Coringa não é o primeiro filme de vilão a ganhar as telas do cinema, tampouco de adaptações de quadrinhos de Marvel ou DC. Afinal, tivemos resultados variados com filmes como Venom e Mulher-Gato, mas ambos escambavam para o terreno do anti-herói, enquanto a obra de Todd Phillips com Joaquin Phoenix não esconde ou foge da moralidade de seu protagonista. Agora fica a pergunta: será que a Marvel Studios poderia fazer o mesmo? Acreditamos que sim, e o estúdio nem precisaria se esforçar tanto assim.
Aliás, é preciso reforçar que o cinema de quadrinhos é feito de tendências. A Marvel fez Os Vingadores, a DC logo correu para lançar seu Liga da Justiça, assim como Guardiões da Galáxia inspirou Esquadrão Suicida. De forma similar, a DC estourou com Mulher-Maravilha, o que certamente acelerou a produção de Capitã Marvel no MCU, então as duas estão constantemente de olho no progresso mútuo. Coringa é uma carta inédita da DC, e resta ver se a Marvel é capaz de reagir.
Para achar a resposta perfeita, precisamos voltar alguns anos do tempo, antes da Fox ser comprada pela Disney em um acordo bilionário. Quando o estúdio da raposa ainda desenvolvia seus próprios projetos baseados na vasta biblioteca dos X-Men, um deles era um filme solo do Doutor Destino, que tem roteiro escrito pelo premiado Noah Hawley (Fargo, Legion) e estava em desenvolvimento antes de toda produção do estúdio literalmente parar – a franquia X-Men termina em Fênix Negra e, se realmente for lançado, o amaldiçoado Novos Mutantes.
Convencendo Kevin Feige
De acordo com entrevistas com Hawley, o projeto não está inteiramente morto, e negociações podem acontecer. Digo isso porque diversas produções da Fox com a Marvel foram interrompidas com a entrada da Disney, visto que Kevin Feige assumirá o controle criativo supremo nesse departamento. Isso não significa que tudo irá para o lixo, afinal o chefão do MCU pode reaproveitar algum material, visto que o estúdio desenvolvia também filmes sobre Gambit, Homem Múltiplo e, talvez mais importante, um longa sobre a X-Force para continuar a saga de Deadpool nos cinemas. Mas uma coisa é certa: não se joga roteiro de alguém como Noah Hawley no lixo.
Hawley afirmou este ano que chegou a ter reuniões com Feige sobre seu roteiro do Doutor Destino, e que algumas ainda iriam acontecer. Nenhum outro criador ou roteirista comentou esse tipo de coisa sobre outro projeto (como Gambit, que definitivamente deve estar morto), o que dá uma ponta de esperança para que o longa seja de fato feito.
“Eu me sentei com o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, recentemente e disse que eu me vejo como uma espécie de departamento de pesquisa da Marvel. Eu sei que o gênero pode fazer todas essas coisas incríveis que o Universo Cinematográfico da Marvel está fazendo, mas meu sentimento é: o que mais podemos fazer com isso? Podemos torná-lo surreal? Podemos fazer um musical? Não como um truque, mas com todas essas técnicas que te colocam na experiência subjetiva desses personagens”, disse Hawley ao The Hollywood Reporter este ano, durante a divulgação da temporada final de Legion.
Um filme bem diferente
E como seria esse filme do Doutor Destino? É uma premissa muito, muito interessante. Nela, Victor Von Doom usaria seus recursos para isolar a Latvéria do restante do mundo, cobrindo-a com um domo gigante (no melhor estilo Stephen King) e bloqueando qualquer interferência do mundo exterior. Toda a história seria contada do ponto de vista de uma jornalista que é chamada por Doom para cobrir a situação, e servir como a “porta-voz” do vilão para o restante do mundo.
“Eu escrevi esse roteiro do Doutor Destino como uma história de anti-herói que eu gosto bastante, e ainda estamos conversando sobre fazê-lo. Eu estou tentando finalizar esse filme que fiz [Lucy in the Sky], tive a última temporada de Legion e Fargo está voltando… Mas para melhor ou pior, essas são as histórias que queremos ouvir agora. Acho que podemos enfiar a cabeça na areia e pensar, ‘É uma pena para nossa cultura, porque eles são simplistas’. Algumas pessoas dizem isso. Eu não enxergo dessa forma. Eu acho que elas são histórias de moralidade em uma escala maior, e é melhor fazer parte dessa conversa do que fingir que ela não está acontecendo”, complementa Hawley ao THR.
Se a Marvel Studios realmente quiser entrar no jogo que Coringa vai abrir, esse roteiro do Doutor Destino parece a cartada certeira. Kevin Feige, saia da zona de conforto e deixe o genial Noah Hawley fazer o que quiser. O MCU precisa disso.