ATENÇÃO: SPOILERS A SEGUIR
Quando foi anunciado que a sétima temporada de American Horror Story se passaria pouco depois das eleições americanas de 2016, que colocaram Donald Trump na Casa Branca, foi difícil escapar da sensação que duas coisas poderiam acontecer: a série poderia entregar uma de suas melhores temporadas até hoje, ou poderia se tornar o maior desastre que Ryan Murphy já ousou colocar em tela. Durante os 47 minutos de “Election Night”, episódio de estreia que foi ao ar à meia-noite dessa quinta-feira (07) na FX, foi preciso considerar seriamente que a segunda opção prevaleceu.
Murphy e seu parceiro, Brad Falchuk, não são maus contadores de histórias. Especialmente no âmbito visual, eles costumam traduzir as sensações e temas de uma narrativa com síntese e iconoclastia impressionantes. O problema dos dois, e talvez especificamente de Murphy, é que muitas vezes essa sede por abraçar mensagens, gêneros e tons contrastantes no que claramente pretende ser uma obra de glorioso impacto pop vem sem a diligência ou paciência de trabalhar propriamente cada um desses elementos, e a forma como eles interagem.
“Election Night” é parte melodrama, na forma como mostra o casamento de Ally (Sarah Paulson) e Ivy (Alison Pill) desmoronando aos poucos sob a pressão de um ambiente político que, metafórica ou literalmente, causa pressão sem precedentes na relação; parte sátira, nas observações que faz dos medos e paranoias de democratas, e das infantilidades e isolacionismos mesquinhos dos republicanos; parte discurso político, nas muitas reentrâncias, detalhes e ramificações que encontra na eleição de Trump e seus efeitos em cada um dos personagens centrais; e parte pastiche de terror, com seus assassinos mascarados, cultos abusivos e palhaços macabros.
Ao tentar fazer tudo isso em 47 minutos, enquanto introduz uma história e os jogadores no tabuleiro dela, “Election Night” é também um tremendo desastre. Enquanto cada uma das partes e gêneros explorados por Murphy e Falchuk, que coassinam o roteiro, levanta questões e detalhes interessantes, é impossível não especular que, nas mãos de outro escritor, Cult poderia resultar em riffs mais espertos dos clichês de terror que apresenta, ou encarnações mais propriamente complexas dos elementos dramáticos e satíricos que levanta.
A direção de Bradley Buecker não ajuda. Velho colaborador de Murphy, o diretor parece pouco inspirado aqui, criando imagens ordinárias que falham em trazer qualquer coerência visual a um roteiro que, sozinho, claramente não tem coerência nenhuma. Talvez, se o próprio Murphy tivesse assumido a direção, “Election Night” seria capaz de entreter de forma mais diligente, e as falhas de sua construção fossem mais perdoáveis. Como de costume nas piores temporadas de American Horror Story (lembram-se de Coven?), o peso de criar uma obra de verdade a partir dos cacos de vidro deixados por Murphy no caminho recai sobre os atores.
Sorte a dele, então, que Sarah Paulson e Evan Peters são forças da natureza. Ela, na pele da neurótica Ally, cheia de fobias e invariavelmente afetada com a eleição de Trump e sua ameaça concreta e abstrata ao seu modo de vida, combina a sátira dos piores impulsos liberais com a muito palpável honestidade e validade de seus medos e sua jornada. Ele, como o instantaneamente icônico Kai, encontra um equilíbrio perfeito entre o carisma explosivo e impulsivo de um futuro líder de culto, e o aspecto verdadeiramente aterrorizante de sua personalidade abusiva. Peters é tão convincente passando Cheetos no rosto para ficar parecido com o ídolo Trump quanto é torturando a irmã com perguntas indiscretas – um vilão divertido e assustador ao mesmo tempo, combinação que nas mãos do ator tem toda a elegância que falta à série.
O melhor que se pode dizer sobre “Election Night”, no entanto, é que American Horror Story nunca foi muito boa em episódios de estreia. Mesmo as melhores temporadas da série tem pilotos que não traíam a profundidade dos temas e elaborações de gênero que Murphy planejava com cada uma delas, mas é impossível afastar a sensação de que Cult não tem muito mais esperando por quem for assisti-la do que um comentário político esperto, mas, em última instância, tão desesperadoramente frustrante e raso.