Produções que se inspiram em figuras reais costumam despertar curiosidade sobre o quanto da trama corresponde aos registros históricos. Ao mesmo tempo, esses relatos visuais precisam cativar o público, o que muitas vezes leva a adaptações, simplificações e até a criação de novos personagens para amarrar a narrativa e garantir fluidez.
Tais escolhas criativas podem incomodar quem conhece bem o período retratado, mas também despertam interesse em discutir o que foi mantido próximo à realidade e o que se distanciou do que os historiadores documentam. A série A Imperatriz, que retrata a vida de Elisabeth Amalie Eugenie, imperatriz da Áustria, não foge desses acontecimentos. Aqui vai uma lista de 5 diferenças entre a série e os fatos históricos.
1. A condessa que nunca existiu
A partir da 2ª temporada de A Imperatriz, o público acompanha a trajetória de uma suposta condessa que circula pela corte com intenções duvidosas. Embora seu papel seja fundamental para expor tensões internas, não há registro histórico da existência dessa figura. A personagem, apesar de fictícia, ajudou a mostrar o clima de incerteza da época e a aproximação do poder imperial com o povo.
Essa criação original serviu de artifício narrativo, apresentando um contraponto à protagonista, oferecendo uma aliada improvável e expandindo o olhar sobre as pressões que envolviam a monarquia. Apesar da falta de correspondência com documentos da época, a personagem cumpriu sua função dramática.
2. A escolha de Charlotte entre pretendentes
A série retrata a princesa Charlotte dividida entre um rei estrangeiro e outro pretendente mais próximo ao império, levando-a a optar pelo segundo após hesitações. Porém, relatos históricos apontam que Charlotte recusou outras propostas antes mesmo de conhecer seu futuro marido, afastando assim a ideia de um dilema romântico entre duas cortes rivais.
Ao alterar a linha do tempo desse casamento, a produção buscou tornar a narrativa mais envolvente. Ao invés de uma decisão já tomada antes de certos encontros, a trama mostra o processo de escolha, tornando a princesa uma figura mais ativa no desenrolar dos acontecimentos.
3. Motivações de Napoleão III na guerra
No enredo de A Imperatriz, o apoio de Napoleão III ao lado italiano parece ter razões simplificadas. No entanto, os acordos reais envolviam interesses bem mais complexos, incluindo a exigência de certos territórios em troca da aliança. Isso tornava as negociações entre França, Sardenha e Áustria muito mais delicadas do que a série deixa transparecer.
Ao suavizar as intenções de Napoleão, a produção perdeu a chance de explorar um contexto geopolítico mais amplo. Nos registros históricos, essa aliança não se restringia a um objetivo imediato, mas fazia parte de um tabuleiro político em que cada ação visava reforçar o domínio sobre regiões estratégicas. O resultado foi uma visão menos profunda da articulação internacional.
4. As razões de Alexander von Bach para se afastar do governo
Na série, o ministro Alexander von Bach abandona o conselho do imperador após descobrir um segredo relacionado a uma personagem inexistente na história. A saída de von Bach do governo, na realidade, teve origens vinculadas às consequências do conflito com forças estrangeiras, pois o desfecho da guerra afetou severamente as estruturas do império.
Ao atribuir a saída do ministro a um drama pessoal, a narrativa ignora o peso das derrotas militares e das transformações econômicas. Historicamente, decisões políticas desse porte resultavam do equilíbrio entre as pressões externas e internas, não de relações pessoais.
5. O controle de Sophie sobre a criança antes do nascimento
Na produção, a arquiduquesa Sophie toma medidas drásticas contra a protagonista no final da gravidez, enquanto os relatos históricos indicam que a interferência de Sophie na educação da primeira filha do casal aconteceu após o nascimento da criança, sem esperar o desenrolar da gestação. Essa sutil mudança distorce o momento da imposição de autoridade.
Esse ajuste no cronograma dos fatos serve para intensificar o conflito entre sogra e nora, dando um tom mais dramático ao relacionamento. Ao antecipar a interferência, a série reforça a impressão de uma opressão crescente, mas sacrifica a precisão histórica, criando um cenário mais hostil do que o registrado nas fontes documentais.
Ao fim, esses desvios históricos podem incomodar quem busca uma fidelidade absoluta aos registros, mas é preciso compreender que produções como A Imperatriz envolvem uma dose de licença poética para torná-las atraentes ao público. Embora esses ajustes afastem a obra da precisão documental, eles servem para conferir ritmo à narrativa e criar novos pontos de interesse.
A Imperatriz está disponível na Netflix.