O Oscar, um dos prêmios mais prestigiados do cinema mundial, existe desde 1929. No entanto, foi apenas em 1948 que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiu incluir a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, permitindo que obras produzidas fora dos Estados Unidos também fossem reconhecidas na cerimônia. Esta mudança refletiu a crescente importância do cinema internacional e sua influência no cenário cinematográfico global.
Antes da criação dessa categoria, os filmes estrangeiros não recebiam o mesmo tipo de reconhecimento que as produções norte-americanas. A inclusão do Melhor Filme Estrangeiro trouxe uma nova dimensão à premiação, celebrando a diversidade e a riqueza cultural de diferentes países, além de destacar as produções que, muitas vezes, ofereciam perspectivas únicas e inovadoras sobre o mundo.
Desde a sua criação, a categoria de Melhor Filme Estrangeiro tem sido palco de grandes conquistas. Obras de diretores renomados e cinematografias de países diversos conquistaram o cobiçado prêmio, ampliando o alcance do Oscar e sua relevância além das fronteiras dos Estados Unidos. Este reconhecimento também ajudou a consolidar o status internacional do Oscar como o prêmio máximo do cinema.
Ao longo dos anos, a lista de vencedores do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro inclui filmes que marcaram a história do cinema, seja por sua inovação técnica, por suas narrativas poderosas ou por sua habilidade em conectar culturas e audiências ao redor do mundo.
Nada de Novo no Front
Adaptado do romance homônimo de Erich Maria Remarque, Nada de Novo no Front narra a jornada de Paul Bäumer, um adolescente alemão que, junto com seus amigos Albert e Müller, se alista voluntariamente no exército, movido pelo fervor patriótico de sua geração. No entanto, a empolgação inicial é rapidamente substituída pelo choque ao confrontarem a dura e implacável realidade da guerra.
À medida que Paul vivencia os horrores do front, seus preconceitos sobre o inimigo e suas ideias idealizadas sobre o conflito são desafiados e desconstruídos. Mesmo assim, ele é forçado a continuar lutando, preso a um ciclo de sobrevivência sem sentido, enquanto os líderes militares buscam encerrar a guerra com uma última e desesperada ofensiva alemã.
Nada de Novo no Front recebeu amplo reconhecimento em 2023, conquistando os prêmios de Melhor Filme Internacional, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhor Design de Produção. O filme oferece uma visão crua e devastadora sobre os impactos da guerra, destacando sua brutalidade e a perda de humanidade que ela impõe. Onde ver: Netflix.
Drive My Car
Drive My Car, uma adaptação do conto de Haruki Murakami, é uma narrativa delicada sobre duas almas solitárias que encontram coragem para confrontar os fantasmas de seu passado. O filme acompanha Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um ator e diretor teatral renomado, que vive um casamento aparentemente estável com Oto (Reika Kirishima), uma roteirista talentosa e enigmática. Juntos, eles compartilham uma profunda conexão criativa e emocional, embora Oto guarde segredos que Kafuku nunca chega a desvendar completamente.
Quando Oto morre de forma inesperada, Kafuku se vê mergulhado em um luto paralisante, repleto de dúvidas e arrependimentos por não ter compreendido sua esposa por inteiro. Dois anos depois, ainda marcado pela perda, ele aceita dirigir uma peça em Hiroshima e embarca em seu inseparável Saab 900. Lá, é apresentado a Misaki Watari (Toko Miura), uma jovem motorista designada para conduzi-lo. Relutante no início em permitir que alguém assuma o volante de seu carro, Kafuku gradualmente estabelece uma conexão única com Misaki, e juntos eles exploram as dores e as verdades que carregam.
Vencedor do prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2022, Drive My Car também foi indicado em outras categorias, incluindo a de Melhor Filme, consolidando-se como uma obra-prima sensível e profundamente humana. Onde ver: MUBI.
Zona de Interesse
Zona de Interesse, longa-metragem britânico dirigido pelo cineasta Jonathan Glazer, é um drama histórico ambientado na Segunda Guerra Mundial. Adaptado do romance homônimo de Martin Amis, publicado em 2014, o filme narra a vida de Rudolf Höss (Christian Friedel), comandante do campo de concentração de Auschwitz, e de sua esposa, Hedwig (Sandra Hüller). O casal leva uma existência aparentemente tranquila em uma casa com jardim, simbolizando uma vida bucólica e idílica.
