Quase dois anos depois e Game of Thrones finalmente chegou! A maior série da HBO – e uma das maiores de toda a história da TV americana, sem exagero – retorna para sua oitava e última temporada, em 6 episódios que prometem a culminação de uma história épica e colossal. Os showrunners D.B. Weiss e David Benioff nunca tiveram tanta pressão, e com a estreia do episódio, batizado de “Winterfell”, a dupla começa o jogo com muita calma.
É uma decisão compreensível, mas curiosa. Afinal, em um dos primeiros momentos do episódio, vemos Jon Snow e Daenerys Targaryen chegando à Winterfell com um exército de milhares e dois dragões vivos, e as reuniões calorosas entre Jon, Bran e Sansa são rapidamente interrompidas com um “não há tempo” de um dos protagonistas. Ainda assim, o roteiro de Dave Hill cumpre a função de estabelecer o tabuleiro e seus jogadores. A maior parte dos eventos se desenrola no Norte e oferece boas relações entre personagens – algo que as temporadas passadas têm acertado.
Especificamente, tudo parece girar em torno da recepção de Winterfell à Daenerys Targaryen. A Mãe dos Dragões não é aceita imediatamente como uma grande salvadora, e gera cenas interessantes onde Sansa e Jon têm conflitos sobre essa lealdade – e que se exacerbam na ótima cena em que Samwell Tarly descobre sobre uma de suas ações. Parece que a dificuldade de se aceitar ajuda de fora será um tema forte nessa primeira etapa da série, mas se há uma aceitação que definitivamente valeu a pena foi aquela envolvendo Jon e Arya. Os dois não se encontravam desde um dos primeiros episódios da primeira temporada, e a cena de sua aguardada reunião definitivamente é o centro emocional dessa primeira hora, e tanto Maisie Williams quanto Kit Harington entregam seu melhor.
Ainda sobre Winterfell, a calmaria de Weiss e Benioff acaba se manifestando de forma negativa em uma sequência que deveria ter sido muito mais: o voo de Jon e Daenerys nos dragões. Além de narrativamente desnecessária (sentindo-se praticamente como uma enrolação para eventos mais relevantes), a execução de David Nutter e os efeitos visuais deixam a desejar, com EmiIia Clarke e Harington destacando-se de forma artificial das criações digitais dos dragões. Não só pelo CGI, é uma cena que carece da emoção ou da empolgação de ambos os personagens em realizar um voo tão audacioso – apenas o compositor Ramin Djawadi parece estar tentando evocar grandiosidade, que está em falta nos quesitos cinematográficos. Basta lembrar do voo de Jake e Neytiri em Avatar para ter uma referência de como esse tipo de cena pode funcionar.
Longe do Norte, “Winterfell” promete arcos interessantes para os jogadores de Porto Real. Lena Headey entrega mais discursos sagazes para sua Cersei Lannister, e sua relação com o imprevisível Euron Greyjoy vai avançando-se para algo mais íntimo. Mas o destaque fica mesmo para Bronn, que recebe uma missão com grande dilema de Cersei: matar Jaime e Tyrion Lannister, dois personagens que já foram grandes aliados do grande Sir da Água Negra. Certamente é uma linha narrativa que deve render questionamentos interessantes para um personagem que nunca foi conhecido por sua nobreza, e fico ansioso para ver como os roteiristas lidarão com isso.
Ainda longe de Winterfell, o episódio foi estranhamento acelerado em uma das pontas soltas da temporada passada: Theon e Yara Greyjoy. Sem perder tempo algum, vemos o resgate de Yara em uma questão de segundos, e a reação desta ao ver seu irmão – que se acovardou no momento de sua captura – é econômico na medida certa, mas acaba diminuindo o peso da ação, tão bem estabelecida no final da temporada passada. Mais uma peça se encaixando no tabuleiro, com Theon se dirigindo para Winterfell.
Outro desfecho que também não perde tempo algum é a revelação de que Jon Snow é na realidade Aegon Targaryen. É bom ver as rodas em movimento, e a cena em questão serve para que mais conflito se plante entre Daenerys e o restante dos nortistas. Mas o talvez o mais interessante deles seja explorado na próxima semana, já que Jaime Lannister também chegou em Winterfell, e é recepcionado justamente por Bran Stark; o garoto que ele mesmo aleijou na primeira temporada.
É um começo compreensivelmente morno para a oitava temporada de Game of Thrones, que passa toda a duração de “Winterfell” estabelecendo personagens e resolvendo consequências de sua temporada passada. Só resta torcer para que a narrativa se direcione, e que a direção recupere o brilho que colocou a série da HBO em um patamar grandioso.