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The Crown | Crítica - 3ª Temporada

A mais forte candidata ao título de “melhor série da Netflix”, The Crown retorna para sua terceira temporada depois de um longo hiato, e procura manter sua preciosa atmosfera de grandeza com um novo elenco, além de algumas mudanças notáveis nas dinâmicas de seus personagens. 

As primeiras temporadas de The Crown foram aclamadas pela crítica, e renderam diversos elogios e prêmios para Claire Foy e Matt Smith, os intérpretes originais destas versões ficcionais da Rainha Elizabeth II e do Duque de Edimburgo. Sendo assim, era natural que houvesse um certo receio em relação a este retorno da série, com um elenco completamente alterado para que as representações sejam mais adequadas à idade dos personagens. Olivia Colman, premiada recentemente por seu trabalho no filme “A Favorita”, e Tobias Menzies assumem o casal principal, enquanto Helena Bonham-Carter brilha com o papel da princesa Margaret. 

Há um estranhamento inicial, onde o espectador se pega tentando encontrar os maneirismos e trejeitos do elenco anterior, nesta nova versão. Mas fazer tais comparações acaba sendo pouco produtivo, uma vez que o próprio roteiro retoma a trajetória de Elizabeth com uma perspectiva diferente do que era o foco durante as duas primeiras temporadas, e proporciona menos destaques para que Colman possa se colocar em paralelo com Foy. Esta sintonia, no entanto, pode ser percebida no retrato de Margaret, com o crescimento da personagem sendo perfeitamente reconhecível, e onde Bonham-Carter consegue produzir uma continuidade cativante com a interpretação anterior de Vanessa Kirby.

A nova temporada também acaba se distinguindo das anteriores por conta de seu tom mais pessimista e menos requintado. O primeiro episódio já se inicia aproveitando o clima de tensão da guerra fria, e o sentimento de paranóia que marcou a época. A apreensão gerada pelo período se estende pelo resto da temporada, que aborda diversas crises do Reino Unido de forma menos galante do que se via com as tramas envolvendo Winston Churchill, ou as resoluções de uma Elizabeth que vinha se firmando como uma líder admirável. 

Colman possui, essencialmente, um papel menos interessante em mãos, durante esta terceira temporada. A protagonista não está mais tão dividida pelo conflito que marcou o início de seu reinado, e nem passa pelas mesmas tensões em seu casamento que ganhavam destaque nos anos anteriores. Embora a escrita da série continue sendo afiada e engajante com seus diálogos pomposos, é evidente que esta temporada possui um material menos memorável para trabalhar em seus episódios. 

The Crown é uma série que, com certeza, é melhor aproveitada com um episódio de cada vez, ao invés de uma grande maratona. Cada roteiro episódico é construído com uma estrutura que busca produzir emoção independentemente, e a vistosa produção da série garante que cada capítulo possa ser encarado como um curto longa-metragem, com seus próprios temas e perspectivas. Porém, acompanhar os dilemas da rainha diante de um desastre natural, ou de uma greve que afeta a produção de energia do país, são tramas interessantes para uma estrutura episódica, mas não conseguem carregar o mesmo impacto dramático de outros eventos que são tão memoráveis para o público, quanto são pessoais para os personagens. 

Portanto, não chega a ser uma surpresa notar que os focos dados aos filhos de Elizabeth, Anne e Charles, agora crescidos, soam revigorantes para a narrativa geral. Ambos acaba não aparecendo no começo da temporada, mas quando são introduzidos, estabelecem-se como personagens importantes e dignos de seu espaço dentro da dinâmica desta família. Anne (Erin Doherty) traz uma personalidade menos acomodada que corrobora a passagem de tempo da série, e Charles, por sua vez, assume o conflito que antes era protagonizado por sua mãe, e sinaliza que poderá assumir boa parte do foco, em temporadas futuras.

The Crown também continua sendo uma produção mesmerizante, por conta de seus visuais chamativos e de seu trabalho de escala. Há todo momento, somos lembrados do contexto em que estes personagens estão inseridos, indo muito além de diálogos em salas super decoradas. É esta escala que torna as tramas da série, tão envolventes, onde a família real é tratada como “a família mais importante da Terra”, e qualquer equívoco ou frustração ganha proporções únicas. A trilha também merece destaque, ao complementar esta proposta com tanta presença quanto os majestosos cenários de cada sequência. 

Mas enquanto se assiste a esta temporada, é difícil pensar que qualquer espectador, uma vez familiarizado com os eventos que ainda estão por vir, não ficaria apenas ansioso pela próximo ano. Fica claro que, sem o drama de relacionamento entre o casal principal em evidência, as tramas pessoais destes personagens acabaram sendo um tanto extrapoladas para efeito dramático, e denigrem a constante discussão da série sobre a preservação da imagem da família real, mais do que contribuem para sua complexidade em um mundo moderno. Este trabalho de humanização destas figuras verídicas é delicado, e foi justamente o seu equilíbrio que tornou o começo da série tão chamativo, enquanto não deixava de ser reverente. 

O quarto ano já foi encomendado, e os responsáveis pela série já anunciaram que irão abordar capítulos bem conhecidos da história britânica recente, durante a próxima leva de episódios. Começando pela entrada de Margaret Thatcher, que deve trazer de volta o peso histórico do lado político de The Crown, tal qual acompanhamos com Winston Churchill no primeiro ano. E se o que a série precisa, é de uma trama tão impactante para o público, quanto é para os personagens em si, a história da princesa Diana pode ser o suficiente para que a série encontre um novo ápice em sua narrativa. 

De forma semelhante ao que se sente com um “segundo capítulo” de uma trilogia, este retorno de The Crown não conseguiu recriar a mesma memorabilidade do início, mas nem longe desperdiça o que foi construído até aqui, e prepara seus personagens para um desenvolvimento repleto de potencial. Os momentos finais desta temporada proporcionam o espaço perfeito para que Olivia Colman possa explorar os conflitos de sua personagem, tal qual deveria ter sido feito anteriormente. Mas, ao menos, isso também pode indicar que os roteiristas da série estavam apenas se preparando, e preparando-a, para o que ainda está por vir.  

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