Saindo das sombras

Série de Entrevista com o Vampiro tem cena de sexo gay chocante; veja

Cena de sexo gay é um marco na representatividade em obras sobre vampiros

A mitologia dos vampiros sempre teve um fundo homoafetivo, desde obras como O Vampiro de 1819, que giram em torno da fascinação do autor John Polidori, como poeta Lord Byron. Com o passar dos séculos mais obras fomentaram essa atmosfera em volta dos vampiros, mas a série Entrevista Com o Vampiro levou as coisas para o próximo nível.

Por mais que a atmosfera homoerótica faça parte das histórias dos sugadores de sangue, na maioria das obras isso não passa de um subtexto, algo implícito.

Claro que existem exceções. Como O Que Fazemos nas Sombras e a série Primeira Morte, que deixam mais clara a orientação sexual de seus vampiros. E claro, também tivemos True Blood da HBO.

Mas geralmente, vampiros gays são “castrados” nas telas, caindo sempre num lugar de insinuações que nunca são realmente mostradas ao público. Na verdade, a comunidade LGBTQIA+ sofre com esse problema no geral, como no caso de Will Byers em Stranger Things, por exemplo.

Entrevista Com o Vampiro veio mudar a situação

Em 1994 a adaptação do romance de Anne Rice, protagonizada por Tom Cruise e Brad Pitt, já era bem gay à sua maneira. Com seu elenco cheio de símbolos sexuais da época em cenas imersas em homoerotismo e sangue, mas para muitos, a adaptação não era gay o suficiente.

Claro que o mundo dos anos 90 era bem diferente, principalmente na forma que Hollywood retratava homossexuais. A própria Rice considerou escrever Louis como uma mulher quando começou a trabalhar no roteiro.

Certamente uma geração de garotos, e o empresário de Brad Pitt, agradecem muito a mudança não ter ido para frente. Mas no fim das contas, a adaptação para os cinemas de Entrevista Com o Vampiro não fez jus ao erotismo dos livros de Anne Rice.

Mas a comunidade pode ficar tranquila, que não é possível acusar a série reboot da AMC de não ser gay o suficiente. Com os desejos de prazer e luxúria dos livros marcando presença, mas dessa vez, os personagens agem sem pudor para realizar suas vontades, trazendo o subtexto gay para a superfície de diversas formas.

Tudo começa com Louis (Jacob Anderson), um residente preto de Nova Orleans, sendo seduzido por um misterioso estranho chamado Lestat (Sam Reid), o que se inicia em um jogo de poker se torna uma amizade, com Louis desejando o amigo, mas Lestat demonstrando desejos um pouco mais predatórios com o rapaz (mas não menos carnais também)

A tensão entre os dois culmina quando ambos vão para a casa de Lestat, onde uma mulher chamada Lily os espera. O trio tira as roupas e Louis começa a pegação com a mulher, mas quando Lestat tenta se juntar a eles, o amigo o rejeita.

Mostrando que mesmo por trás de portas fechadas, a homofobia que Louis enfrentou por toda sua vida ainda era carregada por ele, já que podemos ver que sua fixação não está em Lily, mas sim em Lestat.

O vampiro então hipnotiza a mulher, ficando sozinho com Louis, suados e nus. Apenas ali que o rapaz cede, atacando Lestat como se fosse um vampiro, mesmo não tendo sido transformado ainda. Sem se importar quando o amigo finca as presas em seu pescoço, dando finalmente uma cena explicita nas telas para a relação dos personagens.

A cena cresce ainda mais quando os dois homens começam a levitar enquanto cedem aos seus desejos, com a câmera não demonstrando nenhuma timidez em registrar tudo. Conversando com a Decider, Reid revelou que ficou orgulhoso da cena, explicando que: “Ela segue para mostrar a intensidade da conexão deles. Isso se traduziu de forma linda.”

Mesmo o romance dos dois vampiros, pelo menos se tornam dois ao fim do episódio, não sendo saudável, certamente a série estabelecendo o amor romântico deles de uma forma tão clara e sensível foi um grande passo da adaptação.

Com seus personagens monstruosos a série subverte a imagem positiva da comunidade LGBTQIA+ que vem sendo construída nos últimos anos. Mas faz isso de uma forma curiosa, os vampiros lutam para sobreviver, são perigosos e temidos, o que pode empoderar parte do público.

Uma forma de ressignificar a visão social que cai sobre a comunidade, que por séculos considerou o diferente como algo monstruoso e perigoso. Sendo uma das muitas razões dos filmes te terror serem tão queridos pela audiência queer.

A série já está confirmada para a 2ª temporada, e estreou no dia 2 nos Estados Unidos, mas ainda não tem confirmação no Brasil.

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