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Crítica | Em Nada Será Como Antes, Globo faz aposta segura em melodrama batido

Comparada a minisséries como Justiça, Supermax e Verdades Secretas, Nada Será Como Antes é uma aposta segura da Globo no formato. Não há grandes arroubos narrativos ou visuais, a história segue um padrão consagrado, e o gênero (drama de história real) é bem conhecido da emissora.

Às vezes (raramente), a aposta mais segura é a mais certeira, e esse é um desses casos. Em Nada Será Com Antes, a Globo recruta o talento comprovado de Guel Arraes, que sabe como ninguém adaptar o popularesco brasileiro em formato dramático, e consegue o esperado: uma charmosa história de amor com brasilidade marcada mesmo que tenha um contexto e inspiração estrangeiras.

A referência aqui são séries de época como Mad Men (AMC) e Masters of Sex (Showtime), que mostraram momentos revolucionários da história americana em forma de dramas pungentes só ligeiramente baseados em fatos reais. Nada Será Como Antes quer fazer o mesmo com a criação da TV de massa no Brasil, e em certa escala, consegue.

Deslumbre visual

José Luiz Villamarim, que também mostrou habilidade em Justiça, dirige a nova minissérie, trazendo longas tomadas e fotografia polida e luminosa que se prestam bem à história. Para uma minissérie sobre a televisão, Nada Será Como Antes é bastante cinematográfica. No elenco, Débora Falabella mostra porque é uma das grandes atrizes brasileiras de sua geração, enquanto seus colegas ainda não acharam muito espaço para brilhar.

O problema com Nada Será Como Antes, no entanto, começa no roteiro. Arraes é um contador de histórias habilidoso, e a rapidamente transmitida história de amor entre Verônica Maia (Falabella) e Saulo Ribeiro (Murilo Benício), que leva indiretamente à criação da TV Guanabara, é charmosa e envolvente. O que ele não consegue vender, no entanto, é o clima de auto-congratulação da trama.

Escapando de polêmicas quanto à criação do formato e retratando Ribeiro como um idealista infalível, Nada Será Como Antes permite a todos falhas humanas, mas só parece perdoar as de seu protagonista. As duas personagens femininas destacadas da série tem poucos momentos de agência própria, servindo como pivô para que Ribeiro siga uma jornada já contada e recontada (com outros nomes de personagens) milhões de vezes no cinema e na TV.

Promessas

Vale notar que Nada Será Como Antes não mostrou todas as suas cartas na estreia. O capítulo cobre um enorme espaço de tempo para pouca metragem, e é largamente concentrado no processo do romance de Saulo e Verônica – pouco sobra para personagens secundários que podem abrilhantar, diversificar e até, porque não, redimir os erros da história.

Ainda é cedo para dizer para onde Nada Será Como Antes vai, mas analisar de onde ela começou parece sugerir que o destino não é nenhum lugar muito empolgante, apesar do alto valor de produção.

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