The Vampire Diaries, que está disponível na Max e Prime Video é, sem dúvida, um dos programas mais icônicos do final dos anos 2000, marcando uma geração e consolidando seu lugar na cultura pop.
A complexa dinâmica entre Damon, Elena e Stefan, marcada por relacionamentos intensos e carregada de tensão emocional, capturou a imaginação do público ao longo de suas temporadas. Além dos romances apaixonados, os arcos sobrenaturais, repletos de reviravoltas, ação e drama, proporcionaram uma experiência envolvente e única, elevando a série a um status cult entre os fãs do gênero.
No entanto, sendo um produto de seu tempo, The Vampire Diaries apresenta muitos elementos que não resistiram ao teste das mudanças sociais e culturais das últimas décadas. O que era amplamente aceito no final dos anos 2000 pode parecer problemático ou desatualizado sob a perspectiva contemporânea. Pontos específicos da trama, certas motivações dos personagens e algumas ações controversas hoje despertam debates e questionamentos. Em tempos atuais, muitos espectadores percebem a falta de sensibilidade em certas situações retratadas na série, que poderiam ter sido abordadas com um olhar mais empático e inclusivo.
Apesar de ser uma obra querida e celebrada, essas características datadas acabaram se tornando um ponto de desconforto para parte do público, que, embora ainda ame a narrativa e os personagens, reconhece que The Vampire Diaries poderia ter sido ainda mais impactante com um toque de modernidade e um cuidado maior em seu desenvolvimento. A série continua relevante, mas seu legado também reflete como os tempos e as expectativas do público evoluíram.
Os triângulos amorosos
Os triângulos amorosos, embora outrora populares como um tropo romântico, tornaram-se desgastados ao longo dos anos. Ainda assim, foram o núcleo de muitos enredos em The Vampire Diaries (TVD). O principal exemplo é o relacionamento entre Damon, Stefan e Elena, que recebeu grande destaque na trama, mas outros triângulos amorosos, como o de Klaus, Tyler e Caroline, também desempenharam papéis significativos.
Embora comuns na série, esses triângulos amorosos acabaram por estabelecer um padrão prejudicial de amor e relacionamentos. A dinâmica geralmente envolve uma pessoa dividida entre duas outras, o que, inevitavelmente, causa sofrimento profundo e irreparável para pelo menos dois dos personagens. Na vida real, essa situação seria altamente disfuncional, mas o programa acabou por romantizá-la e normalizá-la ao ponto de torná-la aceitável dentro do seu universo narrativo.
Em retrospecto, os triângulos amorosos retratados em The Vampire Diaries não apenas perpetuaram uma visão distorcida do amor, como também foram desrespeitosos com todos os personagens envolvidos, transformando seus sentimentos em uma espécie de competição emocional.
Finais trágicos para Nora e Mary Louise
O tropo “enterre seus gays”, em que personagens LGBTQIA+ são frequentemente mortos de forma trágica, é um dos mais problemáticos e criticados na narrativa televisiva. Infelizmente, The Vampire Diaries perpetuou esse padrão diversas vezes. Um exemplo notável é o de Nora e Mary Louise, vampiras lésbicas que sobreviveram juntas aos anos 1800, uma época em que seu amor era ilegal e punível, apenas para serem mortas nos tempos modernos. A decisão de eliminá-las parecia desnecessária e injustificada.
Além delas, outros personagens LGBTQIA+, como Luke Parker e Bill Forbes, também tiveram fins trágicos no programa. Considerando que a série já oferecia uma representação mínima da comunidade LGBTQIA+, a morte recorrente desses poucos personagens parecia deliberada e de mau gosto, reforçando um padrão prejudicial que marginaliza ainda mais esses grupos dentro da mídia.
A conexão de Klaus e Caroline
The Vampire Diaries sempre foi fã de romances impossíveis, e a relação entre Klaus e Caroline foi um dos mais controversos. Quando os dois finalmente se reuniram na 5ª temporada, muitos fãs comemoraram, mas a reação de Tyler trouxe uma perspectiva válida que foi, injustamente, tratada como vilanesca.
Embora as ações de Tyler tenham sido agressivas e sua abordagem inadequada, sua raiva era compreensível. Tyler e Caroline compartilhavam uma longa história juntos, marcada por desafios e crescimento, enquanto Klaus foi diretamente responsável por destruir a vida de Tyler. Durante esse período, Klaus fez de Tyler seu escravo, o expulsou da cidade e, de forma cruel, assassinou sua mãe a sangue frio.