No entanto, por trás dessa fachada de normalidade, a realidade é brutal. A família vive ao lado de Auschwitz, o epicentro de um genocídio em andamento. Os gritos abafados de desespero vindos do campo de concentração ecoam pela rotina dos personagens, que não apenas testemunham, mas também são diretamente responsáveis pelos horrores ali praticados.
Premiado no Festival de Cannes e indicado ao Oscar em cinco categorias, incluindo Melhor Filme, Zona de Interesse combina drama, história e guerra para explorar o terror do nazismo sob uma ótica singular e profundamente perturbadora. Com uma abordagem intimista e desconcertante, o longa desafia o espectador a refletir sobre a banalidade do mal e a desumanização em meio a uma tragédia histórica. Zona de Interesse ganhou os prêmios de Melhor Filme Internacional e Melhor Som em 2024. Onde ver: Prime Video.
Druk: Mais uma Rodada
Druk: Mais uma Rodada é um drama dinamarquês que explora os limites entre o prazer e as consequências de nossas escolhas. A trama acompanha quatro professores de ensino médio, cada um enfrentando insatisfações pessoais e profissionais, que decidem testar uma teoria intrigante: manter um nível constante de álcool no sangue pode melhorar a criatividade, a confiança e a qualidade de vida.
No início, os resultados parecem promissores, trazendo um renovado entusiasmo para suas vidas e carreiras. No entanto, conforme a experiência avança, o grupo começa a perceber que a busca por equilíbrio é mais complicada do que imaginavam, e que os riscos envolvidos podem ser devastadores.
Dirigido por Thomas Vinterberg, Druk: Mais uma Rodada conquistou o prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2021 e recebeu uma indicação ao prêmio de Melhor Diretor. Com uma atuação marcante de Mads Mikkelsen e um final que mistura celebração e melancolia, o filme se consolida como uma reflexão poderosa sobre a vida, os excessos e a busca por significado. Onde ver: Netflix.
Parasita
Parasita é uma obra-prima do cinema sul-coreano dirigida por Bong Joon-ho, que combina humor ácido, tensão e crítica social em uma narrativa envolvente. A história segue a família de Ki-taek (Song Kang Ho), que vive em um porão úmido e apertado, lutando para sobreviver em meio ao desemprego e à pobreza.
A vida da família começa a mudar quando Ki-woo (Choi Woo-shik), o filho mais velho, consegue uma oportunidade de dar aulas particulares de inglês para a filha de uma família rica. Encantados pelo estilo de vida luxuoso dos Park, os membros da família Ki bolam um plano meticuloso para se infiltrar completamente na casa: pai, mãe, filho e filha assumem, um a um, posições de confiança na mansão dos Park, escondendo seus laços familiares por trás de uma rede de mentiras.
No entanto, à medida que os segredos e manipulações se acumulam, a frágil fachada começa a ruir, desencadeando consequências devastadoras para ambas as famílias.
Vencedor dos Oscars de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original em 2020, Parasita fez história como o primeiro filme não falado em inglês a conquistar o prêmio principal da Academia. Com uma direção brilhante e performances memoráveis, o filme oferece uma reflexão poderosa sobre desigualdade social e as divisões de classe, tornando-se um marco no cinema contemporâneo. Onde ver: Max.
Roma
Roma é uma obra profundamente íntima e visualmente deslumbrante dirigida por Alfonso Cuarón, ambientada na Cidade do México nos anos 1970. A trama acompanha Cleo (Yalitza Aparicio), uma jovem babá e empregada doméstica que dedica sua vida à rotina de uma família de classe média. Silenciosa e resiliente, Cleo se torna a base emocional da casa enquanto cuida das crianças e mantém a ordem no lar, mesmo enfrentando suas próprias batalhas pessoais.
Ao longo de um ano, eventos inesperados — tanto na esfera pessoal quanto social — começam a abalar a estabilidade da família e da própria Cleo. Esses acontecimentos revelam as complexidades das relações humanas e as tensões sociais da época, traçando um retrato comovente de amor, perda e resiliência.
Roma foi amplamente celebrado por sua abordagem poética e técnica impecável, conquistando os prêmios de Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Fotografia no Oscar de 2019. Filmado em preto e branco, o longa não apenas homenageia as memórias de infância de Cuarón, mas também apresenta uma reflexão universal sobre desigualdade, classe e a força das mulheres no cotidiano. Onde ver: Netflix.
Uma Mulher Fantástica
Uma Mulher Fantástica é um poderoso drama chileno dirigido por Sebastián Lelio, que explora temas de resiliência, identidade e preconceito. A trama segue Marina (Daniela Vega), uma mulher transexual que trabalha como garçonete enquanto persegue o sonho de se tornar uma cantora de sucesso, apresentando-se à noite em clubes de sua cidade.
