Quadrinhos

Adaptações de HQs que você nem sabia que existiam

As adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema estão na ordem do dia. Batman, Superman, Homem-Aranha, Thor, Homem de Ferro, Hulk, Capitão América, Os Vingadores… A lista é grande e vem mais por aí como, por exemplo, o esperado Esquadrão Suicida.

Entretanto, adaptar heróis de HQs para a telona não é moda recente, ela é muito mais antiga do que se pensa, tanto que selecionamos algumas adaptações que você, leitor, irá ficar surpreso em saber que existem.

Flash Gordon (1936-1940)

Oficialmente, esta é a primeira adaptação de um herói de HQs para o cinema. Criado pelo grande desenhista estadunidense Alex Raymond (1909-1956), em 1934, a trama girava em torno das aventuras do jogador de polo Flash Gordon em companhia da bela Dale Arden e do brilhante cientista Dr. Hans Zarkov. No Brasil, as histórias eram publicadas pela extinta Editora Brasil-América Ltda., mais conhecida como EBAL.

A história começa quando o Dr. Zarkov constrói uma nave que leva o trio para o planeta Mongo, habitado por alienígenas com culturas muito diferentes entre si e governado pelo cruel tirano Ming, o impiedoso. Flash, Dale e Zarkov unem-se aos habitantes de Mongo para lutar contra Ming.

As aventuras de Flash Gordon foram lançadas nos cinemas em forma de seriado, que variava de 12 a 15 capítulos com uma média de duração de 20 minutos cada um. O ritmo dos capítulos era bem dinâmico, mesmo para os padrões atuais, e com um visual que procurava ser fiel aos desenhos. Flash Gordon era protagonizado pelo campeão olímpico de natação Larry “Buster” Crabbe enquanto Jean Rogers (de Conflito) interpretava Dale Arden (depois seria substituída por Clare Hughes) e Charles B. Middleton (Vinhas da Ira) fazia o papel de Ming.

Vários realizadores se revezavam na direção e foram feitos três seriados do personagem que lotaram os cinemas da época: Flash Gordon (1936), Flash Gordon no Planeta Marte (1938) e Flash Gordon Conquista o Universo (1940), todos estrelados por Crabbe. Os seriados foram selecionados para preservação pelo registro de filmes da Biblioteca do Congresso dos EUA por serem culturalmente, historicamente e esteticamente significativos.

Em 1980, foi feita uma versão do personagem em longa metragem com o canastrão estadunidense Sam J. Jones (franquia Ted) como Flash e o grande ator sueco Max Von Sidow (O Sétimo Selo) como Ming. Mas, é a versão antiga que faz os fãs de cinema vibrarem. Até hoje, em pleno século XXI, ao se assistir às aventuras de Flash Gordon, todos ficam doidos para saber o que vai acontecer no capítulo seguinte…

Veja aqui, o primeiro capítulo de Flash Gordon Conquista o Universo em uma rara versão dublada em português:

https://www.youtube.com/watch?v=16cavPVrNB8

Príncipe Valente (1954)

Príncipe Valente (Prince Valiant no original em inglês) foi criado em 1937 pelo ilustrador canadense Hal Foster (1892-1982), que também ilustrava as HQs de Tarzan. As histórias se destacavam pelas belíssimas ilustrações e também por não usar os famosos “balões” para as falas das personagens. Ao invés disso, colocava-se um texto abaixo dos desenhos repetindo um recurso que era usado nas publicações das primeiras histórias em quadrinhos no final do século XIX. No Brasil, as histórias do Príncipe Valente foram publicadas também pela EBAL. Nos EUA, suas histórias são publicadas até hoje.

Valente – também chamado Val – era um príncipe nórdico cujo reino foi usurpado por um traidor. Val e sua família encontram abrigo na corte de Camelot, governada pelo Rei Arthur. O grande desejo do jovem nobre é tornar-se um dos Cavaleiros da Távola Redonda. Fazendo jus ao nome, tem a coragem como sua principal marca, além da nobreza de caráter, e, ao conseguir o seu intento, passa a viver grandes aventuras.

Em 1954, foi feita uma adaptação do personagem para o cinema dirigida por Henry Hathaway (de Bravura Indômita) com roteiro do próprio Foster junto com Dudley Nichols (O Vingador Invisível). No papel-título estava o então jovem ator estadunidense Robert Wagner (do seriado de TV Casal 20); o grande ator inglês James Mason (Assassinato Por Decreto), como Sir Brack; Janet Leigh (Psicose), como Princesa Aleta; Sterling Hayden (Johnny Guitar), como Sir Gawain; e Debra Paget (Os Dez Mandamentos), como Ilene.

Visto hoje, Wagner parece um He-Man moreno, mas o filme foi bem recebido pela crítica além de ter sido um sucesso de bilheteria. Em 1997, foi feita uma nova versão de Príncipe Valente dirigida por Anthony Hickox (Hellhaiser III – Inferno na Terra) e com Stephen Moyer (da série de TV True Blood) no papel principal, mas não teve o mesmo sucesso.