LEIA TAMBÉM
Diante desse passado doloroso, a revolta de Tyler ao ver sua ex-namorada tratando Klaus com tanta leveza – chegando ao ponto de se envolver romanticamente com ele – era completamente justificada. Caroline, ao ignorar tudo o que Klaus fez com Tyler, adotou uma postura insensível que transformou suas ações em algo difícil de defender.
Genocídio para a cura
A Cura foi, sem dúvida, um dos objetos mais cobiçados em The Vampire Diaries, despertando o desejo de praticamente todos os vampiros. Seja para ingeri-la e retomar a humanidade ou para mantê-la longe de inimigos, a Cura era um recurso inestimável e altamente disputado.
No entanto, o comportamento de Elena ao planejar um verdadeiro genocídio para obtê-la foi chocante, fora de personagem e, no mínimo, de mau gosto. Ela não apenas conspirou, mas conseguiu executar seu plano ao matar Kol e, com isso, exterminar toda a sua linha de sire, resultando na morte de milhares de vampiros. Tudo isso apenas para que ela pudesse se tornar humana novamente.
O problema maior foi a mensagem implícita do enredo: o programa parecia justificar o extermínio de milhares de vidas apenas porque eram vampiros, como se, por natureza, eles merecessem morrer. Esse arco narrativo deveria ter sido analisado com mais cuidado, pois não só suavizou um ato moralmente questionável, mas também comprometeu a essência de uma personagem querida, colocando suas ações em completo desalinhamento com seu desenvolvimento anterior.
Stefan sendo o bom irmão
Por muito tempo, Stefan foi considerado o “bom irmão” em The Vampire Diaries, mas essa imagem era, no mínimo, problemática. Só porque ele falava de forma gentil e demonstrava bondade em sua vida cotidiana, foi rotulado como o melhor dos Salvatore. No entanto, isso não apagava seu histórico violento: Stefan era, afinal, um serial killer conhecido como “O Estripador” e chegou a massacrar uma vila inteira, incluindo mulheres e crianças.
O conceito de um “irmão melhor” nunca deveria ter existido, pois, no fim das contas, nenhum dos irmãos Salvatore era realmente uma boa pessoa. Damon era terrível, sem dúvidas, mas Stefan também se mostrou tão cruel quanto – se não pior em certos momentos. Sua capacidade de alternar entre herói e assassino, dependendo de um “dia ruim”, revelava um extremo perigoso que não deveria ser romantizado ou tratado como aceitável em qualquer personagem.
A dinâmica familiar tóxica entre os Mikaelsons
A família Mikaelson foi definida por seu lema: “Sempre e Para Sempre”. Esse vínculo inquebrável foi o motivo pelo qual Rebekah, Elijah, Finn, Kol e Freya continuaram suportando o tratamento abusivo de seu irmão, Klaus. No entanto, a dinâmica disfuncional da família ia além de Klaus. Ele próprio sofreu profundamente por não ser filho biológico de Mikael, o que fez com que o patriarca o perseguisse implacavelmente. Além disso, Esther, a matriarca, desprezava a criação dos vampiros e, em um ato extremo, tentou exterminar os próprios filhos sem considerar seus desejos.
Apesar de suas relações claramente tóxicas, os Mikaelsons foram muitas vezes retratados sob uma luz quase romantizada, como se o amor familiar justificasse anos de manipulação, traições e abusos. A verdade é que essa família disfuncional teria sido mais feliz – ou, pelo menos, mais saudável – se cada um tivesse seguido seu próprio caminho, longe das sombras do “Sempre e Para Sempre”.
Todo o relacionamento de Damon e Elena
Delena pode ser um dos casais mais amados de The Vampire Diaries, mas é inegável que o relacionamento entre Damon e Elena era extremamente insalubre. Os dois pareciam viciados nos altos e baixos de estar juntos, confundindo a emoção intensa com amor verdadeiro. Damon não apenas atacou Elena em diversas ocasiões, como também machucou sua família e amigos, o que tornava ainda mais estranho o fato de eles acabarem juntos.
A glorificação desse relacionamento tóxico transmitiu uma mensagem equivocada para os jovens fãs da série. Em vez de crescer ou se fortalecer ao lado de Damon, Elena se tornou a pior versão de si mesma. Ela, que sempre demonstrou valores como compaixão e altruísmo, terminou ao lado de alguém cujos princípios eram opostos aos seus, o que nunca fez sentido narrativamente. Elena teria sido muito mais feliz e completa se tivesse escolhido um caminho longe de Damon, onde pudesse redescobrir sua própria identidade.
