não é segredo que o desastre de Chernobyl (e a falha em deixá-lo em segredo), foi uma dos fatores mais importantes para a implantação das políticas que eventualmente levaram à dissolução da União Soviética.

Outro personagem introduzido no segundo episódio é Boris Scherbina, o homem que fiscalizou a resposta à crise de Chernobyl. Boris é interpretado por Stellan Skarsgard, e morreu 4 anos após o desastre.

Episódio 3 – “Open Wide, O Earth!”

O terceiro episódio de Chernobyl começa com a missão suicida dos três engenheiros. Na série, eles utilizam tochas de dínamo para iluminarem o caminho, mas na vida real, eles contavam apenas com o tato, segurando nos canos para chegar aos subsolo.

A explicação de Legasov sobre os efeitos da radiação no corpo humano também é cientificamente correta. O cientista explica para Scherbina que as pessoas que foram expostas à altos níveis de radiação se recuperam por um pequeno período, que precede a morte horrível que os aguarda. Os efeitos são mostrados de maneira crua e violenta, em cenas de impressionar até o fã mais exigente de filmes de terror.

A história fica ainda mais triste vista pelos olhos de Lyudmilla Ignatenko, a esposa de um dos bombeiros que atendeu à explosão.

Alguns aspectos da história de Lyudmilla foram modificados. Na série, ela experimenta os efeitos da radiação grávida. Na vida real, ela já tinha dois filhos.

Outra diferença é que, em vários pontos do episódio, Lyudmilla aparece abraçando e tocando no marido. Na realidade, os médicos não permitiram que ela se aproximasse do marido.

Um triste detalhe do funeral de Vasily também é real. O bombeiro foi enterrado descalço, pois seus pés estavam inchados demais. É por isso que Lyudmilla aparece segurando um par de sapatos na cena final do episódio.

Outra parte interessante do episódio 3 é a introdução dos mineiros que foram trazidos para a construção de um túnel que impediria que a “lava” do reator atingisse o lençol fluvial. Tudo isso realmente aconteceu, mas alguns aspectos do plano foram modificados.

Na realidade, não foi Scherbina que solicitou “todo o nitrogênio líquido da União Soviética” para esfriar o reator, mas outra pessoa envolvida no caso.

Dos aproximadamente 400 mineiros que cavaram o túnel debaixo da Unidade 3, é estimado que um em cada quatro morreu devido aos efeitos da radiação. A série acerta em mostrar os mineiros trabalhando nus, já que registros históricos apontam que isso realmente aconteceu.

Chernobyl é exibida todas as segundas pela HBO.

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