Atores e roteiristas de Lost acusaram os showrunners e produtores da série, incluindo Damon Lindelof e Carlton Cuse, de racismo e toxicidade.
Em um trecho do livro Burn It Down: Power, Cumplicity, and a Call for Change in Hollywood (via EW), da crítica e repórter Maureen Ryan, publicado na Vanity Fair, vários profissionais alegaram se tratar de um ambiente de trabalho tóxico que incluía racismo, com comentários preconceituosos frequentes na sala dos roteiristas.
Um ex-roteirista de Lost chegou a descrever o ambiente de trabalho como um “ecossistema predatório com sua própria megafauna carnívora”.
Harold Perrineau, que interpretou Michael Dawson, falou abertamente sobre ser contratado para a série apenas para ver seus colegas brancos – compostos pelos protagonistas Josh Holloway (James “Sawyer” Ford), Matthew Fox (Jack Shephard) e Evangeline Lilly (Kate Austen) – ganharem histórias mais fortes.
“Ficou bem claro que eu era o negro. Daniel [Dae Kim] era o cara asiático. E então você tinha Jack, Kate e Sawyer”, disse ele.
Um roteirista disse que a equipe foi repetidamente informada de que os personagens brancos Sawyer, Jack, Kate e John Locke (Terry O’Quinn) eram os “personagens heróis” e que “ninguém se importa com esses outros personagens”.
Quando Perrineau levou suas preocupações a um produtor – “Eu não preciso ser o primeiro, não preciso ter a maioria dos episódios – mas gostaria de estar na mistura”, disse ele ao produtor -, o produtor supostamente lhe disse que “é assim que o público segue as histórias”, chamando Sawyer, Jack e Kate de “relacionáveis”.
Perrineau lembrou ter dúvidas sobre o roteiro do segundo episódio da 2ª temporada, que ocorre após o sequestro do filho de Michael.
No roteiro original, Michael só expressou preocupação com seu filho desaparecido uma vez durante um episódio, que contou com flashbacks de um dos protagonistas brancos. Perrineau alegou ter levado suas preocupações a Cuse e Lindelof, apenas para ser informado pouco tempo depois que Michael não retornaria após o final da 2ª temporada.
“Fiquei p*to com isso. Eu estava tipo, ‘Oh, acabei de ser demitido, eu acho'”, disse Perrineau. “Eu fiquei tipo, ‘Espere um minuto, o que está acontecendo?’ Cuse disse: ‘Bem, você sabe, você nos disse, se não tivermos nada de bom para você, você quer ir embora’. Eu só queria ter a mesma profundidade.”
Roteirista corrobora alegações do ator
Monica Owusu-Breen, roteirista da 3ª temporada, chamou a sala dos roteiristas de Lost de um ambiente de trabalho “abertamente hostil” e “implacavelmente cruel”, alegando que o único escritor asiático-americano era referido como “coreano” em vez de seu nome e que outro roteirista havia chamado uma criança asiática de “olhos esguios”.
Lindelof também teria abordado a saída de Perrineau, dizendo aos roteiristas que ele “me chamou de racista, então eu o demiti”.
“Todo mundo riu [quando Lindelof disse isso]”, alegou Owusu-Breen. “Teve tanta m*rda, tanta m*rda racista e depois risos. Foi feio.”
Lindelof disse que não se lembrava do comentário em particular ao responder tais alegações. “O que posso dizer? Fora que me parte o coração que essa tenha sido a experiência de Harold”, disse. “Os eventos que você está descrevendo aconteceram há 17 anos, e não sei por que alguém inventaria isso sobre mim.”
Em resposta às alegações da sala dos roteiristas, ele disse: “Meu nível de inexperiência fundamental como gerente e chefe, meu papel como alguém que deveria modelar um clima de perigo criativo e assumir riscos, mas fornecer segurança e conforto dentro do processo criativo – eu falhei nessa empreitada”.
Ele disse estar “chocado” com as alegações dos escritores. “Não me lembro dessas coisas específicas”, disse. “E não digo que não aconteceram. Estou apenas dizendo que está literalmente fundindo meu cérebro – que elas aconteceram e que eu testemunhei essas coisas ou que as tenha dito. Em pensar que saíram da minha boca ou da boca de pessoas”.
Abordando as preocupações de Perrineau, ele disse: “Todos os atores expressaram algum grau de decepção por não estarem sendo usados o suficiente. Isso faz parte de uma série com grande elenco, mas obviamente havia uma quantidade desproporcional de foco em Jack e Kate e Locke e Sawyer – os personagens brancos.”
“É uma das coisas de que me arrependi profundamente nas duas décadas seguintes.”
“Parte-me o coração ouvi-lo”, disse Cuse em seu próprio comunicado. “É profundamente perturbador saber que houve pessoas que tiveram experiências tão ruins. Eu não sabia que as pessoas estavam se sentindo assim. Ninguém nunca reclamou comigo, nem sei de alguém que tenha reclamado com a ABC Studios. Eu gostaria de ter sabido. Eu teria feito o que pudesse para fazer mudanças.”