A vida de Marina sofre uma reviravolta após a morte inesperada de Orlando (Francisco Reyes), seu namorado e maior companheiro. Em meio ao luto, ela enfrenta uma série de desafios: o preconceito da família de Orlando, as suspeitas da sociedade e a luta para provar sua dignidade e direito de ser quem ela é.
Com uma atuação magnética de Daniela Vega, o filme oferece uma narrativa profundamente sensível e impactante, ao mesmo tempo em que denuncia a discriminação enfrentada pela comunidade LGBTQIA+.
Uma Mulher Fantástica foi aclamado internacionalmente e conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018, tornando-se um marco no cinema latino-americano e uma celebração da coragem de ser autêntico em um mundo cheio de intolerância. Onde ver: Netflix.
O Apartamento
O Apartamento é um intenso drama iraniano dirigido por Asghar Farhadi, que mescla suspense e crítica social ao retratar os impactos de um evento traumático na vida de um casal.
Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) são atores e encenam uma montagem da peça A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller. Quando seu prédio é condenado devido ao risco de desabamento causado por uma obra próxima, eles se veem obrigados a se mudar às pressas para um apartamento emprestado.
No entanto, o que deveria ser apenas uma mudança temporária se transforma em um pesadelo quando Rana é atacada por um estranho dentro de casa, enquanto tomava banho. O impacto do ocorrido afeta profundamente a relação do casal: enquanto ela tenta lidar com o trauma, Emad se lança em uma busca obsessiva pela verdade, mergulhando em um dilema moral que o leva a questionar seus próprios limites.
Com uma narrativa tensa e carregada de emoção, O Apartamento conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2017, reforçando a habilidade de Farhadi em construir histórias que exploram a fragilidade humana, as pressões sociais e os dilemas éticos. Onde ver: Prime Video.
Filho de Saul
O Filho de Saul é um drama intenso e visceral dirigido por László Nemes, que oferece uma perspectiva angustiante do Holocausto.
Em 1944, no campo de concentração de Auschwitz, Saul Ausländer (Géza Röhrig) é um prisioneiro judeu forçado a trabalhar para os nazistas como membro do Sonderkommando – grupo encarregado de remover os corpos das câmaras de gás e limpar os vestígios das execuções. No meio dessa brutal rotina, ele faz uma descoberta devastadora: entre os mortos, reconhece o corpo de um menino que acredita ser seu filho.
Movido por um senso desesperado de humanidade, Saul se apega à missão de dar ao garoto um enterro digno, arriscando tudo para encontrar um rabino que possa realizar os ritos fúnebres. Em meio ao horror do genocídio, sua busca pessoal se torna um ato de resistência e uma tentativa de preservar um resquício de dignidade.
Com uma abordagem cinematográfica imersiva, utilizando planos fechados e uma fotografia opressiva, O Filho de Saul proporciona uma experiência angustiante e claustrofóbica, destacando a desumanização e o desespero da época. O filme foi amplamente aclamado pela crítica e venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2016, consolidando-se como uma das representações mais impactantes do Holocausto no cinema contemporâneo. Onde ver: Prime Video.
Ida
Ida é um delicado e introspectivo drama polonês dirigido por Paweł Pawlikowski, que explora temas de identidade, fé e herança histórica.
A trama segue Anna (Agata Trzebuchowska), uma jovem noviça prestes a fazer seus votos e se tornar freira, quando, por insistência da Madre Superiora (Halina Skoczynska), ela é enviada para conhecer sua única parente viva: sua tia Wanda (Agata Kulesza). Wanda é uma mulher cínica e ateia, defensora do Partido Comunista, que revela a Anna um segredo chocante: seu verdadeiro nome é Ida, e ela vem de uma família judia que foi capturada e assassinada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Desorientadas por essa revelação, as duas mulheres partem em uma jornada física e emocional, procurando entender o passado de Ida e o legado de sua família. Durante essa jornada, elas enfrentam dilemas existenciais sobre o significado de pertencimento, identidade e o peso da história, enquanto tentam encontrar seu lugar no mundo.
Com uma direção minimalista e uma fotografia deslumbrante que contrasta belas paisagens com momentos de introspecção, Ida conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional e recebeu uma indicação ao prêmio de Melhor Fotografia. A produção, apesar de seu grande reconhecimento, não está disponível para streaming, o que a torna ainda mais desejada por cinéfilos e apreciadores de cinema artístico.