Por mais de uma década, The Big Bang Theory, que está atualmente na Max, foi um dos programas mais assistidos da televisão. A sitcom acompanha a vida dos cientistas Leonard Hofstadter (Johnny Galecki), Sheldon Cooper (Jim Parsons), Howard Wolowitz (Simon Helberg) e Raj Koothrappali (Kunal Nayyar), cujo grupo de amigos é abalado pela chegada da nova vizinha Penny (Kaley Cuoco), por quem Leonard rapidamente se apaixona.
À medida que a série avança, Sheldon e Howard também encontram suas parceiras amorosas em Amy Farrah-Fowler (Mayim Bialik) e Bernadette Rostenkowski (Melissa Rauch), respectivamente.
Mesmo com o declínio do formato de sitcom multi-câmera nos últimos anos, The Big Bang Theory manteve um público fiel em todos os grupos demográficos ao longo de sua trajetória. O sucesso da série resultou no spin-off Young Sheldon e, mais recentemente, em Georgie & Mandy’s First Marriage, que estreou em 2024. Mesmo cinco anos após o seu encerramento, The Big Bang Theory permanece uma das franquias mais sólidas e duradouras da televisão.
No entanto, apesar de seu amplo apelo, a série possui elementos questionáveis que muitos espectadores tendem a ignorar — desde insinuações sexuais sutis até curiosidades dos bastidores pouco conhecidas. Embora esses aspectos possam ser evidentes para alguns adultos atentos na frente da TV, para muitos fãs, eles acabam passando completamente despercebidos.
A Teoria do Big Bang explora teorias científicas complicadas
Considerando que The Big Bang Theory se concentra principalmente em um grupo de amigos cientistas, o programa está repleto de detalhes que apelam para os espectadores com um interesse em ciência, especialmente no que diz respeito a teorias científicas reais. Um exemplo notável disso ocorre no episódio da primeira temporada The Tangerine Factor, quando Sheldon explica o famoso “Gato de Schrödinger” para Penny, a fim de tranquilizá-la sobre o nervosismo relacionado ao seu primeiro encontro com Leonard. Quando Penny e Leonard se beijam no final do episódio, ela faz uma referência à teoria, dizendo: “Tudo bem, o gato está vivo, vamos jantar”.
A abordagem do programa a conceitos científicos complexos não é apenas fictícia; para garantir a precisão, a CBS contratou o consultor científico David Saltzberg, que ajudou a verificar os roteiros e fornecer informações sobre equações matemáticas e adereços exibidos na tela. Em uma entrevista para a Symmetry, Saltzberg descreveu suas contribuições como simples, comentando: “Os escritores me explicaram no início que você pode assistir a uma reprise de I Love Lucy e não entender espanhol, mas entender que Ricky Ricardo está com raiva. Esse é o nível de compreensão científica necessário para o show.”
Além do “Gato de Schrödinger”, o programa também fez referências a outras teorias científicas, como a aproximação de Born-Oppenheimer e o efeito Doppler. No entanto, houve momentos em que os escritores cometeram erros científicos, como quando a teoria da super assimetria foi retratada como a base para o Prêmio Nobel de Sheldon no final da série.
O programa foi criticado por sua representação da neurodiversidade
O retrato da neurodiversidade na televisão tem sido um tema controverso há muito tempo, muito antes da estreia de The Big Bang Theory. O personagem de Sheldon Cooper, em particular, foi frequentemente analisado sob a ótica do autismo, com alguns críticos apontando que o programa não conseguiu representar com precisão essa condição, apesar dos esforços sinceros de Jim Parsons em oferecer uma interpretação realista e empática.
Entre os muitos exemplos que os críticos citam como sinais da neurodivergência de Sheldon está sua obsessão por um lugar específico no sofá de seu apartamento compartilhado com Leonard. Como Sheldon explica no primeiro episódio, Pilot, ele prefere aquele assento devido à sua localização em relação à temperatura da sala e ao seu posicionamento em relação à TV. Embora haja aspectos do comportamento de Sheldon que podem ser vistos como neurodivergentes, muitos críticos consideram que, assim como outras produções como The Good Doctor, o programa oferece uma visão limitada da neurodiversidade.
O criador Chuck Lorre evitou rotular Sheldon com um diagnóstico específico, acreditando que isso seria uma grande responsabilidade e poderia limitar a forma como o personagem era explorado. No entanto, outros personagens do programa também apresentam comportamentos que podem ser associados a características do autismo. Raj, por exemplo, tem mutismo seletivo, enquanto Amy exibe uma certa estranheza social. Para os espectadores mais jovens, no entanto, esses comportamentos podem ser vistos apenas como “piadas” ou “excentricidades”, sem um entendimento mais profundo da neurodiversidade.
