A mais recente estratégia comercial da Disney para os cinemas consiste em seus remakes live-actions de clássicos animados. Versões com atores de carne e osso para recontar, reinventar ou até mesmo continuar filmes de animação das mais diferentes eras do estúdio, claramente navegando na nostalgia do público que cresceu com essas histórias. Talvez não existe um filme maior do que O Rei Leão para adotar essa estratégia, e o hype dos fãs e as previsões de bilheteria apontam para um grande sucesso comercial – ainda que a recepção esteja sendo dividida.
Mas o filme de Jon Favreau gerou uma discussão interessante durante seu período de divulgação. Após o primeiro trailer teaser ser lançado e vermos as imagens em CGI pela primeira vez, o resultado despertou a dúvida: O Rei Leão é um live-action? O remake anterior de Favreau, Mogli: O Menino Lobo, é considerado um live-action simplesmente por termos gravação com atores em um set, e pela presença do ator Neel Stethi todo o tempo. Já O Rei Leão realmente não tem nenhum tipo de captação em estúdio ou atores de carne e osso. É inteiramente digital.
O Rei Leão é um grande filme de animação, na realidade. É o filme de animação mais fotorrealista e caro que Hollywood viu em eras, e por não conter nenhum tipo de elemento real em sua gravação e captação, não pode ser considerado um remake live-action. É, simplesmente, um remake digital, e fico triste que esse tenha sido o caminho escolhido por Favreau, a Disney e todos os envolvidos com a gigantesca produção.
Nunca ignorem a captura de performance
Anteriormente, eu pessoalmente tinha a crença de que Favreau adotaria a técnica de captura de performance para o filme. É o mesmo processo usado para criar os personagens de Avatar, Piratas do Caribe, Star Wars e que foi popularizado pelo ator Andy Serkis na trilogia O Senhor dos Anéis, O Hobbit e a recente versão de O Planeta dos Macacos. Ela consiste em usar pontos de referência nos rostos dos atores para que suas performances possam ser preservadas na criação digital almejada, seja ela qual for – até mesmo Ryan Reynolds usou pontos para criar o protagonista de Detetive Pikachu, por exemplo.
E, em minha opinião, é justamente isso que destrói O Rei Leão. A maior crítica que o filme de Jon Favreau recebeu é que os animais simplesmente não trazem expressões, e isso é uma decisão estilística do filme em adotar um retrato fotorrealista, mas que também sofre pela ausência do motion capture. O elenco de estrelas de Donald Glover, Beyoncé Knowles-Carter e Seth Rogen está simplesmente dublando todas as falas, e a renderização digital para as falas de todos os leões e animais parece vazia; justamente por tentar capturar um certo realismo. Oras, os animais já falam, qual a necessidade de ser 100% preso à realidade?
Um bom exemplo que deveria ser seguido, ao menos no nível de tecnologia, é o Mogli: Entre Dois Mundos que o próprio Serkis dirigiu para a Warner Bros, e posteriormente vendido para a Netflix. Por mais que o filme divida opiniões e seja bem mais sombrio do que o da Disney, nós podemos ver os rostos de Benedict Cumberbatch, Christian Bale e Cate Blanchett mesclados às feições animais – e não me refiro a um resultado tenebroso como aquele visto no trailer da adaptação de Cats, longe disso. Aqui temos um trabalho exemplar de como se manter uma performance humana em uma criação digital, mas que também exige um passo adentro da estilização.
O Rei Leão é apenas um remake digital bem caro, não podendo ser considerado live-action, mas sim fotorrealista. É uma pena que Jon Favreau tenha ido pelo caminho do realismo. Afinal, se leões podem falar e cantar, por que não podem ter expressões?