Veja aqui o trailer oficial de Príncipe Valente (original em inglês):

Tintim e o Mistério do Tosão de Ouro (1961) / Tintim e as Laranjas Azuis (1964)

Muito antes de Steven Spielberg (da franquia Indiana Jones) e Peter Jackson (saga O Hobbit) terem a ideia de, respectivamente, dirigir e produzir As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne (2011), o jovem repórter e seu cãozinho Milu criados em 1929 pelo quadrinista belga Georges Remi – mais conhecido como Hergé (1907-1983) – já tinham uma longa relação com o cinema que começou em 1948 com um filme em animação stop motion que adaptava a história O Caranguejo das Tenazes de Ouro. Além disso, foram feitos vários desenhos também para o cinema e a TV. No Brasil, Tintim era publicado pela editora Record e, atualmente, é publicado pela Companhia das Letras.

O que pode surpreender a geração atual de cinéfilos é que, na década de 1960 foram feitos dois filmes live action de Tintim acompanhado de seu inseparável Milu além do Capitão Haddock, os atrapalhados detetives gêmeos Dupond e Dupont, o Professor Girassol, o mordomo Nestor e toda a turma das histórias originais.

O primeiro filme foi Tintim e o Mistério do Tosão de Ouro (1961), dirigido por Jean-Jacques Vierne (de No Paredão) no qual Tintim vai à Turquia para resolver o mistério envolvendo um navio chamado Tosão de Ouro que foi herdado pelo Capitão Haddock. Tintim era interpretado pelo ator belga Jean-Pierre Talbot, notavelmente semelhante ao personagem, enquanto o Capitão Haddock era vivido pelo ator francês Georges Wilson (O Mais Longo dos Dias). O filme recebeu críticas favoráveis e fez sucesso, mas os fãs de Tintim reclamaram da infantilização do personagem.

Em 1964, veio o segundo filme chamado Tintim e as Laranjas Azuis, dirigido por Philippe Condroyer (da série de TV Le Retour de Arsène Lupin) com roteiro do próprio Hergé e de René Goscinny, um dos criadores de Asterix. Desta vez, Tintim trabalha no caso de laranjas geneticamente modificadas ao mesmo tempo em que parte para a Espanha para resgatar o Professor Girassol que foi raptado pelos vilões. Jean-Pierre Talbot voltou a interpretar Tintim enquanto o Capitão Haddock era interpretado pelo francês Jean Bouise (de Z). A recepção desta vez foi menos favorável, mas as crianças amaram em ver novamente seu herói preferido em carne e osso.

Veja aqui o trailer de Tintim e as Laranjas Azuis (dublado em alemão):

Tank Girl (1995)

Tank Girl é uma HQ britânica criada em 1988 pelo inglês Jamie Hewlett, mais conhecido por ser um dos criadores da banda de Rock virtual Gorillaz. A arte da revista era influenciada por um visual punk e suas histórias eram propositalmente desorganizadas, anárquicas, absurdas e psicodélicas e usavam técnicas surrelistas, de fanzines, colagens, e recursos de metaficção. No Brasil, Tank Girl foi publicada na extinta revista de quadrinhos Animal.

Tank Girl (cujo nome verdadeiro é Rebecca Buck, que quase nunca usa) é uma garota punk que vive em uma Austrália futurista e pós-apocalíptica (soa familiar, fãs de Mad Max?), dirige um tanque de guerra – daí o apelido – que também lhe serve de casa, trabalha como caçadora de recompensas, fuma um bocado, bebe todas, adora soltar puns e tirar meleca do nariz, cospe a toda hora e só fala palavrões. Seu namorado chama-se Booga, um canguru mutante, mas isso não a impede de dar as suas escapadinhas de vez em quando… Um dia, falhou em cumprir uma missão para o governo australiano e tornou-se uma fora-da-lei, com uma alta recompensa por sua cabeça.

Em 1995, foi feita uma adaptação de Tank Girl para o cinema com direção de Rachel Talalay (de A Hora do Pesadelo 6) e roteiro de Tedi Sarafian (Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas). O papel-título ficou com a esquisitona, mas bonita, Lori Petty (Free Willy), o rapper Ice-T interpreta Booga, a inglesa Naomi Watts (Birdman) vive a mecânica Jet Girl e o inglês Malcolm McDowell (Laranja Mecânica) é o vilão Kesslee. A trilha sonora é composta de canções de Ice-T além de Björk, Devo, L7, Hole, Bush e Joan Jett.

Na época de seu lançamento a crítica torceu o nariz para o filme, que fracassou nas bilheterias, mas tornou-se um Cult Movie, com milhares de seguidores fanáticos da obra. Além disso, tem temas anti-establishment e, muito antes de Mad Max: Estrada da Fúria (2015), é um filme de ação e de ponto de vista feminino e feminista. 

Veja o trailer oficial de Tank Girl (original em inglês):

Sair da versão mobile