J.K. Rowling influenciou gerações inteiras com a saga Harry Potter. O mundo mágico criado pela autora britânica é um escapismo perfeito, que não apenas nos leva para um novo universo recheado pela magia, como traz de volta à nossa infância. Ao longo de sete livros e oito filmes acompanhamos o crescimento desse grupo de crianças, com uma ênfase maior no amadurecimento que na história como um todo. Apesar de a ameaça de Voldemort ser uma constante, o mais importante é a jornada desses personagens de forma mais íntima e todo o fascínio que isso traz consigo. Infelizmente, Animais Fantásticos abandona isso, a favor de uma bagunça pouco inspirada.
Sim, ainda são apresentadas novas facetas desse universo, mas falta aquele deslumbramento que só pode ser passada pela perspectiva de uma criança. Em Animais Fantásticos acompanhamos adultos, quase todos já acostumados com a magia e que não servem como médium entre o espectador e o mundo mágico. Mesmo Jacob se torna um personagem já mais comum em Os Crimes de Grindelwald. O que antes era quase uma experiência interativa, que nos fazia querer brincar de bruxo, nos imaginando nesse universo (independente da idade), agora nos deixa como meros espectadores, consumindo e não experimentando toda essa jornada, que poderia e deveria tornar a magia realidade.
O fim da inocência
Uma das causas desse grande problema é justamente a forma como J.K. trabalha com os personagens adultos, como ela os enxerga. Tanto em Animais Fantasticos, quanto em Harry Potter, vemos indivíduos já formados, estabelecidos. Suas personalidades são praticamente imutáveis, eles não mudam e sim nossa percepção sobre eles. Bom exemplo disso é Snape, que passamos a enxergar de maneira diferente nos últimos livros, ou até mesmo Dumbledore, que nos leva em uma montanha russa de emoções. Eles em si, contudo, não mudaram, apenas descobrimos detalhes que antes não sabíamos.
Isso não era um problema em Harry Potter, já que os adultos faziam parte dos personagens de apoio, eles serviam para influenciar o amadurecimento, a evolução das crianças, como o próprio Potter, Hermione, Rony, Draco, etc. Não por acaso Rowling terminou a saga principal com os filhos desses indo para Hogwarts: o foco estava nas crianças e a infância e juventude eram essenciais para o funcionamento pleno da história. Aliás, se a autora simplesmente quisesse contar sobre a queda de Voldemort, ela facilmente concluir a história em uma trilogia de livros, no máximo, e nao em sete obras.
Já em Animais Fantásticos é descartado o amadurecimento substancial que acompanhamos em Harry Potter. Embora Newt conte com aquela inocência típica dos jovens, ele já é um homem “feito” e o mesmo vale para os outros personagens desses novos filmes. Ele, junto do restante dos indivíduos que acompanhamos, pode aprender coisas novas, mudar de lado, criar novas alianças, mas sua essência permanece a mesma, o que basicamente faz toda a trama seguir adiante artificialmente, jamais estabelecendo aquele vínculo com o espectador, que passa a se identificar com um ou mais personagens. A tentativa de criar algo mais adulto e grandioso anula um dos aspectos mais importantes de toda e qualquer história, especialmente quando falamos da fantasia: a imersão.
Falta de imersão
Com isso, a cada novo deslumbrante cenário, criatura, ou magia, não nos pegamos no lugar dos personagens, todos – fora e dentro da tela – maravilhados com o que vemos. Meramente, como já dito antes, somos reduzidos a espectadores externos. Toda a magia não acontece, o escapismo desaparece e nos vemos diante do triste reconhecimento se estarmos à frente de computação gráfica, pura e simplesmente. Não há vida ali, apenas uma história sem alma, que jamais nos faz esquecer do mundo real.
Dito isso, enquanto J.K. Rowling não entender que o que realmente importa é toda a construção do universo e dos personagens, e não a história principal em si, jamais ela conseguirá nos fascinar como fez em Harry Potter. A ascensão e queda de Grindelwald deveria servir como catalisador da evolução de Newt e todos os que vemos à sua volta e não o contrário. O que vimos nesses dois primeiros filmes do spin-off, no entanto, foge disso e gera nada mais que apatia no espectador, enquanto meramente observamos esse mundo mágico. Na realidade deveríamos estar experimentando, vivendo esse universo, da mesma forma que fizemos ao longo dos sete livros e oito filmes do bruxinho mais famoso do mundo.