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The 100 | Crítica - 6ª Temporada

Um novo planeta, novos personagens e novos mistérios são suficientes para tornar esta sexta temporada plenamente emocionante para os fãs de The 100, mas apesar das tentativas válidas de revigorar o universo da série, a inconsistência desta nova fase demonstra que chegou a hora de encerrar esta épica jornada de forma significativa, enquanto ainda é tempo. 

O volatilidade das circunstâncias em The 100 sempre foi o fator mais atraente da série. A maneira como cada temporada conseguia alterar drasticamente as dinâmicas entre seus personagens, bem como no mundo que os cercava, fazia com que cada passo dado pelos personagens fosse relevante para suas evoluções, e trazia novas possibilidades para serem exploradas com entusiasmo pelos roteiristas. De guerras tribais aos (diferentes) cenários pós-apocalípticos, as escolhas narrativas audaciosas sempre mantiveram a série interessante de se acompanhar. 

Mas o recomeço proposto por esta sexta temporada não trouxe a mesma audácia de antes, e inevitavelmente acabou-se tendo que encarar o grande problema que a série sempre se esforçou para evitar: o desgaste. De início, a temporada chegou a tentar explorar esta nova fase com ares de nostalgia e referências às temporadas passadas. Jordan (Shannon Kook), filho de Monty e Parker, gerava momentos interessantes ao falar sobre as histórias dos protagonistas com a visão distanciada de um espectador, enquanto Octavia (Marie Avgeropoulos) e seus “antigos” seguidores tiveram um bom tempo dedicado ao processo de reflexão sobre o período da “Bloodreina”. 

O novo contexto envolvendo a sociedade do Sanctum trouxe novas circunstâncias tão produtivas quanto em temporadas passadas, mas o cansaço e a resignação dos protagonistas acabou espelhando o estado da série em si, e enquanto os novos problemas foram surgindo e se agravando, já não se sentia mais o mesmo ímpeto e determinação que moviam a série com fervor, até aqui. Quatro elementos narrativos distintos dessa temporada se sobressaíram para torná-la mais equivocada do que poderia para sedimentar um novo caminho para a série, dois deles por terem sido convenientemente menos explorados do que deveriam, e os outros dois por terem sido meramente mal executados. 

Primeiro, sobre os mal executados. Ao apresentar novas circunstâncias, The 100 sempre encontrou a chance de brincar com cenários comuns à ficção científica e aprofundar seus debates sobre moralidade de forma relevante para a evolução dos personagens. Nesta temporada, tivemos a introdução do Sanctum, um sociedade de colonos espaciais regida por um grupo de líderes “imortais”. Os “Primes” sobreviveram a várias gerações por conta da tecnologia desenvolvida por Becca, que também sempre foi a responsável pela troca de Comandantes das tribos terrestres (Ponto para a consistência do universo). 

No entanto, a execução deste conceito de imortalidade foi pragmática, em seus melhores momentos, e preguiçosa, em seus piores. O comportamento destes personagens não foi tão deslumbrante ou intrigante quanto deveria ser, considerando o tempo que tiveram para evoluir seus pensamentos. Ao invés disso, cada Prime parece se comportar de acordo com a idade de seu hospedeiro atual, e demonstram ter poucos resquícios de uma consciência tão experiente quanto se esperaria. Em parte, poderia-se justificar esta abordagem dizendo que estes “imortais” acabam se conformando às suas próprias ilusões religiosas, mas isso não torna a execução menos desinteressante de acompanhar. 

O outro elemento de ficção científica que sofreu com uma execução desleixada foi a “batalha mental” entre Clarke (Eliza Taylor) e Josephine (Sara Thompson). Concedo que a reviravolta serviu para elevar a tensão desta temporada, mas as soluções encontradas para tal embate foram, cada vez mais, forçando o limite de uma plausibilidade envolvente. Seja com a representação visual da mente dividida de Clarke, ou as explicações pouco inspiradas sobre o funcionamento do processo de “hospedagem mental”, a série vem perdendo oportunidades de aprofundar melhor esta dinâmica tecnológica tão essencial para sua mitologia em geral. 

E então, dois outros pontos narrativos desta temporada soaram ignorados ou superficiais demais para não serem apenas preparações de terreno para tramas futuras. Primeiro, Dyoza, Octavia e a misteriosa dimensão temporal que foi deixada de lado em função dos conflitos em Sanctum. Era óbvio que este elemento seria retomado em algum momento, e o final da temporada comprovou tais intenções de deixar este mistério como parte da ansiedade para a próxima temporada.  

Mas se as interações mentais de Clarke perderam a chance de serem exploradas melhor, o que dizer dos dilemas de Maddie e suas conversas com o “Comandante do Mal” que foi inserido nesta mitologia? Durante toda a temporada, fiquei questionando se esta não seria uma trama que merecia melhor preparação e instigação, para então poder dominar a narrativa de uma futura temporada. No fim das contas, meu questionamento não estava tão distante das intenções dos roteiristas, que apesar de aproveitarem esta inserção mitológica para complicar e revirar os conflitos com os Primes, também estavam preparando um gancho para as próximas tramas. Uma proposta válida, porém mal construída e menos efetiva do que poderia. 

Visualmente, a temporada chegou a alcançar, em partes, o revigor que almejava, ao alterar moderadamente sua paleta de cores e seus cenários (Quer apresentar outro planeta, mas não tem orçamentos absurdos? Troque o filtro de cor). O isolamento de certos personagens entre o planeta e a nave que os trouxe também contribuiu para uma temporada com tramas mais objetivas. E as mortes que tivemos ao longo desta nova trama também soam como passos necessários para dar continuidade às evoluções principais, sem espaço para retomar núcleos narrativos exauridos. 

Mas The 100 parece estar cansando de se reinventar, tal qual Octavia, a personagem que sempre parecia não ter mais para onde ousadamente crescer, apenas para entregar ainda mais complexidade e atitudes impactantes na temporada seguinte. Depois de “Bloodreina”, Octavia finalmente encontrou seu teto narrativo, e precisou ser trazida de volta a mundanidade menos excitante. A série, por sua vez, também não apresenta mais os mesmos impulsos, apesar de entregar uma temporada condizente com os trajetos que está estabelecendo. 

Talvez seja melhor aproveitar o clima de auto-reflexão que permeou partes deste sexto ano, e realmente encerrar esta história com toda a empolgação e significado que ela merece. A sétima temporada está confirmada para ser a última, e por causa de sua duração maior, The 100 se encerrará em seu centésimo episódio. Poucas séries conseguem chegar a tal feito sem terem sido distorcidas ao longo do caminho. Torcemos, portanto, para que a série encontre seu melhor momento nesta última investida.

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