“O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás”. O primeiro volume dos sete dentro da série A Torre Negra, de Stephen King, foi publicado em 1982, quando o atual soberano da literatura de horror tinha apenas 35 anos.
“O Pistoleiro” é um curto conto de fantasia sobre um herói mítico dos faroestes andando por um mundo semi-devastado em busca da torre do título, e perseguindo o tal Homem de Preto, a fim restaurar seu universo à antiga glória. Considerada pelo próprio King como sua grande obra-prima, a série de sete livros foi concluída só em 2004, com a auto-intitulada A Torre Negra, e seguida em 2012 por uma nova história passada entre os volumes quatro e cinco da cronologia original.
Em entrevista para o site da Entertainment Weekly, King insiste que qualquer adaptação da sua história monumental deve começar exatamente com a mesma frase que abre O Pistoleiro, e que também serve como abertura para o nosso artigo. A perseguição entre o Pistoleiro, inicialmente imaginado por King como uma variação dos personagens de Clint Eastwood nos faroestes de Sérgio Leone, e o Homem de Preto, que mais tarde apareceria em vários outros trabalhos de King usando outros nomes e disfarces, conectando boa parte de seus livros um com o outro, é o coração de A Torre Negra, e a narrativa gigantesca que decorre dela, englobando questões raciais, psicológicas, sociais e emocionais em um só todo, é uma obra difícil de se adaptar para qualquer mídia.
O roteirista Akiva Goldsman, vencedor do Oscar por Uma Mente Brilhante e responsável por Eu Sou a Lenda e Eu, Robô, começou a desenhar um roteiro em 2010, com a expectativa que seu parceiro de Uma Mente Brilhante, Ron Howard, fosse dirigir a adaptação. King gostou tanto do trabalho de Goldman que uma boa parte do roteiro do nova-iorquino ainda é a base para o novo projeto de adaptação de A Torre Negra, dessa vez a ser comandado por Nikolaj Arcel, de O Amante da Rainha.
Os planos iniciais de Howard em 2010 incluíam uma trilogia de filmes e uma série de TV, que “taparia” os buracos que as adaptações cinematográficas seriam incapazes de cobrir, como o passado atribulado de Roland (verdadeiro nome do Pistoleito). Na época, o ator espanhol Javier Bardem, Oscar por Onde os Fracos Não Tem Vez, estava envolvido para estrelar como Roland, mas King e Arcel foram para um outro (e excitante) caminho com a sua nova escolha: Idris Elba, mais em alta do que nunca por Beasts of No Nation e Luther, vai ser o nosso justiceiro de faroeste, uma escolha ousada que deixou muita gente surpresa.
King confessa ser fã da escolha. “Ele é um excelente ator, um dos melhores trabalhando no momento”, declarou a EW. “Para mim o personagem ainda é o personagem. É quase como um justiceiro dos filmes de Sergio Leone, ‘o homem sem nome’. Ele pode ser branco ou negro, não faz diferença para mim. E eu acho que abre possibilidades muito interessantes para a sua história de origem”.
O diretor Arcel reconhece que no material original a dinâmica entre Roland e uma de suas companheiras de jornada, a deficiente física negra e ativista Susannah, tem muito a ver com raça, mas prometeu aos fãs que vai lidar com esse elemento da tensão étnica em torno da história de forma similar a usada por King nos livros, com pequenos ajustes para trazer perspectivas novas aos personagens.
Para interpretar o algoz de Roland nessa jornada, a escolha de elenco foi mais acertada ainda: Matthew McConaughey. Visto por King como uma entidade muito mais que o um personagem, um “metamorfo” que já apareceu em várias formas em sua extensa lista de livros e contos, o Homem de Preto do filme será um pouco mais definido que na série de livros, especialmente dado o tempo menor para trazê-lo gradualmente para a história. Para o diretor Arcel, no entanto, a qualidade definidora de McConaughey para o papel é justamente sua capacidade camaleônica de se adaptar a vários tons e estilos de personagens.
Elba brincou no Twiiter com a relação entre os dois personagens: “.@McConaughey você tem um novo seguidor. #FilmeTorreNegra”
.@McConaughey you have one new follower. #DarkTowerMovie https://t.co/5fSKF02C7I
— Idris Elba (@idriselba) March 1, 2016
McConaughey prontamente respondeu: “.@idriselba venha me pegar, aguardo ansiosamente por isso. #FilmeTorreNegra”
.@idriselba come and get me, I look forward to it. #DarkTowerMovie https://t.co/4gxqm2GPo3
— Matthew McConaughey (@McConaughey) March 1, 2016
Nós também aguardamos, Matthew. O novo projeto só começou a tomar forma: King garante que por enquanto está desenvolvendo só um filme com Arcel, e que o sucesso ou fracasso desse lançamento pode definir o futuro das seguintes adaptações da série.
O apelo dos filmes de faroeste nos últimos anos tem sido notável, e ter os premiados Elba e McConaughey à frente do elenco parece ser uma ideia excepcional que pode trazer para A Torre Negra o prestígio crítico necessário para convencer os estúdios a continuar nos mostrando a história de Roland e companhia, mesmo que os retornos financeiros não sejam exatamente fabulosos.
Quase 35 anos depois de O Pistoleiro, quem diria que A Torre Negra ainda entraria na lista de histórias de fantasia que vão permanecer no imaginário popular eternamente, junto com O Senhor dos Anéis, Crônicas de Nárnia, Harry Potter e As Crônicas de Gelo e Fogo? O próprio King, que descreveu sua ambição com a série como “escrever o mais longo romance popularesco da história”, certamente não apostaria suas fichas nisso – mas, como a história já mostrou várias vezes, o grande autor americano tem uma opinião um pouco humilde demais sobre si mesmo.