Sheldon é ingênuo sobre sexualidade
The Big Bang Theory é repleta de piadas adultas que muitos espectadores mais jovens provavelmente não perceberão. No entanto, uma das maiores vítimas dessa dinâmica é o próprio Sheldon Cooper. Uma das características que define o personagem ao longo da série é sua ingenuidade quando se trata de sexualidade. Seja sua falta de compreensão dos limites sociais ou sua ignorância sobre como as mulheres ou o sexo funcionam, Sheldon constantemente se encontra em situações embaraçosas.
Um exemplo claro disso ocorre no episódio da 6ª temporada, The Closet Reconfiguration. Sheldon está limpando o armário de Penny quando encontra um “brinquedo de mastigar operado por bateira” e pergunta ingenuamente se ela tem um cachorro. Penny, desconfortável, o empurra para fora do apartamento, deixando claro que o que Sheldon encontrou era, na verdade, um vibrador.
Esse tipo de ingenuidade também aparece em outros momentos da série, onde Sheldon demonstra uma incompetência quase cômica, mesmo sendo um gênio em outras áreas. Em The Adhesive Duck Deficiency (3ª temporada), por exemplo, ele tenta ajudar Penny, que está ferida, a se vestir, mas acaba pegando outra coisa no lugar de seu braço quebrado.
A falta de interesse de Sheldon pela sexualidade gerou especulações sobre sua possível assexualidade. Este rótulo foi levantado por muitos fãs, mas a série nunca o confirmou oficialmente. Chuck Lorre, co-criador de The Big Bang Theory, defendeu o comportamento de Sheldon nos primeiros anos do programa, comentando em entrevista à Entertainment Weekly: “Criamos um personagem que escolheu um estilo de vida único para si mesmo, e não vejo razão para mudá-lo.” No entanto, a introdução de Amy, na 4ª temporada, e o eventual desenvolvimento de um relacionamento romântico entre os dois, fizeram com que a série modificasse a dinâmica de Sheldon, culminando na consumação do relacionamento deles na 9ª temporada.
Os óculos de Leonard nunca tiveram lentes
Uma curiosidade interessante sobre The Big Bang Theory é que, ao longo de todas as 12 temporadas, os óculos de Leonard nunca têm lentes. O mesmo vale para outros personagens que usam óculos, como Amy e Leslie. Embora esse detalhe possa ser desconcertante para alguns espectadores, há uma razão bastante específica para a ausência das lentes.
A verdadeira explicação para os óculos de Leonard serem “sem lentes” remonta ao início da série. Antes do primeiro episódio, Johnny Galecki decidiu que queria que Leonard usasse óculos durante os ensaios. No entanto, a produção encontrou um problema técnico relacionado à diferença de altura entre Galecki e Jim Parsons. Como resultado, as lentes dos óculos de Leonard refletiam a luz das plataformas de iluminação sempre que ele olhava para sua co-estrela frequente, Jim Parsons.
Apesar dessa atenção meticulosa aos detalhes, The Big Bang Theory também contém vários erros que só os espectadores mais atentos, especialmente os mais velhos, poderiam notar. Seja um erro de continuidade na trama de algum personagem ou a forma peculiar com que cada um dos personagens usa um moedor de sal e pimenta como se fosse um shaker, o fato de muitos fãs conseguirem assistir à série inteira sem perceber a ausência das lentes nos óculos de Leonard é, de certa forma, notável.
O currículo de atuação de Penny inclui alguns papéis estranhos
A Penny que Leonard e Sheldon encontram no primeiro episódio de The Big Bang Theory é bem diferente da personagem que Kaley Cuoco interpreta no final da série. Inicialmente, a mudança de Penny para a Califórnia é motivada pelo desejo de seguir uma carreira como atriz, uma paixão que ela mantém ao longo da série, mas que acaba abandonando na 8ª temporada, quando começa a trabalhar na empresa farmacêutica de Bernadette.
Embora sua carreira de atriz não tenha sido longa, ela rendeu alguns papéis bizarros que só os espectadores mais adultos poderiam entender. Um dos mais notáveis foi Serial Ape-ist, um filme B sobre um gorila assassino obcecado por sexo, no qual Penny aparece de topless de maneira infame. O título do filme é uma piada grosseira, mas ainda mais interessante é o cartão de vaidade do co-criador Chuck Lorre no final do episódio The Indecision Amalgamation (7ª temporada), que faz referência a uma sequência do filme sendo escrita por Vince Gilligan, o criador de Breaking Bad.
Outros papéis de Penny ao longo da série também incluem exemplos significativos de humor adulto. Em várias ocasiões, ela menciona sua participação em uma produção de boliche de O Diário de Anne Frank, e, no início da 5ª temporada, ela reserva um papel em um comercial de creme para hemorróidas, o que a faz reconsiderar voltar para sua casa em Nebraska.
Os sonhos de Raj revelam muito sobre seus sentimentos reprimidos
The Big Bang Theory não é a primeira sitcom a se envolver com piadas homofóbicas, mas quando o faz, frequentemente levanta questões sobre o caráter de Raj que só o público mais maduro consegue realmente entender. O diálogo de Raj tende a flertar com insinuações, como em uma cena do episódio The Bus Pants Utilization (4ª temporada), onde ele ingenuamente conta a Howard sobre um sonho que teve, no qual ambos se tornam ricos e vivem em mansões lado a lado.
