Debate essencial

A história importante que Maid não conta na Netflix

Minissérie aborda temas sociais marcantes, mas falha em uma área específica

Maid faz muito sucesso na Netflix ao retratar os desafios e a história de superação de uma mãe solteira, que luta para garantir um futuro melhor para a filha enquanto trabalha como faxineira. A popularidade da produção levantou um debate interessante: o quão diferente seria a história se a protagonista não fosse branca?

Esse tema foi trabalhado em um artigo publicado por Allegra Frank no site Slate, que afirma que “o sucesso da produção da Netflix diz muito sobre as histórias que nós abraçamos – e as que não abraçamos”.

De acordo com a matéria, mesmo em uma situação complicada, Alex aproveita alguns privilégios estruturais. O fato da personagem ter sido aceita no programa de escrita da MFA, por exemplo, é algo extremamente raro.

A maneira como Maid aborda questões raciais foi considerada um dos poucos vacilos da série, principalmente devido ao fato de, nos Estados Unidos, a grande maioria dos trabalhadores domésticos não serem brancos.

O que aconteceria se a protagonista de Maid fosse negra?

Estudos mostram que 61% dos trabalhadores domésticos dos Estados Unidos são pessoas não-brancas – embora o grupo étnico represente apenas 40% da força de trabalho do país.

Além disso, cerca de metade desses trabalhadores vivem em pobreza ou extrema pobreza, de acordo com os dados apresentados no artigo do Slate.

Não é como se a Netflix tivesse medo de mostrar pessoas não-brancas vivendo as tradicionais desigualdades da sociedade, – já que conta com diversas séries e filmes ancoradas pelas experiências diversificadas desses grupos – mas o problema é que essas produções não costumam compartilhar do sucesso garantido por séries como Maid.

“A história de Alex é uma espécie de ‘conto de fadas branco’, que assume exatamente o caminho contrário do que é indicado pelos dados. A história, na vida real, está longe de ser branca, e mais longe ainda se ter um conto de fadas. Será que Maid teria o mesmo sucesso se Alex fosse uma mulher negra?”, questiona a matéria.

A maioria dos debates, talvez, estaria relacionada ao realismo – porque seria mais fácil aceitar uma pessoa não-branca perseverando em sistemas criados especialmente para subjugá-la e oprimi-la do que uma mulher branca com físico de modelo.

Afinal de contas, pessoas não-brancas costumam ser retratadas dessa forma em inúmeros produtos culturais. Isso pode indicar que o sucesso de Maid se deve ao fato da protagonista ser branca, e assim, conseguir imediatamente a empatia do público.

Segundo a matéria, o maior desafio de produções como Maid seria “encontrar um meio termo entre a realidade dos americanos não-brancos de classe média baixa e a capacidade dos executivos e criativos predominantemente brancos de contar essas histórias com a mesma empatia que o livro de memórias de Stephanie Land recebeu em sua adaptação dramática”.

Maid continua disponível no catálogo da Netflix.

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