O novo trailer de Capitão América: Guerra Civil saiu hoje (10), para comoção geral das redes sociais. O que não sai da boca de todo mundo é a revelação maior dos 2m30s de trailer: o visual do Homem-Aranha de Tom Holland.
O herói chega com um uniforme mais texturizado (sem aquele aspecto de couro ou “pele de réptil”) do que os utilizados anteriormente por Tobey Maguire e Andrew Garfield nas franquias da Sony, e de cores mais claras, além de olhos que aparentemente se movem junto com a expressão de Peter Parker, que será interpretado por Tom Holland (O Impossível), que ainda não vimos oficialmente no papel.
A confirmação da participação do Homem-Aranha em Guerra Civil já havia vindo antes, é claro, e agora sabemos com certeza que ele está do mesmo lado que o personagem tomou nos quadrinhos, o do Homem de Ferro. Na série “Guerra Civil” de Mark Millar, o Aranha já é um herói conhecido e estabelecido, e durante os eventos do confronto entre os super-heróis é convencido por Tony Stark a revelar sua identidade em rede nacional para apoiar a iniciativa de controle dos super-heróis pelo governo, e de maior transparência nas ações dos vigilantes. Talvez isso não aconteça em Guerra Civil, o filme, visto que o Homem-Aranha é uma adição recente ao MCU, e não um herói conhecido pelo público do mundo ficcional construído pela Marvel Studios.
Há bem mais para ser visto no trailer, no entanto, do que só a minúscula revelação da participação do Aranha. Para começar, vemos pela primeira vez William Hurt de volta como Thaddeus Ross, o general que apareceu em O Incrível Hulk (aquele com o Edward Norton) e que dessa vez reúne os novos Vingadores ao redor de uma mesa para confrontá-los sobre a imensa quantidade de efeito colateral que muitas de suas lutas provocaram. Vemos pedaços da destruição de Nova York em Os Vingadores, da destruição de Washington em O Soldado Invernal, e da destruição de Sokovia em Era de Ultron. Sob os olhares incrédulos (e culpados) do Capitão, do Falcão, da Feiticeira Escarlate e da Viúva Negra, Ross logo é acompanhado por Tony Stark, que descreve seu apoio a qualquer forma de legislação ou controle que o governo americano procurar impor sobre os super-heróis.
Da forma como a Marvel Studios colocou as causas e efeitos que levam à Guerra Civil, portanto, o que acontece não é só um evento isolado, mas a junção absurda de acontecimentos e danos causados pela ação de heróis em todo o mundo. Não é difícil conceber como os cidadãos podem estar assustados, podem temer por suas vidas quando essas pessoas com habilidades extraordinárias estão por perto, e como o argumento pela regulação faz algum (mesmo que não muito) sentido. A trajetória de Stark permite com que a aliança do personagem com esse argumento soe natural, a culpa pesando sobre seu psicológico pela criação de Ultron e pela forma como se isentava de quaisquer responsabilidades pelos atos das armas que vendia antes de ser o Homem de Ferro.
Apesar da piadinha de Stark (meio-séria, meio-sarcástica), o tom do trailer de Guerra Civil é solene, e é bem provável que o tom do filme todo também seja assim. Após o anuncio de que o filme terá 2h26min de metragem, talvez essa perspectiva seja um pouco difícil de encarar, mas os irmãos Russo, que disseram recentemente que enxergam Guerra Civil como um “thriller psicológico”, construíram um clima muito específico para essa história – paranoia, perseguição, luta de ideias, violência. Em um contexto maior, é bem provável que Guerra Civil seja o mais sóbrio e emocionalmente ressonante filme da Marvel desde sempre.
E a evolução desse conflito de ideais que vemos se formar entre o Capitão e o Homem de Ferro para uma verdadeira guerra física vem gradualmente, com uma série de acontecimentos que vemos se desenrolar no trailer. Logo no comecinho vemos Bucky Barnes, o Soldado Invernal, sendo liberado de alguma prisão russa, e pouco depois assistimos a uma perseguição em que Barnes corre em uma motocicleta e é alcançado pelo Pantera Negra, a pé. Em seguida, revemos a cena em que Tony defende um tiro desferido por Barnes com uma das mãos metálicas da sua armadura. Por fim, Rhodes, o Máquina de Guerra, é abatido em pleno ar e Tony olha furioso para o horizonte, no que o trailer corta diretamente para um close de Sebastian Stan em seu traje de Soldado Invernal.
Não dá para saber se Rhodes realmente morre no filme (embora não seja inteiramente impossível, Tony já sobreviveu a quedas desse tipo por conta da proteção da armadura), mas talvez a forma como o amigo de Stark foi atingido seja a gota d’água, e a conexão entre o Capitão e o Soldado Invernal leve o Homem de Ferro a acumular desgosto pelos atos de Steve Rogers e declarar guerra. É o que acontece algumas cenas depois, em um diálogo que vê o Capitão dizendo: “Não tem que terminar numa luta, Tony”. A resposta de Stark? “Você acabou de começar uma guerra”.
Embora esses diálogos e cenas estejam pesadamente editados e talvez não representem uma sequência correta, a impressão que fica é que, apesar da rixa idealista que existe entre os dois heróis, são as reações de Tony, talvez em seu luto pelo amigo, e talvez graças ao seu célebre temperamento impulsivo, que fazem o conflito escalar em uma guerra direta. Isso não significa, absolutamente, que o filme vá tomar partidos e retratar um lado como errado e outro como certo, só significa que os irmãos Russo e os roteiristas tomaram cuidado o bastante para fundar esse conflito armado entre heróis em uma sólida base humana além de política, o que os quadrinhos só fizeram marginalmente.
Por fim, logo antes da comentadíssima aparição do Homem-Aranha, finalmente vemos os dois times se enfrentarem diretamente. Em um épico momento em que os heróis correm uns em direção aos outros prontos para a batalha, vemos claramente os dois lados: Capitão América, Soldado Invernal (provavelmente recuperado de sua lavagem cerebral em algum momento do filme), Feiticeira Escarlate, Gavião Arqueiro, Homem-Formiga e Falcão de um lado; Homem de Ferro, Viúva Negra, Máquina de Guerra, Pantera Negra e Visão do outro.
De certa forma, esse final provavelmente está aqui para nos assegurar que, mesmo que no fundo seja um filme tenso e psicologicamente doloroso, com questões sérias para levantar (o quanto a discussão da regularização dos heróis é diferente da nossa discussão muito real de o quanto controlar ou não a violência utilizada pela polícia?), Guerra Civil ainda é um filme da Marvel, e isso significa muita ação, e aquela pontinha de humor para temperar o prato.