Raj revela: “Havia um túnel secreto conectando seu jardim da frente ao meu quintal. O que você acha que isso significa?” A reação de Howard — e o riso estrondoso da plateia — indicam que ele sabe exatamente o que isso sugere sobre a psique de Raj. Este não é o único momento em que os sonhos de Raj insinuam que ele pode ser algo além de heterossexual. Em outro episódio da 4ª temporada, Raj imagina uma fantasia em que se apaixona por Bernadette, acompanhada de uma sequência de dança de Bollywood; ao voltar à realidade, ele diz, “Número de dança à parte, eu não sou tão gay.”
Muitos críticos sentiram que The Big Bang Theory falhou em explorar as camadas do personagem de Raj, seja em relação à sua sexualidade, suas dificuldades em encontrar o amor ou seu desenvolvimento emocional. Se ao menos Raj fosse um personagem popular o suficiente para ganhar seu próprio spin-off, em vez de Sheldon, talvez tivéssemos visto uma abordagem mais profunda de suas questões.
A pintura de Penny da Amy é assustadora por muitas razões
Amy Farrah-Fowler, interpretada por Mayim Bialik, foi uma adição bem-vinda ao elenco principal de The Big Bang Theory. No entanto, sua personalidade peculiar, especialmente em relação a Penny, não passou despercebida pelos espectadores. Alguns fãs especularam que Amy poderia ter sentimentos não correspondidos por Penny, algo que parece ser sugerido em um episódio específico da quinta temporada, The Rothman Disintegration. Nesse episódio, Amy presenteia Penny com uma grande pintura dos dois, que ela encomendou por US$ 3.000. Penny, visivelmente desconfortável, acaba aceitando o presente, mas fica estranha com a situação.
Uma das falas mais notáveis de Amy no episódio ocorre quando ela revela a Penny que o artista responsável pela pintura inicialmente os retratou nus, mas decidiu adicionar roupas após Amy “achar que seria um desafio desnecessário à nossa heterossexualidade”. Esse comentário é uma das piadas mais sombrias da série, mas o cenário se torna ainda mais perturbador em um episódio posterior, quando Amy revela que o artista que fez a pintura cometeu suicídio logo após concluí-la, o que adiciona uma camada de mistério e inquietação à situação.
Além de levantar questões sobre o relacionamento de Amy com Penny, a pintura também é responsável por alguns erros de continuidade significativos na décima temporada. Depois que Amy e Sheldon se mudam para o antigo apartamento de Penny, eles devolvem a pintura a Penny, que “acidentalmente” a deixou para trás. No entanto, em um momento posterior da temporada, a pintura retorna misteriosamente ao antigo apartamento de Penny. Talvez a única coisa mais desconcertante do que o afeto de Amy por Penny seja a pintura que parece se mover sozinha, criando uma aura ainda mais perturbadora.
Bernadette e Howard têm histórias familiares sombrias
The Big Bang Theory frequentemente utiliza humor negro, especialmente em situações envolvendo Howard, mas poucas vezes o programa apresentou uma linha de diálogo tão sombria quanto a do episódio The Stag Convergence (Temporada 5, Episódio 22). Durante a despedida de solteira de Bernadette, ela, Amy e Penny conversam sobre o site de casamento que Bernadette criou, repleto de curiosidades divertidas sobre suas famílias. Em um momento aparentemente inofensivo, Bernadette menciona que suas famílias costumavam ser vizinhas na Polônia.
Penny reage de forma entusiasmada com um inocente “Oh, isso é legal!”, mas Amy rapidamente intervém, dizendo: “Não, não é, vou explicar para você mais tarde.” A série nunca fornece a explicação de Amy, mas espectadores adultos podem captar as implicações sombrias desse comentário. Considerando o contexto histórico, a cena sugere a possibilidade de que, durante a Segunda Guerra Mundial, a família polonesa católica de Bernadette tenha denunciado a família judia de Howard aos nazistas. Outra interpretação igualmente inquietante é que a família de Bernadette tenha colaborado com os nazistas enquanto a família de Howard estivesse entre os prisioneiros do campo de concentração vizinho, como Auschwitz.
Apesar da gravidade da insinuação, a série não menciona em nenhum outro momento o sofrimento da família de Howard durante o Holocausto, o que ajuda a afastar essa interpretação como uma referência intencionalmente cruel. Ainda assim, a linha de diálogo pode ser desconfortável para espectadores mais atentos, dada a sensibilidade do tema e a trágica realidade histórica que envolve o Holocausto. Por sorte, a cena não está entre os momentos mais perturbadores de The Big Bang Theory, mas serve como exemplo de como o humor pode, às vezes, tocar em assuntos delicados sem um esclarecimento direto.