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Charmed | Crítica - 1º episódio

Em mais um reboot/remake/sequência de uma cultuada série dos anos 90, as três irmãs bruxas de Charmed estão de volta, com maior foco nos aspectos feministas da produção, e efeitos especiais menos incômodos.

Originalmente, Charmed trazia a história de três irmãs que encontram o “Livro das Sombras” em seu sótão, e descobrem ser as mais poderosas bruxas do mundo, responsáveis por proteger os seres humanos de demônios e afins. A nova série ainda carrega a mesma premissa básica, porém, este primeiro episódio se esforça um pouco mais para contextualizar este enorme “chamado para a aventura” que recai sobre as personagens. Ainda pareça um tanto apressado demais, este contexto fica em segundo plano perto da devida construção destas protagonistas.

Na nova série, Mel (Melonie Diaz) e Maggie (Sarah Jeffery) se consideram duas garotas normais, acostumadas à realidade das faculdades americanas, quando sofrem a perda de sua mãe por conta de um misterioso acidente. Coincidentemente (ou nem tanto assim), a terceira irmã, Macy (Madeleine Mantock), mantida em segredo até então, surge para ajudá-las a decifrar o que realmente aconteceu com a mãe das três garotas, que claramente escondeu muitos outros segredos prestes a serem revelados durante a temporada.

Tentar assistir à versão original de Charmed, hoje em dia, pode ser uma tarefa árdua para muitos espectadores. Tal qual as cultuadas “Buffy A Caça Vampiros” e “Arquivo X”, Charmed pode soar demasiadamente datada, ao ser revisitada, por conta de seus efeitos especiais da época (hoje, considerados precários), e seu apego à estrutura televisiva procedural que regia a grande maioria das produções, antigamente. Esta nova versão, por sua vez, conta com efeitos especiais que, também, não devem ser tão duradouros assim, mas agradarão, sem problemas, à todos aqueles que estiverem acostumados com as outras produções do canal CW (Arrow, Flash, The 100).

E como estes novos tempos não costumam requerer que as tramas da série sigam um apego rigoso ao modelo procedural, abre-se um revigorante espaço para que os desenvolvimentos sobrenaturais da mitologia de Charmed possam ser evidenciados com mais destreza e entusiasmo. Antes, a série se propunha a mesclar os dramas pessoais das protagonistas (regados à relacionamentos melodramáticos), com suas rotinas sobrenaturais, envolvendo poções e feitiços em situações rotineiras das jovens personagens. Seria interessante, no entanto, ver a nova série equilibrar melhor seus focos narrativos, e avançar suas tramas principais com a relevância permitida pelos modelos televisivos atuais.

Neste primeiro episódio da nova Charmed, as três protagonistas podem ser definidas como aquilo que corriqueiramente já se classifica como “personagens femininas fortes”, assertivas e claramente capazes de grandes feitos. O interessante, no entanto, é notar como as três personagens são profundamente diferentes entre si, apresentando falhas específicas que moldam suas personalidades de maneira distinta, e bem mais contemporânea. A dinâmica entre as três irmãs tem tudo para se manter o grande atrativo da nova série, que já demonstra ter um grande foco em sua construtiva representação do conceito de “irmandade”.

Com um ritmo acelerado, o episódio não só prepara o terreno sobrenatural à ser seguido pela temporada, como também procura retratar sua perspectiva feminista com eficiência, e ainda moldar um novo “status quo” entre as três irmãs. Em meio à introdução das três personagens, construção de suas respectivas tramas, e exposição das regras mágicas que irão permear esta história, faltou tempo para se poder desenvolver o drama que envolve a chegada de uma nova irmã com mais naturalidade.

Este primeiro episódio de Charmed deixa clara a evidente razão de seu retorno à televisão. Seus temas e personagens dialogam ainda mais com o público de hoje em dia, do que a série original tinha espaço para conseguir. E seus elementos sobrenaturais podem ser ainda melhor aproveitados na televisão atual, muito mais adepta das tramas mágicas e fantásticas. Se minha memória não falha, havia um forte entusiasmo na evolução dos poderes individuais de cada uma das irmãs, na série original. É o tipo de detalhe que chamava a atenção de espectadores menos conformados com as produções da época, e que hoje em dia pode ser muito mais enaltecido, tornando esta nova versão de Charmed ainda mais divertida de se acompanhar.

Mais relevante do que muitos outras produções televisivas repescadas, Charmed pode ser uma aposta eficiente do canal CW, que não é estranho ao público fã de magia adolescente e tramas mais absurdas. Resta observar se este público, pouco familiar com a versão original, se sentirá intrigado o suficiente para deixar que a nova série alcance seu potencial.

Charmed está disponível na GloboPlay e terá um episódio inédito liberado toda sexta-feira.

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