A série Duna: A Profecia, que estreou hoje (17) na HBO e Max, tenta ir além da grandiosidade dos filmes e livros de Frank Herbert adaptando o universo expansivo de Duna nas telas, sem perder a complexidade e o drama político que o tornaram famoso.
Apesar da esperança em torno da série após o sucesso dos dois filmes de Denis Villeneuve, a primeira temporada de seis episódios parece não ter o tempo necessário para aprofundar o material e explorar seu rico enredo. A sensação predominante é de uma narrativa apressada, que tenta emular o sucesso de Game of Thrones, mas sem conseguir engajar de imediato.
A Pressa é Inimiga da Perfeição
O episódio inicial, “The Hidden Hand”, abre com uma quantidade impressionante de exposições, abordando a Guerra das Máquinas (ou Butlerian Jihad), o escândalo da família Harkonnen, o surgimento da Irmandade e vários outros elementos do vasto universo de Duna. Esses primeiros 13 minutos poderiam facilmente sustentar um episódio inteiro, mas são comprimidos para encaixar a narrativa em um tempo reduzido. O ritmo não dá chance ao público de assimilar as informações, tornando o início da série confuso e um tanto sobrecarregado.
Com uma temporada tão enxuta, é difícil evitar a sensação de que o enredo é constantemente comprimido para caber em um formato que não permite o desenvolvimento adequado de seus personagens tão complexos. A trama de Duna: A Profecia se foca principalmente em Valya Harkonnen, interpretada por Jessica Barden, e suas ambições dentro da Irmandade. Apesar de uma atuação sólida de Barden, o pouco tempo dedicado a ela e aos outros personagens faz com que a conexão emocional com o público não se estabeleça como deveria.
Apesar de toda essa pressa, o episódio “Sisterhood Above All”, o terceiro da temporada, oferece um alívio com flashbacks que exploram o passado das irmãs Valya e Tula. Esses momentos proporcionam uma base emocional mais sólida para os personagens, mas não são suficientes para garantir a profundidade necessária. A falta de tempo para explorar essa história de forma mais detalhada faz com que a conexão com o público ainda seja superficial.
A adaptação de Duna: A Profecia, que é baseada no polêmico livro Sisterhood of Dune, escrito por Brian Herbert (filho de Frank Herbert) e Kevin J. Anderson, foca em eventos que ocorrem milhares de anos antes do protagonista Paul Atreides ser introduzido no universo de Duna. Porém, ao contrário da obra original, a série apresenta uma abordagem mais voltada para o futuro e para as interações entre personagens mais velhos, o que confunde ainda mais a linha do tempo para os novatos.
Embora a série faça alusão ao estilo político de Game of Thrones, com intrigas e personagens moralmente ambíguos, ela não consegue capturar a complexidade e a imprevisibilidade que tornaram a série da HBO um fenômeno. A estética da série, com cenários gelados e vastos campos, lembra Game of Thrones em várias ocasiões, especialmente nas cenas que se passam no planeta natal dos Harkonnen. Contudo, a dinâmica entre os personagens parece descompassada, e suas motivações não são tão convincentes quanto as de figuras da série de sucesso.
Uma Saga Complexa
O grande vilão da trama, Desmond Hart, interpretado por Travis Fimmel, se destaca por sua crueldade, mas sua presença é limitada por um roteiro que, por vezes, parece mais focado em criar cenas de ação e suspense do que no desenvolvimento de sua moralidade e complexidade. Ele é apenas uma peça de um quebra-cabeça maior, e ainda assim não chega a deixar uma impressão duradoura.
Embora a série apresente problemas no ritmo e no desenvolvimento dos personagens, ela sabe como manter a tensão através de ganchos que deixam o público querendo saber o que acontecerá em seguida. As reviravoltas, a violência inesperada e os elementos de horror sobrenatural são eficazes em manter a trama interessante, mesmo que, em alguns momentos, pareçam deslocados dentro do universo de Duna.
A relação com o sobrenatural e o uso do medo psicológico são explorados de maneira mais intensa do que nas adaptações cinematográficas anteriores, com destaque para o tema de comunhão com os mortos e as visões compartilhadas entre os personagens. Esse lado misterioso do universo de Duna traz uma camada de horror que poderia ser mais explorada, mas o tempo limitado da temporada acaba prejudicando o impacto desse aspecto.
Apesar disso, a série pode servir de ponte para o que vem à seguir nas adaptações cinematográficas. Alguns dos elementos apresentados durante a primeira temporada serão essenciais para a total compreensão do que acontecerá no universo adaptado por Villeneuve caso ele opte por seguir fiel aos livros de Frank Herbert.
A temporada de Duna: A Profecia termina com dois episódios que podem ser decisivos para o destino da série. Até agora, a produção tem cumprido com o necessário para manter a atenção do público, mas falta algo para torná-la memorável. O grande potencial da obra está no material original e na riqueza do universo, desde que tenham o tempo e espaço adequados para isso.
Duna: A Profecia está disponível na Max.