História trágica

Round 6 da vida real aconteceu nos Estados Unidos - e era brutal

Décadas antes da série da Netflix, triste demonstração de violência ocorria no país

Considerado o maior sucesso da história da Netflix, Round 6 conquistou fãs no mundo inteiro com uma premissa bastante simples: pessoas batalham em jogos violentos por um prêmio bilionário. O que muita gente não sabe é que algo parecido realmente aconteceu nos Estados Unidos – e foi marcado por brutalidade e racismo.

“Centenas de jogadores falidos aceitam um estranho convite para um jogo de sobrevivência. Um prêmio milionário aguarda, mas as apostas são altas e mortais”, afirma a sinopse oficial de Round 6 na Netflix.

Assim como Round 6, os jogos perigosos realizados nos Estados Unidos reuniam pessoas marginalizadas pela sociedade. Mas diferente da série, o prêmio não era milionário: os vencedores recebiam apenas alguns trocados.

O site Insider falou sobre esse polêmico acontecimento, há muito esquecido por entusiastas da história americana; veja abaixo.

Round 6 da vida real nos Estados Unidos

Enquanto a geração da Netflix curte os episódios de Round 6, o público branco dos Estados Unidos se entretinha em brutais apresentações ao vivo, chamadas de “Battle Royals” (Batalhas Reais).

Os eventos eram populares na Era da Segregação, e continuaram a ser realizados nos Estados Unidos até os anos 50.

O Museu Jim Crow de Memorabilia Racista da Universidade Ferris State, em Michigan, tem muitos documentos dessas violentas exibições.

As Batalhas Reais envolviam grupos de jovens negros, obrigados a lutar uns contra os outros – muitas vezes vendados – para o entretenimento de uma audiência branca.

Os “lutadores” eram forçados a golpear os outros participantes, até restar apenas um homem de pé. O prêmio era de apenas alguns dólares.

Marcando mais uma vez o caráter extremamente racista da sociedade americana, eventos como esse eram comuns em celebrações do Dia da Independência, feiras estaduais e circos, principalmente no final do século XIX e início do século XX.

No Museu Jim Crow, notas jornalísticas e anúncios comprovam a maneira como os eventos eram divulgados para a sociedade branca.

“A noite de entretenimento no sábado começa com uma “batalha real de negros’”, afirma uma nota publicada originalmente em setembro de 1950.

O exército americano também organizada diversos “shows” do tipo, obrigando soldados negros a lutarem para o divertimento dos oficiais brancos.

Quem já leu o clássico livro “O Homem Invisível”, de Ralph Ellison, sabe que a obra de 1952 começa com uma descrição arrepiante de uma dessas batalhas.

“Todos lutavam histericamente. Era uma anarquia total. Todos lutavam, uns contra os outros. Nenhum grupo lutava sozinho por um bom tempo. Eram dois, três, quatro contra um. E depois eles se voltaram uns contra os outros”, afirma a introdução do livro.

Mesmo acontecendo após a abolição da escravatura nos Estados Unidos, as Batalhas Reais são referências diretas a “eventos” ainda mais violentos, que aconteciam na época da escravidão.

Franklin Hughes, um especialista em multimídia do Museu Jim Crow, explica como o legado de desumanização e humilhação das Batalhas Reais influencia até hoje o racismo e a intolerância da sociedade americana, e continua a machucar comunidades negras no país inteiro.

“Acontecimentos como esse levam ao racismo internalizado, no qual pessoas negras desgostam de si mesmas, de sua cultura e comunidade. Estão na longa lista de coisas que aconteceram na era Jim Crow e ainda prejudicam muitas comunidades”, explica o especialista.

Round 6 está disponível na Netflix.

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