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Riverdale | Crítica - 4ª Temporada - Episódio 1

Saia da frente, “Elite”, pois o maior “guilty-pleasure” da televisão atual está de volta. Mas antes que Riverdale possa retomar suas tramas mirabolantes, o primeiro episódio desta nova temporada decidiu dedicar-se inteiramente a escrever e lidar com a morte do pai de Archie, uma vez que o ator Luke Perry, infelizmente, faleceu durante o começo deste ano. 

A cada temporada que passa, continua sendo impressionante observar o quanto Riverdale consegue aumentar ainda mais o nível do absurdo de seu universo, protagonizado por adolescentes que estão sempre forçando os limites de sua caracterização colegial, para proporcionar tramas repletas de grandes reviravoltas e drásticas mudanças de dinâmica. O ritmo com que estas mudanças acontecem é tão acelerado, que se você pular uma temporada inteira da série, provavelmente não vai mais conseguir fazer sentido de onde está cada personagem. 

Como diz Jughead (Cole Sprouse) em mais um de seus (assombrosamente sérios) monólogos no começo do episódio, os terrores da “fazenda” já estão ficando para trás, e toda a loucura de “Gryphons and Gargoyles” (a versão extrapolada da série de Dungeons and Dragons) começa a ser vista como uma típica lenda suburbana. Se não está familiarizado com a série, eis o primeiro exemplo do quão rápido Riverdale é capaz de se desfazer de circunstâncias absurdas para dar lugar às novas histórias, sem muita preocupação com as consequências de um novo contexto além do que for absolutamente necessário. 

E com o gancho final da terceira temporada na cabeça, os fãs com certeza estarão ansiosos para descobrir como este novo ano se desenrolará. Podemos ter certeza de que um novo (ou mais de um) grande vilão deve surgir logo menos para tornar a vida dos protagonistas ainda mais emocionante, além dos típicos dramas de relacionamento que devem ganhar destaque novamente, mais cedo ou mais tarde. Mas, por enquanto, a série resolveu dar uma pausa nestas construções frenéticas para lidar com algo que vai além de sua produção, e o fez com o devido respeito e adequação. 

Logo no começo deste episódio, Archie atende seu telefone, e recebe a notícia de que seu pai foi vítima de um acidente em uma estrada fora de Riverdale. O acontecimento é repentino, claro, mas também é uma solução sutil para que os roteiristas não tirem proveito de qualquer tensão em cima da morte do personagem, deixando que o acidente aconteça fora das câmeras, e focando somente nas repercussões. E chega a ser curioso, inclusive, como em um episódio mais sério como este, Archer acaba não podendo recuperar o corpo de seu pai, pois não é maior de idade (algo que quase nunca impede a série de utilizar estes personagens como bem entende). 

Há uma bonita cena em que os jovens personagens estão sentados em roda, contando boas memórias sobre Fred. Felizmente, o personagem era tido como alguém honroso em meio a tantas loucuras dessa estranha cidade, e as homenagens feitas dentro da ficção podem, portanto, ressoar com o público que também estiver ciente da morte do ator. Também é válido notar como o elenco de Riverdale, cujo trabalho rotineiro é entregar mudanças de comportamento espalhafatosas e agir de forma completamente estranha para o que seria um adolescente comum, acaba dando conta de cenas mais pesadas e dramaticamente relevantes, com relativa competência (especialmente KJ Apa, que fica responsável por transmitir todo o sentimento de luto do episódio)

Entre homenagens e luto, este primeiro episódio fez o que precisava para poder continuar a série de forma responsável e narrativamente coesa, apesar dos pesares. A recepção preparada por Cheryl, o funeral de Fred e os últimos momentos com Archer relembrando seu pai são cenas distantes do tom típico de Riverdale, mas soam apropriadas a o que o episódio se propõe a fazer. E, apropriadamente, não temos sequer um gancho para o que está por vir na temporada, deixando que o capítulo se encerre apenas com a homenagem a Luke Perry. 

Mas semana que vem, as coisas devem voltar ao normal em Riverdale (se é que podemos chamar qualquer estado desta cidade de “normal), e embora Archer provavelmente ainda vá carregar o luto do pai ao longo de alguns episódios, os novos perigos que irão dominar a temporada devem surgir de forma impactante. Minha esperança, desde o começo da série, é que os roteiristas abracem, cada vez mais, os aspectos sobrenaturais que rondam este universo. Afinal, se é para abraçar o absurdo, a audácia é sempre recompensadora para o público, e embora Riverdale possa não ser sempre a série mais dramaticamente construtiva, ela continua entregando aquilo que sempre se propôs.  

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