Apple TV+

Apple e Amazon gastam bilhões em lançamentos nos cinemas; mas por quê?

Companhias mudam de estratégia em relação ao streaming

Por um tempo, parecia que todo estúdio queria ter sua própria plataforma de streaming. Agora, no entanto, a Amazon e a Apple estão programando diversos lançamentos nos cinemas. Evidente que tudo chegará ao Apple TV+ e ao Prime Video. No entanto, a Apple está planejando investir US$ 1 bilhão por ano para fazer filmes que serão exibidos exclusivamente nos cinemas. O que mudou?

A notícia vem meses após o compromisso semelhante da Amazon de colocar de 12 a 15 novos filmes nos cinemas anualmente. Será que os jogadores mais novos de Hollywood realmente se importam com a tela grande?

Conforme a Variety, para a Apple e a Amazon, a medida não é exatamente uma tentativa benevolente de ajudar os cinemas sitiados e sim uma forma de promover seus respectivos serviços de streaming.

Idealmente, quanto mais atenção um filme recebe na tela grande, mais as pessoas vão querer ver o que mais está disponível online, convertendo, portanto consumidores para o Apple TV+ e o Prime Video.

Também ajuda a atrair os melhores talentos, que não querem que seus trabalhos se limitem ao streaming.

“Há uma vantagem para as companhias de streaming colocarem filmes nos cinemas”, diz Eric Will, analista da indústria de mídia e entretenimento da B. Riley Securities. “Você pode obter receita incremental de outros lugares em comparação a ir direto para o streaming.”

O risco cinematográfico

Há também um risco inerente. Apenas colocar um filme nos cinemas em um momento de poucos lançamentos grandes não é o suficiente. O público se tornou mais exigente, não necessariamente em busca de qualidade, mas de um atrativo específico.

Em toda a indústria cinematográfica, as cadeias de cinema estão lutando para se recuperar da pandemia, já que as vendas de ingressos permanecem em queda de cerca de 35% em relação ao pré-COVID.

Os expositores apontaram a falta de produto como a razão por trás da queda no comparecimento.

“É muito encorajador”, diz Greg Marcus, CEO da Marcus Theatres, o quarto maior circuito dos EUA. “Acreditamos na importância do cinema em um ecossistema de entretenimento. O lançamento nos cinemas dá o tom e distingue o produto de uma forma que nada mais pode… com a janela de comprimento adequado para que o cliente seja incentivado a ir aos cinemas”, acrescenta.

O desejo da Apple e da Amazon de trabalhar com cinemas continua uma mudança abrupta da estratégia da era da pandemia, não apenas quando se trata de streaming, mas também de estúdios tradicionais.

Durante o período prolongado em que os cinemas estavam fechados ou operando com capacidade reduzida, Disney, Universal, Warner Bros. e outros tiveram tempo para experimentar planos de lançamento.

De Viúva Negra a Trolls 2, dezenas de títulos não foram vistos na tela grande, ou foram colocados em plataformas de streaming no mesmo dia de seu lançamento nos cinemas.

Os distribuidores, em sua maior parte, voltaram a alguma versão de uma janela cinematográfica exclusiva. Eles descobriram que isso leva a um maior sucesso financeiro para blockbusters de grande orçamento e indies, porque há mais dinheiro a ser ganho nos mercados auxiliares, como o home video.

Do streaming para as telonas

Pandemia ou não, a maioria dos filmes originais anteriores da Apple e da Amazon eram exclusivos ao streaming ou recebiam exibições limitadas nos cinemas.

No Ritmo do Coração, por exemplo, que acabou rendendo à Apple seu primeiro Oscar de melhor filme, foi exibido em cinemas selecionados, mas as bilheterias não foram divulgadas.

A Apple já fez uma parceria com a Paramount para lançar o novo filme de Martin Scorsese, Killers of the Flower Moon, estrelado por Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, nos cinemas em algum momento de 2023.

E a Amazon levará o drama esportivo Air, de Ben Affleck, para as telonas antes de ir para o Prime Video.

A Netflix, por outro lado, que tem mais assinantes do que seus rivais, quer principalmente que seus filmes preencham sua fila digital, não as salas de cinema. O CEO da Netflix, Ted Sarandos, deixou claro que a companhia está, em última análise, no negócio de aumentar sua base de assinantes, não vendendo ingressos de cinema.

Muitos dos filmes do calendário de lançamentos da Apple, incluindo o thriller de espionagem Argylle, do diretor Matthew Vaughn, com Henry Cavill, bem como o drama histórico de Ridley Scott, Napoleão, estrelado por Joaquin Phoenix como o conquistador francês, vêm com orçamentos gigantescos, com cineastas que priorizam a tela grande.

É cedo demais, ainda, para definir se essa manobra da Apple e Amazon vai vingar para as empresas, mas claramente isso beneficia os exibidores.

As bilheterias podem não fazer muita diferença para uma empresa tão grande quanto a Apple, mas os exibidores acreditam que a opção de assistir a esses filmes nos cinemas, pelo menos, lhes dá a chance de fazer parte da conversa cultural.

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